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Presidente palestino aceita renúncia de seu governo

29/01/2019 19h42

Ramallah, Territórios palestinos, 29 Jan 2019 (AFP) - O presidente palestino, Mahmud Abbas, aceitou, nesta terça-feira (29), a renúncia de seu governo, em uma reorganização governamental vista como um novo passo deste líder para o fortalecimento de sua posição em meio à profunda divisão política.

Analistas veem a substituição do primeiro-ministro, Rami Hamdallah, após cinco anos no cargo como parte dos esforços de Abbas para isolar seus adversários políticos do Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

O governo de Hamdallah permanecerá no cargo até que a nova administração seja nomeada.

Na noite desta terça-feira, informações da agência oficial Wafa confirmaram que Abbas aceitou a renúncia, mas pediu ao governo que continuasse "encarregado dos negócios até a formação do novo governo".

Acrescentou que Abbas, de 83 anos, vê o novo governo como um passo para as eleições parlamentares, que não são realizadas desde 2006 por causa da divisão política.

A demissão era esperada. Na segunda-feira, o primeiro-ministro Rami Hamdallah havia declarado que estava colocando o seu governo "à disposição do presidente" da Autoridade Palestina.

Abbas, sem contrapoder na Autoridade Palestina, busca a formação de uma nova coalizão.

O governo palestino emana da Autoridade Palestina, uma entidade provisória internacional reconhecida e destinada a prefigurar um Estado independente que integraria a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, separadas por algumas dezenas de quilômetros do território israelense.

A situação atual reflete as devastadoras divisões que há mais de 10 anos existem entre a Autoridade e o partido laico Fatah que a domina, por um lado, e o movimento islamita Hamas, pelo outro.

O Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em 2007, depois de uma luta com o Fatah de Abbas, depois da rejeição da comunidade internacional de reconhecer a vitória dos islamitas nas eleições parlamentares de 2006.

O Hamas, que se nega a reconhecer Israel, é considerado um grupo "terrorista" por este país, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE), e é rechaçado por alguns países árabes.

Mas a Autoridade Palestina exerce seu poder somente sobre alguns setores da Cisjordânia, território palestino limitado pela ocupação israelense.

- Guerras e divisões -Israel e Hamas travaram três guerras em Gaza desde 2008.

As divisões palestinas são consideradas um obstáculo para a solução do conflito com Israel e também para a situação insustentável em Gaza, marcada pelo conflito, pelos bloqueios israelense e egípcio, e pela extrema pobreza.

Até agora, todos os esforços para acabar com as enormes divergências entre o Fatah e o Hamas fracassaram.

O comitê central do Fatah recomendou no domingo a formação de um novo governo composto por membros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), entidade internacionalmente reconhecida como representante dos palestinos dos Territórios e da diáspora.

O Hamas não faz parte da OLP.

Um porta-voz do Hamas, Fawzi Barhum, acusou Abbas de tentar criar um "governo separatista" com fins pessoais.

Nos últimos anos, Abbas tomou uma série de medidas de represália para tentar, em vão, que a Autoridade Palestina recuperasse o controle na Faixa de Gaza.

Para os observadores, essas medidas estimularam as tensões no enclave, que esteva prestes a entrar em uma nova guerra contra Israel em 2018.

No entanto, a Autoridade teme ficar em segundo plano no âmbito internacional, cujos atores lidam cada vez mais com o Hamas, dada a difícil situação em Gaza.

Isso também ocorre em meio a um crescente afastamento entre Cisjordânia e Gaza, o que complica cada vez mais a criação de um Estado palestino que inclua ambos os territórios.

A Autoridade Palestina está muito desacreditada entre os palestinos. Recentemente, enfrentou greves contra um novo sistema de aposentadoria. Abbas finalmente decidiu retirar a reforma, segundo a agência Wafa.