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Brics: presidente chinês diz que não há vencedores em uma guerra comercial

25/07/2018 16h40

Joanesburgo, 25 Jul 2018 (AFP) - O presidente chinês, Xi Jinping, disse nesta quarta-feira (25), na cúpula dos Brics, que não há vencedores em uma guerra comercial global, em clara direta referência ao americano Donald Trump.

"O unilateralismo e o protecionismo avançam e representam um duro golpe ao multilateralismo", declarou Xi na abertura da cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O presidente russo, Vladimir Putin; o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente Michel Temer assistem à cúpula, junto com Xi, o anfitrião, Cyril Ramaphosa e vários líderes africanos convidados.

"Estamos diante de uma alternativa entre a cooperação e o confronto, entre a abertura e a política de portas fechadas e entre o benefício mútuo e um enfoque de empobrecimento do vizinho", disse na cúpula do número 1 chinês.

"Uma guerra comercial deve ser afastada pois não há ganhador", advertiu. "A comunidade internacional está de novo em uma encruzilhada", acrescentou.

Nesses últimos meses, o presidente americano, Donald Trump, declarou guerra a seus principais rivais comerciais, sobretudo China, União Europeia e Rússia, que chamou de "inimigos".

Após impor tarifas alfandegárias sobre o aço e o alumínio, mirando sobretudo a China, os Estados Unidos ameaçam agora aumentar os impostos sobre a importação de automóveis europeus, sancionar os países que comercializam com o Irã e taxar todas as importações chinesas.

Os Estados Unidos registraram em 2017 um déficit comercial de US$ 376 bilhões em seus intercâmbios comerciais com a China.

Na quarta-feira, Trump denunciou a atitude "malvada" da China, que acusa de práticas comerciais "desleais".

A China já reagiu impondo novas tarifas sobre os produtos americanos.

Os dirigentes dos BRICS celebram sua cúpula anual de três dias, concentrando-se desta vez na ameaça de uma guerra comercial global liderada pelos Estados Unidos.

Trump disse que está disposto a impor novas tarifas às importações chinesas, queixando-se que o superávit comercial chinês com os Estados Unidos se deve a uma desleal manipulação monetária.

"Estamos preocupados pelo aumento de medidas unilaterais que são incompatíveis com os regulamentos da Organização Mundial de Comércio (OMC), e tememos os impactos que essas medidas possam ter", afirmou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, em discurso pronunciado na sessão inaugural.

- Nova unidade dos Brics? -O grupo dos Brics, que reúne a mais de 40% da população mundial, inclui algumas das maiores economias emergentes do mundo, mas tem dificuldades para conseguir uma voz unificada.

Analistas dizem que a política comercial americana pode agora dar ao grupo novos objetivos.

Sreeram Chaulia, da Jindal School of International Affairs, nos arredores de Délhi, disse à AFP que líderes dos Brics "concordam que os Estados Unidos desataram guerras comerciais punitivas que afetam todos os membros dos Brics".

"Há interesse coletivo em promover o comércio entre os membros dos Brics. A urgência agora é maior," apontou.

Xi chegou à África do Sul depois de visitar Senegal e Ruanda em viagem para solidificar as relações com os parceiros africanos.

No contexto da rivalidade diplomática pela influência na África, o indiano Modi visitou Ruanda e Uganda em sua viagem de cinco dias pelo continente, que inclui sua presença na cúpula dos Brics.

A reunião começou nesta quarta-feira com um fórum de negócios, antes das conversas entre os chefes de Estado na quinta-feira.

Entre os líderes africanos que participam da programação de sexta-feira estão Paul Kagame, de Ruanda; João Lourenço, de Angola; Macky Sall, do Senegal e Yoweri Museveni de Uganda.

"A África do Sul e mais amplamente a África, podem se beneficiar com esse aumento das exportações para os países de maior crescimento como Índia e China", disse à AFP Kenneth Creamer, economista da Universidade de Wits, em Johannesburgo.

"O Brics tem potencial estratégico para reestruturar o comércio mundial", acrescentou.

O líder turco Recep Tayyip Erdogan também comparecerá à cúpula como atual presidente da Organização de Cooperação Islâmica (OIC) e encontrará com Putin à margem do evento.