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Iêmen, um país devastado por cinco anos de guerra

06/07/2019 13h01

Sanaa, Iêmen, 6 Jul 2019 (AFP) - Há cinco anos, quando os rebeldes huthis assumiram o controle de Amran, a 50 quilômetros da capital do Iêmen, Mohamed al-Najri estava convencido, como muitos outros, de que seria por pouco tempo, mas o país terminou em guerra.

Amran foi a primeira grande cidade a cair nas mãos dos huthis. Depois, o grupo assumiu o controle de zonas extensas do território deste país, o mais pobre da península arábica, durante uma ofensiva relâmpago lançada em 8 de julho de 2014 de seu reduto de Saada, no norte.

"Passaram-se cinco anos e sabemos que a guerra está longe de acabar", declara Najri.

"Nossa situação não parou de piorar. Chegamos ao fundo do poço. Tudo está em ruínas", desabafa este funcionário do Ministério da Educação sem salário há quase dois anos.

Mohamed Taha, um jornalista de Amran de 48 anos, perdeu a esperança de que o conflito termine e garante que, em cinco anos, ele e sua família se adaptaram "a esta nova vida".

"É claro que, no início, nos afetou, mas fomos capazes de viver com isso. Hoje tanto faz saber se vai continuar, ou não", afirma, desanimado.

A guerra no Iêmen deixou milhares de mortos, civis em sua maioria, de acordo com diferentes fontes de organizações humanitárias.

Cerca de 3,3 milhões de pessoas continuam deslocadas, e 24,1 milhões, ou seja, 80% da população, precisam de ajuda, alerta a ONU. Segundo as Nações Unidas, trata-se da pior crise humanitária no mundo hoje. As crianças sofrem de "desnutrição aguda".

Muitos hospitais estão destruídos, ou sofreram grandes danos, e uma epidemia de cólera causa estragos. Educação e economia também vão de mal a pior.

A situação se deteriorou muito desde o começo, em março de 2015, da intervenção da coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos para conter o avanço dos insurgentes.

Em Amran, rebeldes armados vigiam dia e noite o bairro histórico, cujos prédios de cor ocre estão cobertos de lemas revolucionários.

"Morte aos Estados Unidos. Morte a Israel, malditos sejam os judeus e vitória ao Islã", lê-se em um muro.

- Fratura nacional -Quando Amran caiu, após dois meses de cerco, ninguém tinha consciência das "perigosas" intenções dos huthis, afirmam funcionários locais.

Conhecida por sua riqueza arqueológica, como a espetacular ponte Shahara, a cidade é passagem obrigatória entre o bastião rebelde de Saada e a capital, Sanaa.

Cinco anos depois do início da disputa, os huthis, apoiados pelo Irã, continuam controlando boa parte do território, apesar das operações das forças governamentais e dos bombardeios da coalizão árabe.

Estes combatentes controlam Sanaa, e muitas cidades do norte, do centro e do oeste do Iêmen, incluindo Hodeida, uma localidade portuária às margens do mar Vermelho, principal ponto de entrada da ajuda humanitária.

"A guerra fragmentou o país com fraturas identitárias, geográficas e ideológicas de uma forma quase inimaginável até explodir", afirma Peter Salisbury, analista do International Crisis Group (ICG).

"Caso fosse possível, seriam necessários muito mais do que cinco anos para voltar ao grau de coesão interna de 2014", acrescenta.

Os rebeldes e o governo participaram de rodadas de negociação promovidas pela ONU. As últimas foram em dezembro, e ainda não se vislumbra qualquer saída para o conflito.

"O país não está à beira do precipício. O país já caiu", disse na quinta-feira o diretor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o Oriente Médio, Fabrizio Carboni, em Genebra.

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