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Separatistas repetem maioria absoluta na Catalunha

21/12/2017 20h49

Barcelona, 21 dez 2017 (AFP) - Os separatistas catalães repetiram a maioria absoluta no Parlamento regional apesar do forte estímulo do partido Cidadãos, que advoga pela unidade com a Espanha, com 80% dos votos computados, em uma grande vitória do presidente destituído Carles Puigdemont.

Juntos pela Catalunha, a plataforma independentista recém-criada por Puigdemont, que está na Bélgica, foi a força secessionista com mais cadeiras, 34, que somadas às 32 do Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e as 4 da CUP, superam as 68 da maioria absoluta.

No entanto, a força com mais deputados e votos foi Cidadãos, de Inés Arrimadas, com 36 deputados.

Como ocorreu em 2015, os independentistas se beneficiaram do sistema eleitoral, que recompensa o voto rural, e alcançarão a maioria absoluta sem ter 50% dos votos dos mais de cinco milhões de catalães chamados às urnas, em um dia em que a participação superou os 80%, um recorde.

A vitória dos separatistas, se confirmada, supõe um golpe para o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, que interveio na autonomia catalã após a frustrada proclamação de independência de 27 de outubro, e convocou essas eleições nas quais o Partido Popular só alcançou 4 deputados, em comparação com os 11 que tinha.

Também questiona a decisão do vice-presidente catalão deposto, Oriol Junqueras, do ERC, que preferiu ficar na Espanha e enfrentar a Justiça, e agora está na prisão. Seu partido era favorito nas pesquisas e deve acabar em terceiro lugar.

- Sem incidentes -As eleições transcorreram sem incidentes apesar da tensão acumulada em dois meses de impasse, em um dia frio, mas ensolarado nessa região mediterrânea do nordeste da Espanha.

Pela primeira vez em décadas, as eleições catalães ocorreram em um dia de trabalho, o que provocou filas nas seções no início e no fim do dia.

As vestimentas amarelas eram vistas aos montes, a cor escolhida para protestar pela prisão de parte dos líderes independentistas.

Puigdemont acompanhou a contagem de Bruxelas junto aos membros de seu governo. Não podendo votar, uma jovem de 18 anos lhe cedeu seu voto, presumivelmente para o Juntos pela Catalunha.

"Não é normal este dia com candidatos na prisão e no exílio", disse Puigdemont em Bruxelas. "Ainda assim é um dia muito importante, não para a Catalunha de hoje, mas para a Catalunha do futuro".

O referendo de separação de 1º de outubro, proibido pela Justiça e duramente reprimido pela Polícia, precipitou os acontecimentos: no dia 27 daquele mês o Parlamento catalão proclamou a independência, e horas depois o governo regional de Puigdemont havia sido destituído pelo Parlamento espanhol.

Rajoy convocou simultaneamente as eleições desta quinta-feira e a Justiça prendeu parte dos líderes separatistas, enquanto outros foram para a Bélgica.

- Cansaço dos catalães -O movimento independentista ganhou força na Catalunha a partir de 2012, impulsionado pelo mal-estar devido à crise econômica e à corrupção, da qual não era alheia o partido que liderou a causa - CiU, do então presidente Artur Mas - e o corte de alguns artigos da Constituição regional pelo Tribunal Constitucional.

Os separatistas têm ido às ruas em grande número para se manifestar há cinco anos: primeiro para reclamar um referendo de independência, e agora pelas prisões de seus líderes.

Cinco anos depois, o cansaço e a frustração dominam a sociedade catalã, por motivos opostos.

"A lembrança desse dia está mais viva do que nunca. Ainda sinto a impotência e a raiva", disse à AFP Xavier Roset, um pintor de 57 anos, se referindo às ações policiais de 1º de outubro.

"Para mim só há duas saídas: ou a Europa intervém, ou isso do pacifismo pode acabar, porque as pessoas estão muito frustradas", acrescentou Roset, falando no liceu Ramón Llull de Barcelona, onde foram vistas ações dramáticas naquele dia.

No extremo oposto, os eleitores unionistas se mobilizavam para acabar com um processo independentista que, recordam, fez mais de 3.000 empresas deixarem a região e complicou as relações sociais.

"Muita gente pensava que a independência era para conseguir mais autonomia, mas que não era tão radical, tão unilateral", explicou Jaume Amargant, de 53 anos, funcionário de uma empresa de segurança, eleitor do Cidadãos em Vic, um reduto independentista localizado 70 quilômetros ao norte de Barcelona.