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Casa Branca apreensiva enquanto Mueller investiga em silêncio sobre Rússia

23/07/2017 12h57

Washington, 23 Jul 2017 (AFP) - Durante os dois últimos meses, o procurador especial independente americano Robert Mueller, designado para investigar o escândalo com a Rússia, trabalhou em silêncio no gabinete de um edifício do governo no centro de Washington.

Ainda sem falar uma palavra, este ex-diretor do FBI, de 72 anos, preocupa a Casa Branca, que fica somente oito quadras de seu escritório, e especialmente o presidente americano, Donald Trump, alvo de sua investigação.

Nomeado em meados de maio pelo secretário de Justiça para comandar a investigação federal sobre o possível conluio entre os colaboradores de Trump com os russos para influenciar a eleição presidencial de 2016, Mueller formou uma equipe com mais de 12 sólidos investigadores. Entre eles há um especialista em testemunhas da máfia, um em lavagem de dinheiro e um dos procuradores mais experientes do Supremo Tribunal.

Desde maio ele tem ouvido discretamente as testemunhas e compilado documentos para determinar se existem vínculos entre os principais assessores da campanha eleitoral de Trump, os membros de sua família e, possivelmente, o próprio presidente, além das interferências russas nas eleições de 2016.

Depois de desconsiderar essa investigação durante meses chamando de "ridícula" e alegando que continha "informações falsas", Trump deixou clara a sua preocupação neste semana ao criticar o Departamento de Justiça e seu próprio secretário de Justiça, Jeff Sessions, na interminável polêmica por suas eventuais relações com a Rússia.

O presidente apontou especialmente para Mueller, e mostrou a sua intenção de enfraquecer e desacreditar o homem que poderia destruí-lo na presidência. Segundo o jornal The New York Times, os advogados pessoais e os colaboradores de Trump começaram a verificar a vida dos investigadores recrutados por Mueller a fim de desacreditá-los.

- Imperturbável -Qualquer procurador encarregado da presidência precisa aguentar uma forte pressão política, explica Randall Samborn, procurador que participou da investigação voltada ao vice-presidente Dick Cheney na década de 2000.

"Mas, se tem alguém capaz de lidar com essa pressão, esse alguém é Mueller", afirma Samborn.

Um ex-fuzileiro naval ferido na guerra do Vietnã, Robert Mueller é também um veterano dos complicados processos judiciais, incluindo o do ex-presidente panamenho Manuel Noriega e do mafioso John Gotti.

Nomeado para comandar o FBI uma semana após os ataques de 11 de setembro de 2001, nos anos seguintes transformou a instituição em uma poderosa agência contra o terrorismo.

No que hoje é uma lendária defesa do Estado de direito, Mueller e Comey enfrentaram o presidente George W. Bush em 2004 por um programa secreto de vigilância doméstica ilegal. Diante do risco de serem demitidos, forçaram Bush a ajustar os seus planos.

Essa integridade foi o que deu o reconhecimento a Mueller tanto no setor republicano como no democrata durante anos.

"Não acredito que haja uma preocupação legítima sobre Bob Mueller", considerou Ken Starr, cuja investigação dos anos 1990 quase obriga Bill Clinton a deixar a Casa Branca.

"Mueller é um pilar das comunidades legais e políticas de Washington", assinalou o ex-procurador Andrew McCarthy à conservadora National Review.

- Tensão na Casa Branca -Desde maio, a equipe de Mueller trabalha apenas com as pistas de seu trabalho somadas com as perguntas que fazem a seus entrevistados.

E parece que a investigação está indo além do assunto do conluio com a Rússia.

Segundo os relatórios, Mueller está mirando no passado da atividade imobiliária de Trump e suas declarações de impostos de renda, possíveis casos de lavagem de dinheiro em ajudas de campanha, perjúrio e obstrução da Justiça, entre outros crimes possíveis.

A investigação, assim como as paralelas dos Comitês de Inteligência da Câmara de Representantes e do Senado, se estendeu às ajudas de campanha do círculo mais próximo de Trump, incluindo seu filho Donald Trump Jr. e seu genro Jared Kushner.

Claramente em desequilíbrio, a Casa Branca contratou a sua própria equipe de procuradores e acusou a de Mueller de estar influenciada pela rival de Trump nas eleições de 2016, a democrata Hillary Clinton.

Nesse contexto, a imprensa americana assinala que vários aliados de Trump avaliam a possibilidade de perdões presidenciais para os envolvidos e procuram maneiras de desacreditar a investigação de Mueller, que o presidente intitulou de "caça às bruxas".

A Casa Branca negou descartar a possibilidade de que Trump demita Mueller, decisão que desataria uma tempestade política e, talvez, uma crise constitucional.

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