Manifestantes antirracismo homenageiam vítimas da violência em cidade dos EUA
Um era "doce", o outro "morreu por nada". Depois de três madrugadas de protestos, centenas de manifestantes antirracismo prestaram, na noite de ontem, uma homenagem pacífica a duas pessoas mortas durante a violência deflagrada no dia anterior, em Kenosha, no estado americano de Wisconsin.
Para esta nova manifestação, que ignorou o toque de recolher, os organizadores multiplicaram os pedidos de calma.
"Todos estão esperando que a gente saia com raiva, que a gente enlouqueça na quarta noite, mas estamos fazendo um protesto pacífico como deveríamos", disse Big Homie Trail, um músico que participou do protesto.
"Vamos continuar marchando. Eles estão tentando nos silenciar, mas não vão", garantiu.
A violência começou no domingo nesta cidade de 100.000 habitantes em Wisconsin, no norte dos Estados Unidos, depois que um cidadão negro ficou gravemente ferido durante sua detenção.
Jacob Blake foi baleado sete vezes à queima-roupa pelo policial branco Rusten Sheskey, enquanto tentava entrar em seu carro, observado por seus três filhos. Esse ato, repudiado como parte da brutalidade policial contra a comunidade afro-americana, filmado e viralizado nas redes on-line, provocou uma nova onda de protestos no país.
Com gritos de "Black Lives Matter" ("As vidas dos negros importam") e "Sem justiça não há paz", as manifestações se repetiram em várias cidades.
Em Kenosha, o incidente produziu um coquetel perigoso de manifestantes, policiais e grupos de autodefesa. E, nesse contexto de extrema tensão, um adolescente de 17 anos é suspeito de ter atirado e matado dois manifestantes na noite de terça-feira em circunstâncias pouco claras.
'Somos alvo'
Um dos dois mortos, Anthony Huber, caiu no meio da rua, ao tentar impedir o atirador em fuga.
"Ele era doce e agora está morto. Ele não tinha nada além de amor em seu coração por esta cidade. Por isso que ele estava aqui na noite passada", disse um jovem amigo de Huber, chorando.
Então houve um momento de silêncio na multidão.
Um pouco mais adiante, em frente a um posto de gasolina, uma flor e uma garrafa de álcool marcam o local onde o o outro manifestante foi morto, com uma bala na cabeça.
Nos painéis de madeira que cobrem o posto de gasolina, você pode ler: "Rusten Sheskey fez isso" e "Sheskey, a culpa é sua".
"Ele morreu por nós, por nada", disse um dos líderes da marcha para denunciar a brutalidade policial contra a minoria negra, que se repetiu especialmente desde o início deste ano e gerou um histórico movimento de revolta nos Estados Unidos.
"Estamos fartos e cansados, dá para ver. Pedimos justiça em paz, e eles não nos deram nada. E você se pergunta por que colocamos fogo?", acrescentou, apontando para uma concessionária de automóveis incendiada do outro lado da rua.
Os manifestantes atacaram lojas e edifícios, alguns dos quais não resistiram às chamas.
Para o músico Big Homie Trail, os afro-americanos são "alvos" da polícia. "Eu sou um negro grande. Eles me veem como um inimigo o tempo todo, aonde quer que eu vá", observou.
A polícia, que aguarda reforços, permaneceu invisível em torno da manifestação na noite de ontem, ao contrário de protestos anteriores.
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