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Irã diz a Londres que 'protegerá' região do Golfo

23/07/2019 19h25

Teerã, 23 Jul 2019 (AFP) - O governo iraniano enviou, nesta terça-feira (23), uma advertência a Boris Johnson, novo premiê britânico, afirmando que Teerã vai proteger o Golfo, em meio à crise dos petroleiros entre a República Islâmica e o Reino Unido.

"Temos 1.500 milhas (cerca de 2.400 quilômetros) de costa no Golfo Pérsico. São nossas águas, e vamos protegê-las", tuitou o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif.

Felicitando Johnson por sua vitória, Zarif lembrou a posição de Teerã, segundo a qual é "responsável pela segurança e pela liberdade de navegação no Golfo Pérsico".

Mais cedo, a página on-line do governo iraniano havia citado declarações similares do presidente Hassan Rohani, durante reunião com o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, na segunda-feira à noite.

"Ao longo da história, o Irã foi o principal guardião da segurança e da liberdade de navegação no Golfo Pérsico, no Estreito de Ormuz e no Mar de Omã, e continuará a sê-lo", declarou o presidente iraniano, Hassan Rohani, de acordo com um comunicado do governo.

"Os problemas na região precisam ser resolvidos pelo diálogo, negociação e cooperação entre [...] os países da região", disse Rohani, segundo a presidência iraniana.

Região estratégica para o tráfego global de petróleo, o Golfo atravessa um novo período de turbulência, desta vez ligado à exacerbação das tensões entre Teerã e Washington desde a retirada unilateral americana do acordo nuclear internacional de 2015.

Além disso, desde maio, sabotagens e ataques a navios no Golfo - imputados pelos Estados Unidos ao Irã, que rejeita as acusações -, mas também a destruição de um drone americano pelo Irã, aumentaram ainda mais a pressão.

- Confiscos cruzados -Com o confisco na sexta-feira por parte do Irã do "Stena Impero", um petroleiro sueco de bandeira britânica, 15 dias após o apresamento de um petroleiro iraniano pelas autoridades britânicas em Gibraltar, a crise se complicou.

A Grã-Bretanha é um dos três Estados europeus do acordo nuclear (P5+1).

Segundo Teerã, uma nova "reunião extraordinária" para tentar salvar este pacto será realizada em 28 de julho, em Viena, entre os Estados-partes (Alemanha, China, França, Grã-Bretanha, Irã e Rússia).

A União Europeia, que presidirá a reunião, disse que se trata de uma iniciativa de Paris, Berlim, Londres e Teerã. Segundo o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, as três capitais trabalham em uma "missão de acompanhamento e observação da segurança marítima no Golfo", depois que o navio-tanque britânico foi retido.

Por meio deste acordo, Teerã prometeu nunca adquirir armas atômicas e concordou com restringir seu programa nuclear e passar por um rigoroso regime de inspeção, em troca de uma redução das sanções internacionais.

O restabelecimento das sanções americanas a partir de agosto de 2018 e a política de "pressão máxima" de Washington mergulharam a economia iraniana em uma recessão violenta e privaram o país dos benefícios econômicos esperados do pacto.

Em resposta à decisão americana de deixar o acordo e para forçar os europeus a tomarem medidas concretas, Teerã começou a abandonar alguns dos pontos do texto. Até então, o Irã respeitava seus compromissos, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

O governo iraniano ameaça dar mais um passo no início de setembro, se suas exigências não forem atendidas. Seus parceiros continuam a pedir ao Irã, porém, que continue a "respeitar integralmente" o acordo.

Na segunda-feira, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, anunciou que deseja criar "o mais rápido possível" uma missão de proteção marítima liderada pela Europa na região do Golfo. Ele insistiu em que esta medida "não faz parte da política dos EUA de pressão máxima sobre o Irã, porque continuamos determinados a preservar o acordo nuclear".

Nesta terça, a televisão iraniana exibiu imagens da tripulação do "Stena Impero" a bordo do navio retido no porto de Bandar Abbas.

Em visita a Paris, o vice-ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, entregou ao chanceler francês, Jean-Yves Le Drien, uma mensagem escrita de Rohani ao presidente francês, Emmanuel Macron.

"Essas trocas fazem parte dos esforços em curso para evitar um aumento adicional nas tensões", disse o ministério em um comunicado.

Já os Estados Unidos disseram acreditar ter derrubado um segundo drone iraniano em 18 de julho no Estreito de Ormuz, de acordo com comandante das Forças Armadas dos EUA no Oriente Médio.

"Temos certeza de que derrubamos um drone e talvez tenhamos derrubado um segundo", explicou o general Kenneth McKenzie em entrevista à CBS News.

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