Após rejeição da Itália e de Malta, a saga de quase 650 imigrantes continua rumo à Espanha
Pelo menos 629 imigrantes, à deriva no Mediterrâneo desde domingo (10), enfrentarão mais quatro dias no mar até chegarem a terra firme na Espanha, após a rejeição de Itália e Malta de acolhê-los. Eles zarparam na noite desta terça-feira (12) rumo à Espanha, com a ajuda de dois barcos italianos.
A ONG francesa SOS Méditerranée, que fretou o 'Aquarius' para socorrer os migrantes em frente à costa líbia, informou no Twitter que os barcos zarparam às 21h00 locais (16h de Brasília) para a viagem de quatro dias.
Assim, quase 72 horas depois do início desta crise sem precedentes na Europa, o desenlace parece perto do fim para estes migrantes socorridos no mar depois de ficarem parados a 30 milhas da costa maltesa após a recusa de Itália e Malta de recebê-los em seus portos. Na segunda-feira (11), a Espanha se ofereceu para acolhê-los.
Entre os 629 migrantes, há sete grávidas, 11 crianças pequenas e 123 menores desacompanhados. Durante várias horas nesta terça-feira, mais da metade foram transferidos do Aquarius para as duas embarcações com bandeiras italianas antes de os três saírem rumo a Valencia, uma viagem de 1.500 km.
Veja também:
"A situação é calma, se considerarmos o número de horas (passadas no mar) e os sofrimentos a que essas pessoas já foram submetidas", disse à AFP a jornalista da Euronews Annelise Borges, lembrando que algumas delas permaneceram "de 20 a 30 horas" no mar, antes de serem socorridas pelo "Aquarius", ou pela Guarda Costeira italiana, e levadas para esse navio humanitário.
"As equipes estão aliviadas que uma solução esteja surgindo. Mas isso prolonga inutilmente o tempo passado para resgatados já vulneráveis", comentou no Twitter a ONG francesa SOS Méditerranée, responsável pelo "Aquarius".
Preocupação
Enquanto a espera se prolongava, muitos desses imigrantes temiam ser devolvidos para a Líbia, a ponto de os socorristas do "Aquarius" rodarem o navio, com mapas nas mãos, para lhes mostrar que estavam distante da costa da Líbia, contou a jornalista da Euronews por telefone.
Presente desde fevereiro de 2016 nessa parte do Mediterrâneo, onde já socorreu quase 30.000 pessoas, o "Aquarius" estava desde domingo no centro de uma queda de braço entre Itália e Malta, até que a Espanha se oferecesse para recebê-los.
Preocupada com a duração da viagem, a SOS Méditerranée recusou a oferta espanhola em um primeiro momento, considerando que o navio, com capacidade para 500 passageiros, teria dificuldades em chegar ao porto espanhol com sobrecarga.
"Mais quatro dias"
"Este plano significa que pessoas esgotadas vão ter que estar mais quatro dias em alto-mar. A melhor solução seria desembarcar as pessoas socorridas no porto mais próximo, de onde elas poderão ser transportadas para a Espanha, ou para um outro país seguro", reagiu a ONG francesa Médecins sans Frontières (MSF), também presente no "Aquarius".
Mas venceu a determinação do ministro italiano do Interior e presidente da Liga (extrema direita), Matteo Salvini, que se negou a abrir os portos do país.
Na segunda-feira, ele cantou vitória depois que a Espanha anunciou sua intenção de acolher o navio, e advertiu às outras embarcações de ONGs que se arriscam à mesma negativa.
"Salvar vidas é um dever. Transformar a Itália em um enorme campo de refugiados, não. A Itália não vai mais ceder e obedecer. Desta vez, TEM ALGUÉM QUE DIZ NÃO", tuitou Salvini, com a hashtag #chiudiamoiporti (fechemososportos).
Matteo Salvini também alertou as demais ONGs que patrulham o litoral líbio, afirmando que todas serão tratadas da mesma maneira. Disse ainda que, para essas organizações, entre as quais nenhuma é italiana, o acesso aos portos italianos está proibido.
Apesar das declarações de Salvini, uma embarcação da guarda costeira italiana, o "Diciotto", poderia chegar à Sicília na terça ou na quarta-feira com 937 migrantes a bordo.
A Itália, que viu mais de 700.000 imigrantes desembarcarem no país desde 2013, acusa com frequência os europeus de terem-na deixado sozinha para lidar com a crise migratória.
"Um problema de todos"
Na segunda-feira, o novo presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, ofereceu abrir o porto de Valencia ao navio humanitário.
"É nossa obrigação ajudar a evitar uma catástrofe humanitária e oferecer 'um porto seguro' a essas pessoas", argumentou.
Seu ministro das Relações Exteriores, Josep Borrell, avaliou que os europeus devem enfrentar "de uma forma solidária e coordenada um problema que é de todos, e não um ano da Grécia e no ano seguinte da Itália".
Nesta terça, o presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou "o cinismo e a irresponsabilidade do governo italiano" nesse tema.
Enquanto isso, em Valencia, as autoridades se preparavam para a chegada do barco.
"Tudo está sendo preparado para que haja uma acolhida o mais razoável possível, o importante é que esteja tudo coordenado, que haja um certo horizonte para estas pessoas", avaliou o presidente da região de Valencia, o socialista Ximo Puig.
Apesar do endurecimento das políticas migratórias na Europa, o "Aquarius" está decidido a retomar suas missões de resgate no Mediterrâneo assim que tiver posto estas pessoas a salvo.
"Foi encontrada uma solução" pontual com a Espanha, mas "os resgates vão continuar e é imperativo que os Estados europeus falem entre eles para encontrar soluções aceitáveis", disse à AFP a diretora-geral da SOS Méditerranée, Sophie Beau.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.