América Latina tem uma dúzia de presidentes presos, foragidos ou investigados por corrupção
Grandes escândalos explodem no Brasil, Argentina e no Peru, enquanto ex-presidentes da América Central enfrentam a Justiça. A América Latina é sacudida mais uma vez por uma onda de casos de corrupção que alimenta a percepção de viver uma história sem fim. No entanto, especialistas dizem que há razões para ter esperança.
Uma dúzia de ex-presidentes afetados
Na Argentina, o "escândalo dos cadernos" atinge políticos e grandes empresários. Oscar Centeno, motorista de um ministro durante as administrações da era Kirchner, anotou meticulosamente os milhões de dólares pagos entre 2005 e 2015 a seus governos por executivos privados para obter contratos públicos.
Vários funcionários de alto escalão e executivos corporativos estão atrás das grades e Cristina Kirchner, presidente de 2007 a 2015 e agora senadora, foi convocada para esta segunda-feira a fim de responder por este escândalo.
No Peru, a difusão de gravações no início de julho colocou o sistema judiciário no olho do furacão. Nos áudios é possível ouvir juízes negociando as sentenças de acusados.
O ministro da Justiça, Salvador Heresi, o presidente do Supremo Tribunal, Duberli Rodríguez, e o presidente do Conselho da Judicatura, Orlando Velásquez, que nomeia os juízes e promotores, se viram obrigados a renunciar.
Em resposta ao escândalo, o presidente peruano, Martín Vizcarra, lançou uma reforma judicial e anunciou um referendo para legitimá-la.
Na América Central, o ex-presidente salvadorenho Elías Antonio Saca (2004-2009), preso há quase dois anos, admitiu ter desviado mais de 300 milhões de dólares durante o seu mandato. Seu sucessor, Mauricio Funes (2009-2014), acusado pelos mesmos crimes, está foragido na Nicarágua.
O ex-chefe de Estado do Panamá Ricardo Martinelli (2009-2014) foi extraditado em junho dos Estados Unidos acusado em 20 casos de corrupção.
Do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva aos quatro últimos presidentes do Peru, atualmente na região latino-americana "há uma dúzia de ex-presidentes na prisão, foragidos, envolvidos ou destituídos" em casos deste tipo, assegurou o advogado peruano José Ugaz, ex-presidente da ONG anticorrupção Transparência Internacional.
Uma parte desses casos está ligada à empreiteira Odebrecht, no centro de um grande escândalo de corrupção que socava a classe política regional.
Dinheiro e política
"A relação entre dinheiro e política está no coração da questão", explica à AFP Gaspard Estrada, diretor do Opalc, o observatório da América Latina do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Do Brasil à Argentina "encontramos os mesmos mecanismos com empresários corruptos e políticos que buscam financiar as suas campanhas", sintetiza.
"Para sair dessa dependência e romper esse círculo vicioso é necessário um marco mais estrito: deve haver limites para as doações de pessoas privadas acompanhado de um financiamento estritamente público", acrescenta.
O grande problema institucional na América Latina é a falta de mecanismos de controle e equilíbrio
Raúl Ferro, do Centro para a Abertura e o Desenvolvimento da América Latina (Cadal)
"Não há dúvidas de que os cadernos descrevem com precisão o modo como o kirchnerismo arrecadou ilegalmente fundos durante sete anos sem que levantasse a suspeita de nenhum órgão de controle", observou recentemente o cientista político argentino Nicolás Solari, radicado em Miami.
'Cada vez mais difícil'
"Na América Latina temos uma história de corrupção. Sempre haverá casos, está na natureza do ser humano", admite Ferro, que, no entanto, se diz "otimista, sem ser ingênuo".
"O importante é que é cada vez mais difícil cometer delitos e cada vez é mais fácil denunciá-los. Os escândalos permitem ter pequenos avanços", opina.
"A operação 'Lava Jato' no Brasil gerou uma dinâmica na região à qual se somou um mecanismo novo e interessante que é a cidadania. Temos vistos milhares de pessoas marchando contra a corrupção. Este é um motivo de esperança", afirmou o advogado José Ugaz.
"Tomara que não acabe como a Primavera Árabe, em violência. A população tem que ficar alerta", concluiu.
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