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Ortega e oposição medem forças enquanto violência piora na Nicarágua

11/07/2018 20h20

Masaya, Nicarágua, 11 Jul 2018 (AFP) - A oposição nicaraguense intensificará a partir de quinta-feira a pressão contra o presidente Daniel Ortega, com uma manifestação e uma greve geral, mas o governo, em resposta, prepara sua marcha de comemoração revolucionará até Masaya, cidade mais rebelde do país.

Policiais e antimotins estão posicionados na entrada de Masaya, 35 quilômetros ao sul de Manágua, temendo uma violenta incursão antes que o governo celebre a "rendição", uma caravana liderada por Ortega, que anualmente vai a essa cidade para recordar um gesto da revolução de 1979.

"Não à rendição", "Monimbó resiste hoje, amanhã e sempre", é possível ler em pedras e barricadas que foram reforçadas pelos moradores do bairro Monimbó, no sul de Masaya.

Nas últimas semanas o governo intensificou a chamada "operação limpeza" de forças conjuntas para derrubar as barricadas colocadas pelos manifestantes nas ruas. Mas em Monimbó ainda há dezenas erguidas.

Com bandeiras da governante Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), dezenas de apoiadores de Ortega se manifestaram no centro de Masaya, perto da delegacia, sem se aproximar de Monimbó.

- 'Esperamos por eles' -O dirigente da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH) de Masaya, Danilo Martínez, denunciou que a cidade "está cercada por uma força de 1.000 paramilitares, policiais e armamento pesado".

"Monimbó está esperando por eles, não tenho medo. Vivi as guerras civis de 1970 e 1980. Estamos resistindo porque queremos o país livre. Não queremos o regime Daniel, que mata e espanca os padres", assinalou à AFP María González, de 78 anos, que vendia mamões ao lado de uma barricada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, está "profundamente preocupado com os contínuos atos de violência na Nicarágua e sua intensificação", segundo a conta da ONU no Twitter.

A situação na Nicarágua é crítica, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que cifrou em 264 o número de mortes na Nicarágua no contexto dos protestos.

Nesse contexto, a CIDH pediu nesta quarta-feira à Organização de Estados Americanos (OEA) que exija ao governo da Nicarágua o fim da repressão dos protestos opositores, que também deixam mais de 1.800 feridos em quase três meses.

"A CIDH faz um chamado à comunidade internacional para que se pronuncie e exija ao Estado nicaraguense o fim imediato da repressão e das detenções arbitrárias, assim como das demais violações aos direitos humanos que vêm sendo registradas", disse o secretário-executivo da comissão, Paulo Abrão.

"Queremos pedir à Nicarágua e fazer um apelo para garantir protestos e manifestações pacíficas, bem como a segurança e a integridade de todas as pessoas", continuou Abrão ao conselho permanente da OEA.

A opositora Aliança Cívica pela Justiça e Democracia convocou a marcha "Juntos somos um vulcão" para quinta e uma greve nacional para sexta-feira, a segunda durante a crise.

O chanceler nicaraguense, Denis Moncada, descreveu o relatório da CIDH como "preconceituoso e desprovido de objetividade". "Não se pode confundir um protesto pacífico com atos terroristas", sustentou.

A ANPDH exigiu nesta quarta-feira que o Exército investigue denúncias de uso de armas de grosso calibre por parte das forças pró-governo para reprimir os protestos.

Existem "evidências de denúncias das pessoas de uso de armas de guerra de grosso calibre e de granadas de demolição de uso exclusivo do Exército nas cidades de La Trinidad, León, Sutiaba e Carazo", disse o secretário da ANPDH, Alvaro Leiva, em entrevista coletiva.

O Exército da Nicarágua afirmou na terça-feira que tem o "controle absoluto" de seu arsenal e negou qualquer envolvimento em atos de repressão a manifestantes.