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Autoridades fronteiriças dos EUA pedem recursos após morte de menino migrante

26/12/2018 18h40

El Paso, Estados Unidos, 26 dez 2018 (AFP) - O serviço de vigilância fronteiriça dos Estados Unidos informou nesta quarta-feira (26) que está sobrecarregado pelo "imenso fluxo" de famílias migrantes que chegam pela fronteira com o México e pediu ao Congresso mais fundos para assistência médica depois da morte de um menino guatemalteco - a segunda criança migrante falecida sob custódia das autoridades americanas.

O menino morreu pouco antes da meia-noite de 24 de dezembro, após apresentar sintomas de uma doença infecciosa contagiosa - que não foi especificada - durante o dia.

A tragédia ocorreu cerca de 15 dias depois da morte de outra menina migrante de sete anos, que também tinha sido detida após cruzar a fronteira ilegalmente acompanhada do pai.

O menino morto foi identificado pelas autoridades guatemaltecas como Felipe Gómez. Tinha oito anos e partiu com o pai, Agustín Gómez, da localidade indígena maia-chuj de Nentón, no departamento de Huehuetenango, na parte ocidental do país, perto da fronteira mexicana.

Segundo o Departamento de Segurança Nacional (DHS), 60% das pessoas que cruzam a fronteira sem documentos são crianças ou famílias, um volume para o qual as instalações não estão preparadas.

O comissário do serviço de vigilância fronteiriça (CBP), Kevin K. McAleenan, disse que a agência é incapaz de lidar com a chegada de milhares de pessoas e que suas instalações foram construídas há décadas para abrigar homens atravessando sozinhos a fronteira.

- Pedido de ajuda -"Precisamos da ajuda do Congresso, precisamos de um orçamento para assistência médica e mental para as crianças em nossas instalações", disse McAleenan à CBS News.

Segundo o funcionário, até o final deste ano, 25.000 crianças migrantes terão sido detidas nas instalações dos EUA, um nível sem precedentes.

"É um fluxo enorme, isso é muito diferente do que vimos antes", disse o comissário, acrescentando que a epidemia de gripe sazonal representa um desafio em relação à capacidade das autoridades de garantir o bem-estar das crianças.

Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores da Guatemala, o menino e seu pai foram presos em 18 de dezembro, depois de cruzarem de forma irregular a fronteira para os Estados Unidos, passando pela cidade de El Paso, no Texas.

No dia 23 foram transferidos para a estação de Alamogordo, no estado vizinho. Na segunda-feira, 24, Felipe Gómez foi transferido para um hospital depois de apresentar sintomas de doença.

A equipe diagnosticou-o com um resfriado comum e depois se descobriu que ele estava com febre. Ele recebeu alta no meio da tarde, com receitas de ibuprofeno e amoxicilina.

Mais tarde, ele retornou ao centro de saúde depois de ter náuseas e vômitos e morreu pouco antes da meia-noite.

- Exames em todas as crianças -Esta morte se soma à da menina guatemalteca Jakelin Caal no hospital de El Paso, Texas, por causas ainda não esclarecidas, no dia 8 de dezembro, depois de ter sido presa com seu pai em 6 de dezembro por ter atravessado ilegalmente a fronteira com o México.

Após a morte do segundo menor, McAleenan anunciou que a agência está "realizando exames médicos secundários em todas as crianças sob os cuidados e custódia do CBP" e "revisando suas políticas com atenção especial ao cuidado e custódia de crianças menores de 10 anos".

O caso de Jakelin gerou indignação nos Estados Unidos, e uma delegação do Congresso que visitou o local onde a menina foi detida denunciou "falhas sistêmicas" no processo e condições de higiene deploráveis.

- "Crise humanitária" -Al Green, representante do Texas para a Câmara dos Representantes, que fazia parte de uma delegação que visitou as instalações onde Jakelin Caal morreu, posicionou-se contra a construção do muro na fronteira com o México.

"Senhor Presidente, quantas vidas devem ser perdidas antes de reconhecermos a magnitude desta crise humanitária? Um muro não vai consertar essa tragédia humana", disse.

"A trágica morte de um menino inocente no dia de Natal parte o coração de todos nós", disse Nancy Pelosi, líder da bancada democrata na Câmara de Representantes.

Para conter a imigração, Trump quer construir um muro na fronteira com o México, cujo orçamento de cerca de US$ 5 bilhões é o objeto de uma disputa com a oposição democrata, o que causou uma paralisação parcial do governo federal desde as primeiras horas de sábado. O presidente prometeu que não cederá até obter recursos para o muro.