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O que acontecerá na Catalunha após a grande ruptura?

30/10/2017 19h01

Madri, 30 Out 2017 (AFP) - O que acontecerá com a Catalunha depois da declaração de independência na sexta-feira e da posterior intervenção direta por parte do governo espanhol? A ruptura é real ou imaginária? Como o processo será encaminhado neste território do tamanho da Bélgica?

A resposta a essas perguntas dependerá do nível de resistência dos dirigentes separatistas e de seus militantes. Mas também dos interesses dos partidos políticos diante da convocatória de eleições regionais feita pelo chefe de governo conservador Mariano Rajoy para 21 de dezembro.

- Uma República já esgotada? -O presidente separatista catalão destituído por Madri, Carles Puigdemont, e seu número dois, Oriol Junqueras, parecem não ter acatado sua destituição. Mas nessa segunda-feira não tentaram voltar a seus antigos postos de trabalho. Puigdemont viajou para Bruxelas sem explicar as razões.

Enquanto isso, poucas coisas parecem ter mudado: a bandeira espanhola ainda tremula no alto dos edifícios públicos da região e o site do governo catalão continua mostrando as fotografias dos membros do governo destituído.

O governo assumiu o controle da polícia catalã, os Mossos d'Esquadra, que aceitaram retirar a proteção de certos membros do governo catalão cassado.

"A nova 'República' é evidente que tem muito menos força que o Estado espanhol", admitiu nesta segunda-feira o advogado de Puigdemont, Jaume Alonso-Cuevillas.

Os membros do governo destituído podem ser indiciados pelos delitos de rebelião, sedição e malversação de fundos. Muitos deles não foram trabalhar nesta segunda-feira, inclusive seus conselheiros.

- Que resistência? -As associações separatistas, que podem mobilizar centenas de milhares de pessoas, mantiveram a discrição nesses dias, assim como os "Comitês de Defesa da República", que surgiram em muitas ocasiões impulsionados por militantes do partido de extrema-esquerda CUP, para defender os centros de votação do referendo de autodeterminação inconstitucional de 1 de outubro.

"A resistência, se há, tem que ser passiva e 'low cost'", estima o cientista político Pablo Simón, considerando que os 200.000 funcionários do governo catalão não assumirão o risco de sofrer sanções.

"Outra coisa é que façam corpo mole, que não façam muita coisa, mas issi também não é muito relevante porque estamos no período de preparar as eleições (regionais de 21 de dezembro)", declarou.

Puigdemont "sempre reiterou que os políticos tinham que dar um passo, mas que isso não deveria respingar nos funcionários", explicou seu advogado.

- Eleições, golpe de mestre de Rajoy -Até seus adversários admitem: convocar eleições rapidamente foi uma estratégia "inteligente" de Mariano Rajoy.

Para evitar transformar-se no "Vietnã" prometido pelos separatistas radicais, Rajoy recorreu à democracia, diante da possibilidade de que uma tutela sobre a Catalunha traga lembranças da ditadura de Francisco Franco (1939-1975).

Assim, dará tempo aos diferentes partidos separatistas, que vão da direita à extrema esquerda e que nos bastidores se enfrentam há meses.

Os partidos estão em uma encruzilhada: ou mantêm sua posição e ficam excluídos das eleições de 21 de dezembro, ou aceitam fazer parte delas, sendo avaliados nas urnas, e na votação organizada pelo Estado.

O partido conservador de Puigdemont, o PDeCAT, já anunciou nesta segunda-feira que participará das eleições. O principal partido separatista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) sinalizou na mesma direção, assim como a CUP.

A jogada de Rajoy "foi muito boa", avalia a cientista política Sandra León, da Universidade de York no Reino Unido. O cenário eleitoral "já não é o contexto [...] de resistência passiva, de mobilização", afirma.

"O movimento está sem norte" e se os separatistas não se apresentarem em coalizão, algo provável, entrarão em uma "lógica de competição" e "será inevitável que se verbalizem diferenças entre uns e outros".

E como ficam os catalães? "Fica uma divisão que se polarizou", diz. "Vai ser preciso muito diálogo. Se tornou uma disputa entre Madri e Barcelona, mas tínhamos esquecido que há divergência interna na Catalunha", acrescenta León.

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