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Um ano depois da república falida, Puigdemont relança seu desafio

27/10/2018 17h52

Barcelona, 27 Out 2018 (AFP) - Um ano depois de tentar separar a Catalunha do restante da Espanha, o ex-presidente regional Carles Puigdemont tenta, do exílio, relançar seu desafio, com um novo partido, que visa a unificar o movimento de independência ante bases cada vez mais desencantadas.

"Há um ano, decidimos que continuaríamos lutando, não importando as condições, que nos comprometíamos a construir um país melhor, uma república (...) Por isso nasce a Crida, este novo partido", declarou Puigdemont, instalado na Bélgica.

Apesar de ele querer aglutinar o restante das sensibilidades separatistas por trás desta formação, seus antigos aliados do ERC, agora com posturas mais moderadas, recusam-se a integrá-lo.

Apenas seu partido atual, o PDeCAT, que acaba de ser expulso da família liberal de formações europeias Alde, pensa em se unir a ele.

"Não nos rendemos, nem nos renderemos", insistiu Puigdemont diante de centenas de fiéis reunidos para o ato de fundação da Crida, em Manresa, a 60km de Barcelona.

Nem o local nem a data são casuais: a apenas 6 km da prisão de Lledoners, onde vários líderes independentes aguardam julgamento por rebelião, e apenas um ano depois do Parlamento catalão proclamou uma república independente, em 27 de outubro de 2017.

"Este ano que nos separa desta data histórica não transcorreu como queríamos", reconheceu em discurso solene o sucessor de Puigdemont, o atual presidente regional, Quim Torra, também fundador da Crida. "Mas voltar atrás não é uma opção."

A proclamação da independência, no ano passado, foi abafada pelo governo espanhol, que suspendeu a autonomia de fato, destituiu o executivo de Puigdemont e dissolveu o Parlamento para convocar eleições antecipadas.

A região só recuperou a autonomia em 2 de junho, com a formação do governo de Quim Torra, que, apesar de seu discurso inflamado, freou a desobediência e negocia com o novo governo espanhol, do socialista Pedro Sánchez, o que causou mal estar entre o segmento mais radical do separatismo.

Apenas 200 pessoas se reuniram para um protesto em Barcelona convocado pelos Comitês de Defesa da República (CDR), grupos criados há um ano para forçar a ruptura com a Espanha e que, no aniversário do referendo ilegal de 1º de outubro, enfrentaram a polícia regional, controlada por Torra.

"Em vez de construir a república e defendê-la, estamos no processo contrário, de retorno à autonomia. Querem negociar, e isto implica abandonar o unilateralismo", lamentou o operador de logística Alex Schofield, 26. "Nota-se e respira-se a frustração. Queremos que o movimento siga adiante, e agora está estagnado."

"Este aniversário é um pouco agridoce, um dia de grandes expectativas não materializadas", disse Elisenda Paluzie, presidente da influente associação separatista ANC.

Organizadora de manifestações pela independência maciças nos últimos anos, conseguiu reunir neste sábado apenas centenas de pessoas para reivindicar avanços na direção da ruptura com o governo.

- Crise no separatismo -

Com um apoio social que não alcança 50% dos votos, e antes as consequências judiciais graves para a cúpula separatista que organizou a tentativa de secessão, com nove presos e sete políticos exilados, parte do separatismo aposta na moderação.

Este é o caso de parte do PDeCAT e, principalmente, do ERC, que tem seu líder Oriol Junqueras preso e que, inclusive, alinhou-se com a oposição para impedir que Puigdemont e outros três companheiros desobedecessem a sua suspensão como deputados imposta pelo Supremo Tribunal.

Como consequência, os separatistas, que tinham 70 dos 135 deputados, perderam quatro votos e ficaram sem a maioria absoluta que conquistaram em 2015.

Em minoria, Torra quer esperar o fim do julgamento contra a cúpula separatista pela tentativa de secessão, que deve começar em janeiro, sem Puigdemont.

Um veredito contundente - nove são acusados de rebelião, crime que pode ser punido com até 25 anos de prisão - poderia reagrupar o movimento e fazê-lo ganhar votos em eleições antecipadas.