Topo

Argentina recorda 25 anos de atentado a centro judaico AMIA pedindo justiça

18/07/2019 12h34

Buenos Aires, 18 Jul 2019 (AFP) - Familiares das vítimas e sobreviventes renovaram nesta quinta-feira seu pedido de justiça, quando completam-se 25 anos do atentado ao centro judaico AMIA em Buenos Aires, o pior ataque terrorista da história argentina, que até hoje segue impune.

Como em todos os anos desde 18 de julho de 1994, as sirenes da cidade soaram às 09h53 para recordar o momento da explosão que matou 85 pessoas e deixou cerca de 300 feridos.

O atentado ocorreu numa segunda-feira. Um carro-bomba explodiu na sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) e da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), localizadas no movimentado bairro comercial de Once, no centro de Buenos Aires.

Em meio a um silêncio sepulcral, centenas de pessoas se congregaram em frente à reconstruída sede judaica, carregando fotos das vítimas, cujos nomes foram lidos em voz alta no ato.

A Argentina acusa altos ex-funcionários iranianos pelo atentado, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani, e o movimento xiita libanês Hezbollah.

O Irã sempre recusou que eles fossem depor. Suspeita-se que tiveram uma poderosa conexão local, até hoje não identificada.

Um memorando de entendimento com o Irã, assinado em 2012 pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), procurava, segundo seus autores, levar os acusados a serem questionados fora da Argentina, fato que nunca ocorreu. Hoje, isso é investigado pela Justiça por acobertamento e traição à pátria.

O procurador Alberto Nisman, que investigou o atentado e denunciou o pacto com o Irã, foi encontrado morto em sua residência de Buenos Aires em 2015. Nesta quinta-feira, seu nome foi aplaudido neste ato.

- 'Mesma dor' -"Vinte e cinco anos depois, temos a mesma dor que a bomba assassina nos deixou no coração e na alma", disse o presidente da AMIA, Ariel Eichbaum.

"Como é possível que 25 anos depois não haja um único responsável preso por este crime?", indagou.

Florentino Sanguinetti, diretor do Hospital das Clínicas, que fica muito perto da sede da AMIA, recebeu os feridos no dia do atentado. Para ele, a data "dividiu nossa vida em duas. Nunca voltamos a ser os mesmos", afirmou, lembrando dos médicos e assistentes que atenderam a emergência.

Em 1992, outro atentado com bomba tinha ocorrido na embaixada de Israel, com saldo de 29 mortos e 200 feridos. Nenhum culpado foi encontrado.

O presidente Mauricio Macri não participou da cerimônia, que teve a presença de vários membros de seu gabinete. À tarde, fará um evento de recordação na sede da Presidência.

Nesta quarta, criou, por decreto, um registro de "organizações terroristas", que permitiria incluir o Hezbollah.

"A acusação contra o Irã e o Hezbollah está firme e sólida", afirmou Eichbaum.

- 'Justiça afastada e abstrata' -O dirigente judeu também questionou "o ritmo escandalosamente lento da Justiça. A cada ano que passa, a Justiça fica mais afastada e abstrata", pontuou.

Em fevereiro passado, um ex-chefe da Inteligência e um ex-juiz foram condenados a seis e quatro anos de prisão, respectivamente, por desviar a investigação do ataque. O então presidente Carlos Menem (1898-1999) foi considerado inocente de acobertamento dos autores.

O acobertamento teria consistido em pagar ao suposto vendedor da caminhonete-bomba cerca de 400 mil dólares para que acusasse, falsamente, um grupo de policiais, enquanto os primeiros acusados eram postos em liberdade.

Familiares das vítimas agrupados na organização Memória Ativa processaram e denunciaram o acobertamento, em um confronto das autoridades com a população.

Paralelamente ao ato em frente à AMIA, o Memória Ativa fez sua própria homenagem e reivindicou justiça em frente aos tribunais.

sa/nn/lda/ll