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Odebrecht contribuiu com campanhas de quatro presidentes peruanos

01/03/2018 20h02

Lima, 1 Mar 2018 (AFP) - As campanhas eleitorais peruanas de 2006 e 2011 tiveram um mecenas nas sombras: a empreiteira Odebrecht, segundo seu ex-chefe no Peru Jorge Barata, que confessou ter dividido milhões de dólares entre quatro ocupantes sucessivos da cadeira presidencial.

Barata declarou que entregou dinheiro para as campanhas do presidente Pedro Pablo Kuczynski, de três ex-chefes de Estado e de Keiko Fujimori, segundo revelou nesta quinta-feira (1) o site de investigações IDL-Reporteros.

Ao depor na terça e quarta-feira diante dos procuradores peruanos Germán Juárez e Domingo Pérez em São Paulo, Barata assinalou que a Odebrecht fez contribuições para as campanhas de Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016), informou o site, que periodicamente divulga notícias sobre este escândalo.

A Odebrecht admitiu anteriormente que desembolsou propinas no valor de 29 milhões de dólares no Peru entre 2005 e 2014, durante os governos de Toledo, García e Humala.

Os cinco envolvidos negaram, antes e depois dos interrogatórios de Barata, ter recebido dinheiro da Odebrecht.

- Apoio a quatro candidatos em 2011 -"Nas eleições de 2011, a Odebrecht contribuiu ou canalizou contribuições para quatro candidatos: três milhões de dólares para Ollanta Humala; 1,2 milhão para Keiko Fujimori; 700 mil dólares para Toledo; e 300 mil dólares para PPK", declarou Barata aos procuradores, de acordo com o site, que é comandado pelo famoso jornalista peruano Gustavo Gorriti.

Humala, o mais favorecido pela Odebrecht na campanha de 2011, ganhou as eleições.

"O ex-chefe da Odebrecht no Peru informou que a contribuição entregue (a Kuczynski) foi de 300 mil dólares e quem recebeu o dinheiro foi Susana de la Puente, atual embaixadora do governo de Kuczynski no Reino Unido", indicou o IDL-Reporteros.

Nas eleições anteriores, de 2006, a Odebrecht somente colaborou com dinheiro a García, que acabou sendo o vencedor. Recebeu 200 mil dólares, de acordo com Barata, que contou que entregava pessoalmente o dinheiro em espécie a assessores de confiança ou parentes dos candidatos.

"A pessoa que coordenou a doação e recebeu o dinheiro foi, segundo Barata, Luis Alva Castro, o veterano líder aprista", informou o site.

Sobre Toledo também pesa a acusação de que a Odebrecht pagou a ele 20 milhões de dólares quando era presidente para obter a licitação da construção de uma estrada na Amazônia.

A Suprema Corte peruana deve decidir na segunda-feira se autoriza o pedido de extradição de Toledo dos Estados Unidos.

Barata também revelou ter dado dinheiro à campanha de Keiko Fujimori, filha do ex-governante Alberto Fujimori (1990-2000), que foi candidata em 2011 e 2016.

"Na campanha presidencial de 2011, a Odebrecht colaborou com um 1,2 milhão de dólares à candidatura de Keiko. Dessa quantia, pelo menos um milhão de dólares veio do que, como um eufemismo, se chama de dinheiro 'não contabilizado'. Ou seja, dinheiro ilícito manejado pelo que foi o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht", assinalou o site.

"O primeiro milhão foi entregue a dois dirigentes de alto escalão do fujimorismo de então: Jaime Yoshiyama e Augusto Bedoya", acrescentou.

Em sua primeira ação após os interrogatórios em São Paulo, a Procuradoria peruana fez uma operação nesta quinta na sede da cúpula empresarial do Peru, a Confiep, confiscando documentação contábil, pois o ex-chefe da Odebrecht declarou que uma contribuição de 200 mil dólares para a campanha de Keiko foi entregue por meio desta organização.

Barata disse que o então presidente da Confiep, Ricardo Briceño, havia convocado um grupo de empresários proeminentes porque "a candidatura de Keiko estava 'com problemas' diante do avanço de Humala".

Diferentemente de outras contribuições, o montante entregue à Confiep para apoiar Keiko ficou registrado em dois livros contábeis da Odebrecht, segundo Barata.

- 'Não deu nenhuma prova' -Após o depoimento de Barata, alguns candidatos envolvidos se pronunciaram sobre as acusações.

O ex-chefe da Odebrecht "não deu nenhuma prova. Não recebi nada de Barata e tudo será investigado para mostrar que não houve contribuição", declarou Kuczynski nesta quinta-feira ao Canal 7.

"Quero ratificar o que disse muitas vezes: não recebi dinheiro de Marcelo Odebrecht, nem de sua empresa, e que fique bem claro que tampouco do senhor Jorge Barata", assegurou Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), durante coletiva de imprensa na quarta-feira.

"Nem a minha campanha nem o Partido Aprista receberam em 2006 qualquer doação da Odebrecht", afirmou García na quarta-feira.