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Risco iminente de rompimento de outra barragem em Brumadinho

27/01/2019 12h23

Brumadinho, Brasil, 27 Jan 2019 (AFP) - A cidade de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, despertou neste domingo com os sons das sirenes pelo risco iminente de rompimento de outra barragem, dois dias depois da catástrofe que deixou pelo menos 37 mortos.

Em um comunicado, a Vale informou que acionou as sirenes às 5h30 "ao detectar o aumento dos níveis de água nos instrumentos que monitoram a barragem VI".

A estrutura é parte da mina Córrego do Feijão, onde a barragem I se rompeu na sexta-feira, uma catástrofe que deixou até agora 37 mortos e mais de 250 desaparecidos.

De acordo com informações da Vale e dos bombeiros, não há resíduos de mineração na barragem, que contém entre 3 e 4 milhões de metros cúbicos de água.

Os bombeiros informaram que as comunidades próximas ao complexo estão sendo evacuadas.

"Atenção, atenção, evacuação geral da área. Procure o lugar mais alto da cidade. Evacuação de emergência, procure o lugar mais alto da cidade", anunciaram os alto-falantes em Brumadinho durante a madrugada, acordando os moradores da cidade de 39.000 habitantes abalada pela tragédia de sexta-feira.

"Imediatamente após o acionamento do alarme, o Corpo de Bombeiros iniciou a evacuação das comunidades que ficam próximas à barragem", declarou Pedro Aihara, tenente e porta-voz do Corpo de Bombeiros.

Os moradores estão sendo levados para as áreas previstas no plano de emergência.

"Eu estava em casa, a sirene tocou às 5h30 e logo depois veio o pessoal da Defesa Civil, abrindo o portão e pedindo que todo mundo evacuasse. Tive que sair, com minha família, meus filhos. Até agora estamos na rua porque não podemos ficar dentro de casa. Ficamos chateados, tensos, porque deixar a nossa casa não é fácil, faz 15 anos que moramos aí. Agora temos que deixar tudo e sair correndo pelo risco de mais uma barragem trazer problema pra gente", afirmou José Maria Silva, de 59 anos, à AFP

"Várias pessoas saíram do morro correndo, desesperadas e ouvimos a sirene e o alto-falante dizendo que tinha risco da outra barragem romper. Quem não tinha carro foi embora a pé, com mochila nas costas, tudo que podia levar. Criança, idoso, todos subindo", disse Fágner Miranda, de 29 anos.

"A Vale tinha que ter olhado isso antes. Acabou com a gente, acabou com um monte de amigo da gente. É um desastre", completou.

Os bombeiros anunciaram que "devido ao risco de rompimento da barragem, os trabalhos de busca estão temporariamente interrompidos porque o foco agora é a evacuação desta área", em referência à procura de sobreviventes e recuperação de corpos.

O porta-voz destacou que a área conhecida como Parque da Cachoeira, com 25 casas, é o principal ponto de preocupação.

Os trabalhos de busca de sobreviventes na região foram interrompidos no sábado às 20H00 e foram retomados às 4H00 de domingo, antes da nova paralisação poucas horas depois.

O balanço mais recente registra 37 mortos, oito deles já identificados, 23 feridos hospitalizados e 192 pessoas resgatadas na mina operada pela Vale.

As autoridades anunciaram ainda que 256 pessoas continuam desaparecidas.

A tragédia de sexta-feira provocou rios de lama que destruíram boa parte das instalações do complexo de mineração Córrego do Feijão, assim como outras áreas próximas.

Durante o sábado, dezenas de helicópteros sobrevoaram a região em busca de sobreviventes na grande área dominada por um rio de lama que sepultou casas, veículos e estradas, além de ter devastado a vegetação.

O desespero domina as famílias que perderam ou não conhecem o paradeiro de seus parentes.

Algumas pessoas percorrem as ruas com fotos de familiares desaparecidos. Outros moradores ajudam as autoridades a localizar as casas soterradas, caminhando entre os escombros e o barro.

- Ajuda de Israel -O balanço de mortos supera o da tragédia de novembro de 2015, quando o rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, a 125 km de Brumadinho, matou 19 pessoas e provocou o pior desastre ambiental da história do Brasil.

O local pertencia a Samarco, uma empresa controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.

O presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a zona de helicóptero no sábado e se comprometeu no Twitter a "apurar os fatos, cobrar justiça e prevenir novas tragédias como as de Mariana e Brumadinho".

Bolsonaro aceitou a ajuda tecnológica oferecida pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para a busca de desaparecidos.

O presidente confirmou no Twitter que 140 pessoas e 16 toneladas de equipamentos para as buscas devem chegar neste domingo à região da tragédia, procedentes de Israel.

- Vale na mira -Segundo o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, a represa não era usada há três anos e era verificada regularmente.

A empresa está sofrendo as consequências legais do acidente.

A justiça já bloqueou 11 bilhões de reais da Vale para compensar os prejuízos e danos ambientais provocados pelo rompimento da barragem em Brumadinho.

O Ministério Público de Minas Gerais informou que no sábado à noite a justiça congelou 5 bilhões de reais. Este valor é adicionado a duas ações de sexta-feira, uma de 5 bilhões e outra de 1 bilhão.

O governo federal anunciou no sábado a aplicação de uma primeira multa de R$ 250 milhões à Vale por crimes ambientais, enquanto o governo de Minas Gerais aplicou outra multa de R$ 99 milhões.

A tragédia provocou duras críticas de organizações ambientalistas, como Greenpeace e SOS Mata Atlântica, de líderes políticos e de especialistas em gestão de riscos.

"Este é um governo que não indica que atuará no sentido de maior controle na questão ambiental, de maior cuidado com o comportamento corporativo. Ele vai considerar que as corporações a priori funcionam de maneira responsável e o que a gente vem vendo é o contrario"", disse à AFP Luiz Jardim Wanderley, especialista em mineração da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Wanderley afirmou em que em Minas Gerais "quase 10% das barragens ou não estão com a sua estabilidade garantida ou não há informação suficiente para definir a condição da barragem".

"Muito possivelmente a gente vai ter outros casos, podem não ser dessa magnitude, podem ser de magnitude menor, ou podem ser de magnitudes ainda maiores. Estes desastres poderiam ser ainda maiores".