Topo

Turquia lança operação contra milícia curda na Síria, bombardeios matam dez

20/01/2018 21h44

Hassake, Síria, 20 Jan 2018 (AFP) - O Exército turco lançou neste sábado (20) uma operação aérea e terrestre para expulsar uma milícia curda que controla o norte da Síria e que Ancara considera uma organização terrorista, desafiando as advertências americanas de que a ação poderia desestabilizar a região.

Neste sábado, bombardeios resultantes desta operação na região de Afrin (nordeste da Síria) deixaram dez mortos, a maioria civis, afirmou um porta-voz da milícia curda.

À noite, a milícia afirmou, em um comunicado, que ia "considerar a Rússia responsável por estes ataques no mesmo nível da Turquia".

"A Rússia será considerada responsável por todos os massacres no cantão de Afrin", acrescentou.

A nova operação, batizada de "Ramo de Oliveira", é dirigida contra as YPG e o grupo Estado Islâmico (EI) e começou às 14h00 GMT (12h00 de Brasília) deste sábado, anunciou o Exército turco, assegurando que respeitaria a integridade territorial da Síria.

Horas antes, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o início "de fato" de uma operação terrestre.

Erdogan prometeu em várias ocasiões limpar os "ninhos de terrorismo" na Síria, apesar das advertências de que uma operação poderia complicar as relações com Washington e Moscou.

Afrin é controlada pelas Unidades de Proteção Popular (YPG), milícia curda considerada uma organização terrorista por Ancara, mas aliada dos Estados Unidos na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Ancara acusa as YPG de ser o braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que há 30 anos leva adiante uma rebelião armada no sudeste da Turquia, povoado majoritariamente por curdos, e considerado tanto por Ancara quanto por seus aliados ocidentais uma organização terrorista.

O Ministério russo das Relações Exteriores informou neste sábado estar "preocupado" pelas informações sobre a operação e pediu "retenção", antes que o Ministério da Defesa anunciasse a retirada de seus tropas de Afrin.

A Turquia disse que informaria o presidente sírio, Bashar al-Assad, da nova ofensiva. "Informamos a todas as partes do que estamos fazendo (...) Embora não tenhamos relações com o regime (sírio), estamos dando os passos de conformidade com o direito internacional", disse o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, à televisão 24 TV.

No entanto, o governo sírio negou neste sábado que a Turquia tivesse informado sobre a operação militar em Afrin.

"A Síria nega completamente as declarações do governo turco que dizem que informou de sua operação militar", declarou uma fonte do Ministério das Relações Exteriores à agência oficial Sana. Esta mesma fonte disse que Damasco "condena fortemente a brutal agressão da Turquia em Afrin, que é uma parte inseparável do território sírio".

- 'Agressão brutal' -Não obstante, as YPG também são um aliado-chave dos Estados Unidos, sócio da Turquia na Otan, na guerra contra o grupo EI, e desempenharam um importante papel na expulsão dos extremistas de seus principais redutos na Síria.

Frente a esta ofensiva turca, a Rússia pediu "retenção", enquanto a Síria afirmou na quinta-feira que abateria qualquer aeronave militar que entrasse em seu espaço aéreo.

O ministro turco de Relações Exteriores, Mevlut Cavasoglu, informou no sábado que seu país mantinha informado "por escrito" o presidente sírio, Bashar al Assad, sobre sua ofensiva, o que o regime sírio negou, denunciando uma "brutal agressão da Turquia em Afrin".

O Reino Unido considerou, por sua vez, que a Turquia tinha um "interesse legítimo" em garantir a segurança de suas fronteiras.

Os analistas consideram que para lançar uma grande ofensiva na Síria é necessário o aval da Rússia, que está militarmente presente na região e mantém boas relações com as YPG.

O chefe do Exército turco, o general Hulusi Akar, e o dos serviços de Inteligência, Hakan Fridan, viajaram na quinta-feira a Moscou para manter reuniões.

"A Turquia não lançará uma ofensiva terrestre e aérea total sem a benção de Moscou", previu Anthony Skinner, analista do gabinete de consultores de risco Verisk Maplecroft.

- Estabilidade regional -O ministro russo da Defesa anunciou no sábado que os militares russos destacados na região de Afrin tinham deixado suas posições para "impedir possíveis provocações" ou ameaças contra eles.

As ameaças de intervenção turca provocaram preocupação em Washington, que apoiou as YPG em sua luta contra o EI e na tomada de controle de grande parte do norte da Síria, até a fronteira iraquiana.

Segundo Moscou, o chefe da diplomacia, Serguei Lavrov, falou por telefone neste sábado com seu contraparte americano, Rex Tillerson. Os dois abordaram "as medidas para garantir a estabilidade no norte" da Síria.

"Não acreditamos que uma operação militar [...] leve à estabilidade regional, à estabilidade na Síria, nem ao apaziguamento dos temores da Turquia com relação à segurança de sua fronteira", advertiu na sexta-feira um alto funcionário do Departamento de Estado americano.

Uma operação turca constituiria "um sério golpe" para a coalizão comandada pelos Estados Unidos na Síria, que depende, ainda, das YPG para estabilizar a região depois da fuga do EI, segundo o analista Anthony Skinner.

Erdogan reagiu com irritação esta semana diante do anúncio da criação, no norte da Síria, de uma força fronteiriça de 30.000 homens, apoiada pelos Estados Unidos e composta, em parte, por combatentes das YPG. Qualificou o projeto de "exército de terror".

No terreno, outros 16 civis morreram perto de Damasco em um bombardeio das forças do regime contra os rebeldes entrincheirados no enclave da Guta Oriental, segundo a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

E pelo menos 13 civis morreram tentando fugir de seu país para o vizinho Líbano, durante uma tempestade de neve, segundo balanço divulgado neste sábado pela ONU.