EUA: contatos com Caracas visam à saída de Maduro do poder
A Casa Branca esclareceu hoje que contatos "em um nível muito alto" com o governo de Nicolás Maduro evocados pelo presidente Donald Trump apontam apenas para a "saída" do presidente venezuelano do poder.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que as aproximações entre funcionários venezuelanos e dos Estados Unidos "pelas costas" de Maduro foram para discutir sua saída do poder e a realização de novas eleições.
A Venezuela rompeu relações com Washington em 23 de janeiro passado, depois de Trump declarar que não reconheceria a legitimidade de seu mandato.
Ontem, Maduro confirmou contatos de membros de seu governo com altos funcionários da administração Trump, dizendo que aconteceram sob sua "autorização expressa" e para "buscar regular" o "conflito" entre ambos os países.
Bolton rebateu, garantindo que "os únicos assuntos" nas conversas foram a saída de Maduro e a convocação de novas eleições, sem mencionar outros pontos.
"Como o presidente [Trump] declarou em repetidas ocasiões, para pôr fim ao roubo dos recursos do povo venezuelano e à contínua repressão, Maduro deve sair", tuitou Bolton.
"Os únicos assuntos discutidos por aqueles que estão se aproximando pelas costas de Maduro são sua saída e eleições livres e justas", acrescentou.
Ontem, Trump disse à imprensa que seu governo mantém conversas "com vários representantes" da Venezuela.
"Não quero dizer quem, mas estamos falando em muito alto nível", disse Trump ao ser questionado sobre informações de uma aproximação da Casa Branca com Diosdado Cabello, considerado o líder governista venezuelano mais poderoso depois de Maduro.
"Estamos ajudando a Venezuela tanto quanto podemos. Nos mantemos à margem, mas estamos ajudando. Precisa de muita ajuda. Há 15 anos, era um dos países mais ricos. Agora é um dos países mais pobres", afirmou o presidente americano na terça.
Cabello lidera a Assembleia Nacional Constituinte, com poderes extraordinários para substituir a Assembleia Nacional, eleita em 2015 e sob controle da oposição.
'Torpe', diz Guaidó
"Confirmo que, há meses, há contatos de altos funcionários do governo dos Estados Unidos, de Donald Trump, e do governo bolivariano que eu presido, sob minha autorização expressa, direta. Vários contatos, várias vias, para buscar regular este conflito", anunciou Maduro, pouco depois, em pronunciamento transmitido em rede de televisão e rádio.
"Há meses temos contatos. Assim como busquei o diálogo na Venezuela, busquei a forma de fazer o presidente Donald Trump ouvir a Venezuela de verdade", completou.
Em 7 de agosto, depois da última rodada de sanções dos Estados Unidos, Maduro se retirou de um diálogo com a oposição mediado pela Noruega.
Nesta quarta, o líder opositor Juan Guaidó chamou Maduro de "torpe" por - segundo ele - tentar fazer crer que mantém contato com os EUA.
"Maduro, o usurpador, já está desesperado e (é) tão torpe que teve que ir atrás do que diziam" de Diosdado Cabello, alfinetou Guaidó, reconhecido como presidente interino por cerca de 50 países.
Maduro quer mostrar que "era ele que estava no processo [de discussões com Washington] e, horas depois, ele é desmentido e cai no ridículo", acrescentou, em entrevista coletiva.
"A interlocução legítima da Venezuela está com o Parlamento (...) e com seu presidente encarregado", frisou.
Venezuela e Estados Unidos não têm embaixadores nas respectivas capitais desde 2010 e cultivam uma tensa relação desde a chegada ao poder, em 1999, do falecido líder Hugo Chávez, antecessor de Maduro. O representante de Trump para a crise venezuelana, Elliott Abrams, reconhece, contudo, que Washington conserva um canal diplomático com Caracas.
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