Exército turco invade enclave curdo no norte da Síria
Soldados turcos invadiram, neste domingo (21), uma região do norte da Síria controlada pelos curdos, no segundo dia de uma grande ofensiva contra a milícia curdo-síria, considerada "terrorista" pela Turquia, e que pode agravar o conflito que assola o país.
Citado por veículos de comunicação turcos, o primeiro-ministro Binali Yildirim anunciou que militares entraram em território sírio às 11h05 locais (6h05 de Brasília) na região de Afrin, controlada pela milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), também atacada pela aviação e pela artilharia de Ancara.
A ofensiva turca corre o risco de tornar ainda mais tensas as relações entre Ancara e Washington, que neste domingo pediu "contenção" à Turquia. Os Estados Unidos apoiam uma coalizão árabe-curda, da qual fazem parte a YPG, para combater os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).
O Irã, que patrocina com Moscou e Ancara o processo de Astana, que permitiu criar zonas de distensão na Síria, expressou preocupação e pediu para Ancara exercer um "papel construtivo" na solução da crise síria. A França pediu que Ancara ponha fim à sua ofensiva e solicitou uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU diante da escalada militar na Síria, marcada pela ofensiva, mas também pelos bombardeios do regime, especialmente em Idleb (noroeste).
No segundo dia desta operação, batizada "Ramo de Oliveira", o exército turco informou ter destruído "45 alvos", entre eles esconderijos de armas.
Segundo a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), 18 pessoas, a maioria civil, morreram nos bombardeios desde seu início, no sábado. Ancara afirma que só atingiu alvos "terroristas" e acusa as YPG de fazer "propaganda".
As autoridades turcas, por sua vez, acusam as YPG de terem iniciado o lançamento de foguetes contra duas cidades fronteiriças turcas, que deixaram um morto e cerca de 40 feridos - um balanço que não pôde ser verificado de forma independente até o momento.
Em uma advertência inédita, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que qualquer um que se manifeste na Turquia contra a ofensiva "pagaria um alto preço".
Forças de segurança turcas impediram, neste domingo, a celebração de duas manifestações, em Diyarbakir (sudeste) e Istambul, segundo correspondentes da AFP.
Tanques na fronteira
Um correspondente da AFP na região viu neste domingo quatro peças de artilharia turca abrindo fogo em direção a povoados da região de Afrin, e um comboio de tanques e de militares turcos aguardavam para entrar na Síria.
O chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, afirmou que as Forças de Ancara tomaram "povoados" controlados pelas YPG na região de Afrin, sem dar maiores detalhes.
Os combatentes curdos "vão fugir e nós os perseguiremos", ameaçou Erdogan, durante um discurso em Bursa (noroeste). "Se Deus quiser, terminaremos esta operação em muito pouco tempo", acrescentou.
Em reação às informações sobre a entrada de soldados turcos na Síria, as YPG afirmaram ter freado uma incursão. "A Turquia queria entrar em Afrin, mas freamos seu ataque", afirmou o porta-voz Birusk Hasaké.
A Turquia acusa as YPG de serem o braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que conduz há 30 anos de uma rebelião armada no sudeste da Turquia, povoado majoritariamente curdo, e considerado por Ancara e seus aliados ocidentais uma organização "terrorista".
Esta é a segunda ofensiva turca no norte da Síria, depois de outra lançada em agosto de 2016 para empurrar o EI rumo ao sul, mas também para deter a expansão dos combatentes curdos.
Aproveitando o conflito sírio, que deixou mais de 340 mil mortos desde 2011, os curdos sírios - marginalizados há muito tempo - instalaram em 2012 uma administração autônoma em Afrin, território isolado de outras zonas controladas pelas YPG, mais a leste.
Degradação
A ofensiva turca ocorre após o anúncio da coalizão internacional antijihadista, liderada pelos Estados Unidos, de criar uma "força fronteiriça", integrada por combatentes curdos, um projeto que desatou a ira de Ancara.
Segundo Yildirim, o objetivo da operação "Ramo de Oliveira" é estabelecer uma "zona de segurança", com uma extensão de 30 km a partir da fronteira turco-síria.
As ameaças de intervenção turca geraram preocupação em Washington, para quem uma ofensiva não seguiria "no sentido da estabilidade regional".
Diante desta ofensiva turca, a Rússia pediu "moderação" às partes, mas os analistas consideram que não se pode lançar nenhuma ofensiva importante na Síria sem o aval de Moscou, que controla o espaço aéreo deste país em guerra.
Além disso, o presidente sírio, Bashar al-Assad, condenou neste domingo a operação turca em Afrin, e acusou Ancara de "apoiar o terrorismo".
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