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ONU deveria liderar resposta à emergência humanitária na Venezuela, dizem especialistas

Mulher pede água e eletricidade em protesto na Venezuela; o país passa por uma grave crise de abastecimento -
Mulher pede água e eletricidade em protesto na Venezuela; o país passa por uma grave crise de abastecimento

04/04/2019 14h51

A crise na Venezuela criou uma "emergência humanitária complexa", que exige uma resposta em grande escala da ONU, destacaram especialistas da Universidade Johns Hopkins e da ONG Human Rights Watch em um relatório conjunto.

"A combinação de escassez de medicamentos com escassez de comida, somada à propagação de doenças através das fronteiras venezuelanas, representa uma emergência humanitária complexa que requer uma resposta contundente dos atores humanitários da ONU", afirma o documento.

A entrada de ajuda humanitária na Venezuela, que enfrenta uma severa crise com falta de alimentos básicos e remédios, é parte central da disputa pelo poder iniciada em janeiro entre o presidente Nicolás Maduro e o líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por Estados Unidos e mais de 50 países.

Um relatório divulgado na semana passada pela ONU indica que quase 25% da população da Venezuela, ou seja sete milhões de pessoas, precisam de ajuda humanitária urgente.

"O colapso absoluto do sistema de saúde da Venezuela, combinado com a escassez generalizada de alimentos, está aprofundando o calvário que vivem os venezuelanos e colocando mais pessoas em risco. Precisamos da liderança da ONU para contribuir para o fim desta grave crise e salvar vidas", disse Shannon Doocy, professora associada de Saúde Internacional da Faculdade Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins.

Os autores do relatório destacaram que o secretário-geral da ONU, António Guterres, deveria exigir que "as autoridades venezuelanas publiquem dados oficiais sobre doenças, epidemiologia, segurança alimentar e nutrição para que a organização possa fazer uma avaliação completa".

O diretor para as Américas da ONG Human Rights Watch (HRW), José Miguel Vivanco, disse em coletiva de imprensa que se o secretário-geral da ONU "continuar ignorando a gravidade da emergência humanitária, as condições vão continuar piorando e os venezuelanos, especialmente os mais vulneráveis, os mais pobres (...) vão enfrentar uma situação cada vez mais deteriorada".

"Daí a importância da intervenção, da liderança de Antonio Guterres na situação na Venezuela", afirmou Vivanco.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) Luis Almagro disse no Twitter que apoia o apelo da HRW.

"A crise humanitária e a dor causada pela ditadura usurpadora da Venezuela fazem com que seja necessário todos os mecanismos de resposta do sistema da ONU", afirmou Almagro.

Maduro vincula a falta de produtos de primeira necessidade às sanções de Washington. A oposição, organizações de defesa dos direitos humanos e pacientes denunciam há vários anos a falta de remédios e responsabilizam o governo pela redução das importações, em meio a uma grave crise econômica.

Na semana passada, a Cruz Vermelha internacional anunciou que está preparada para distribuir "ajuda humanitária" em um prazo de 15 dias para 650.000 pessoas, mas advertiu que não aceitará "interferências" políticas em seu trabalho.

"A Secretaria Geral das Nações Unidas deve advertir sobre o que está acontecendo e implementar um plano de assistência em grande escala para a Venezuela que seja neutro, independente e imparcial", afirmou o dr. Paul Spiegel, diretor do Centro pela Saúde Humanitária da Universidade Johns Hopkins.

O diretor para as Américas da ONG Human Rights Watch (HRW), José Miguel Vivanco, afirmou que as "autoridades venezuelanas publicamente minimizam a crise, censuram informação, perseguem e adotam represálias contra os que compilam dados ou informam sobre o que acontece".

"Estas autoridades são responsáveis pela perda desnecessária de vidas provocada por sua negação da crise e suas políticas de obstrução", disse.