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Economia é prioridade número 1 dos zimbabuanos, após queda de Mugabe

23/11/2017 13h49

Harare, 23 Nov 2017 (AFP) - Aos 76 anos, Chareka Mutungwazi acaba de passar outra noite em frente à agência bancária, na expectativa de poder sacar seu dinheiro. Como muitos zimbabuanos, ele apenas sobrevive, em um país arruinado pelas políticas econômicas erráticas do ex-presidente Robert Mugabe.

"Tinha que dormir na fila para ter certeza de que ia conseguir sacar meu dinheiro", explica o aposentado, que espera o banco abrir em uma rua de Harare.

"Depois de 55 anos de trabalho, é como voltar à labuta de novo", lamenta.

Em seu banco, a falta de liquidez obriga a limitar o saque de dinheiro a um máximo de 20 dólares. Em outra agência perto dali, o máximo é de 10 dólares.

Charles Mutimhairi, de 35 anos, dono de uma papelaria em Harare, espera pacientemente na fila, enquanto comenta a queda Mugabe, que nesta terça-feira foi derrubado pelo Exército, após 37 anos no poder.

A chegada de seu sucessor, Emmerson Mnangagwa, que tomará posse na sexta-feira, suscita esperanças, reconhece Mutimhairi, apesar de alertar que "precisamos de mudanças de verdade, e isso quer dizer criar um entorno estável para atrair novos investimentos, dinheiro e criar empregos".

A crise financeira é apenas um dos problemas da economia do Zimbábue, com crescimento fraco, inflação elevada e desemprego em massa.

Na quarta-feira (22), em seu primeiro discurso desde a nomeação, Mnangagwa prometeu resolver esses problemas.

"Queremos o crescimento da nossa economia, queremos empregos", disse, sem dar mais detalhes.

Durante anos, o Zimbábue foi um modelo de sucesso na África, chegando a ser apelidado de "o celeiro de trigo" do continente. Entretanto, a tarefa pela frente é imensa.

Quando chegou ao poder, em 1980, Mugabe iniciou um sistema de educação e saúde, administrou os interesses da minoria branca e estabilizou o país.

Em 2000, porém, instigou os veteranos da guerra de independência a atacarem os agricultores brancos, e mais de 4 mil fugiram do país em meio à violência.

A consequência foi a derrocada do setor agrícola, que acabou arrasando toda a economia.

- 'Vagabundos' -O regime recorreu, então, à impressão de dinheiro para financiar seus gastos, provocando uma hiperinflação vertiginosa.

Em 2009, teve de renunciar à moeda local e adotar o dólar e o rand sul-africano. No fim de 2016, criou uma nova divisa, para tentar frear a fuga de dólares para o exterior, mas não foi muito bem-sucedido.

Mugabe "nos transformou em vagabundos", opina a deputada de oposição James Maridadi.

"A economia vai-se recuperar, graças ao camarada Mnangagwa", espera Berry Makiyi, de 35 anos, um engenheiro elétrico favorável ao novo presidente, a quem aconselha que "se ocupe primeiramente da crise financeira".

"Também teria que tentar ter uma melhor política de investimentos e ser mais flexível com as leis de indigenização", completou.

Leis que passaram a ser chamadas de "indigenização" foram aprovadas em 2007 para obrigar empresas estrangeiras no país a ceder a maioria de suas ações a investidores locais. Apesar de não serem totalmente aplicadas, elas tiveram o efeito de afugentar investidores estrangeiros.

Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, que foi ministro de Mugabe, é considerado em nível internacional como mais favorável às reformas econômicas, segundo a consultoria BMI Research.

"Há motivos para ser otimista sobre a volta dos investidores internacionais ao Zimbábue nos próximos dois anos", indica a consultoria.

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