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Falência da Remington ilustra queda do apreço às armas nos EUA

27/03/2018 16h14

Nova York, 27 Mar 2018 (AFP) - A falência da fabricante Remington demonstra o desapego dos americanos pelas armas, num contexto em que mais de 1,5 milhão de pessoas foram às ruas pedir uma legislação mais rigorosa, para frear os assassinatos em escolas.

As dificuldades dos comerciantes de armas na verdade começaram em novembro de 2016, após a vitória surpreendente do republicano Donald Trump para a Casa Branca. Como a democrata Hillary Clinton era considerada favorita, os proprietários de armas se anteciparam a um possível endurecimento da legislação e acabaram adquirindo mais armamento.

Trump, próximo do influente lobby de armas, a National Rifle Association (NRA), parecia ser pouco favorável a questionar a segunda emenda da Constituição, que garante o direito à posse de armas.

As vendas, contudo, caíram, a ponto de acabarem gerando prejuízos no mercado e a queda da Remington, uma das empresas mais famosas do setor.

A sucessão de ataques, sobretudo a centros educacionais, como na escola de Parkland, na Flórida, onde 17 pessoas foram assassinadas em 14 de fevereiro passado, conduziram a várias grandes distribuidores para restringir as vendas de armas.

A Dick's Sporting Goods anunciou que vai deixar de vender armas semiautomáticas e a Walmart aumentou para 21 anos a idade mínima para comprar em seus estabelecimentos, após ter interrompido, anos antes, a comercialização de armas semiautomáticas.

As fabricantes americanas devem fazer frente a "níveis mais baixos de venda de armas", reconheceu no começo de março James Debney, diretor do grupo American Outdoor Brands, que comercializa a marca Smith&Wesson. Essa tendência poderia se manter de "12 a 18 meses", acrescentou.

Criada em 1816, a fabricante de armas, munições e canhões Remington, cuja sede se encontra na Carolina do Norte (sudeste), é um dos mais antigos dos Estados Unidos. Emprega 2.700 pessoas em sete fábricas e exporta a 52 países.

Segundo os documentos publicados no âmbito das normas sobre falências, a Remington enfrenta "um retrocesso significativo de suas vendas" há um ano, com uma demanda que "não se materializa" apesar de o grupo ter aumentado sua produção em 2016.

Seu lucro operacional caiu em 2017 a 33,6 milhões de dólares, um terço de seu nível de 2015.

- Já não seduzem -A Remington tinha anunciado a intenção de se declarar em falência em 12 de fevereiro, dois dias antes do assassinato de Parkland, após um acordo com seus credores para continuar funcionando sob judicial.

Contudo, de acordo com Ari Lefkovits, membro do banco de investimentos Lazard, o grupo teve grandes dificuldades para encontrar financiamento e poder continuar com suas atividades.

"Lazard se aproximou de cerca de 30 investidores em potencial para financiar" a Remington, "mas a vasta maioria dos que constataram manifestaram reticências para financiar uma fabricante de armas", apontou Lefkovits.

Remington recorreu a seus credores habituais, entre eles JPMorgan Chase, Franklin Advisers e o Bank of America, que avaliaram uma reestruturação do grupo.

A decisão permitiu eliminar cerca de 775 milhões de dólares de dívida, em troca de um controle maior sobre as finanças da Remington por parte dessas empresas.

O fracasso da Remington na tentativa de seduzir os meios financeiros não chega a surpreender.

Na semana passada, um dos maiores bancos do país, o Citigroup, anunciou aos seus clientes que proibirá a venda de armas de fogo a menores de 21 anos e a pessoas cujos antecedentes criminais não tenham sido comprovados, no âmbito de uma série de medidas restritivas.