Boris Johnson pede à União Europeia para adiar Brexit, mas não assina carta
Resumo da notícia
- Deputados britânicos decidiram neste sábado adiar a decisão sobre o acordo do Brexit
- Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk anunciou neste sábado que recebeu pedido para adiar
- O primeiro-ministro britânico Boris Johnson insistiu que está determinado a retirar o país da União Europeia no fim do mês
- Para ser efetivo, o terceiro adiamento precisa ser aprovado de maneira unânime pelos outros 27 países do bloco, que exigirão uma justificativa
Os deputados britânicos decidiram neste sábado adiar a decisão sobre o acordo do Brexit, mas o primeiro-ministro Boris Johnson insistiu que está determinado a retirar o país da União Europeia no fim do mês.
Ele disse que se recusa a "negociar" um adiamento.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, confirmou na noite deste sábado que recebeu o pedido para adiar o Brexit do Reino Unido, que estava programado para 31 de outubro.
"O pedido de adiamento acaba de chegar. Agora vou começar a consultar os líderes da União Europeia sobre como agir", escreveu Tusk em sua conta no Twitter.
Uma fonte do governo britânico informou, contudo, que o premiê não assinou a carta que pede o adiamento. Johnson enviou uma segunda carta, desta vez assinada, em que especifica que não queria a prorrogação de prazo, mas que teve que pedir por ser obrigado por lei, após a decisão dos deputados.
A apenas 12 dias da data de saída do Reino Unido da União Europeia, os deputados aumentaram a confusão ao aprovar, por 322 votos contra 306, uma emenda segundo a qual o acordo não será adotado antes da aprovação de toda a legislação necessária para implementar o Brexit.
Para ser efetivo, o terceiro adiamento precisa ser aprovado de maneira unânime pelos outros 27 países do bloco, que exigirão uma justificativa.
Pouco depois da votação, a Comissão Europeia pediu ao governo de Boris Johnson para indicar "o mais rápido possível" o caminho a seguir.
Reações da Europa
"Corresponde ao governo britânico nos informar sobre as próximas etapas o mais rápido possível", escreveu no Twitter a porta-voz do Executivo europeu, Mina Andreeva.
O governo da França também reagiu e afirmou que um novo adiamento do Brexit "não interessa a ninguém". Johnson também conversou com Macron, segundo o Eliseu.
"Uma prorrogação só pode ser decidida por unanimidade", recordou o governo da Irlanda.
O idealizador da emenda que adiou o que deveria ser uma votação história foi o ex-ministro conservador Oliver Letwin, deputado independente desde que foi expulso de seu partido em setembro por votar contra o governo.
Letwin afirma respaldar o acordo anunciado na quinta-feira entre Londres e Bruxelas, mas pretendia evitar uma armadilha: ele temia uma votação neste sábado que levaria o país a um Brexit sem acordo no fim do mês.
Próximos passos
Aceitando o novo revés sem perder a determinação, Johnson anunciou que "na próxima semana o governo apresentará a legislação necessária".
Em caso de aprovação dentro do prazo, o país ainda poderia abandonar o bloco no fim de outubro.
A política britânica está paralisada por esta "única questão que a Câmara parece incapaz de resolver", afirmou Johnson aos deputados na abertura de uma sessão excepcional, a primeira convocada para um sábado desde a guerra das Malvinas em 1982.
Ele disse ainda que qualquer novo adiamento do Brexit seria "inútil, caro e destrutivo".
Protestos
Mas nem todos os britânicos estão de acordo com o primeiro-ministro. Enquanto os deputados debatiam a questão, milhares de pessoas protestavam no centro de Londres para reclamar um segundo referendo para tirar o país da crise iniciada com a consulta de 2016, quando o Brexit venceu com 52% dos votos.
A multidão pretendia caminhar em direção ao Parlamento.
Johnson permanece sem ter o êxito garantido, porque sua legislação sobre o Brexit pode ser rejeitada na próxima semana, como aconteceu três vezes com o acordo negociado pela ex-primeira-ministra Theresa May, especialmente por causa da oposição feita pelo pequeno partido norte-irlandês DUP, aliado chave do governo.
Acordo em discussão
O novo acordo retoma o que foi negociado por May, mas modifica o ponto de maior discussão: como evitar uma fronteira física entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, país membro da UE, para preservar o frágil acordo de paz da Sexta-Feira Santa, que em 1998 encerrou três décadas de conflito violento.
O texto atual prevê uma solução técnica complexa, com a qual a província britânica continuaria a ser administradas por algumas regulamentações do mercado único europeu e permaneceria de fato em uma união alfandegária com a UE, embora permanecesse legalmente na mesma zona aduaneira que o resto do Reino Unido.
A ideia enfrenta uma forte oposição do DUP, que não deseja que seu território receba um tratamento diferente do restante do país. "Deve ser um Brexit para todo o Reino Unido", afirmou o deputado norte-irlandês Nigel Dodds.
Contrários a qualquer tipo de Brexit, também votarão contra o governo os nacionalistas escoceses do SNP e os centristas do Partido Liberal-Democrata.
Os deputados do Partido Trabalhista, a principal força da oposição, também receberam ordem para rejeitar o texto. Embora alguns, procedentes de circunscrições eleitorais partidárias do Brexit, possam apoiar o governo.
Se o texto for rejeitado, o país mergulhará ainda mais no caos e arrastará uma UE cansada por uma questão que já deu por encerrada duas vezes.
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