Arábia Saudita e Qatar se aproximam em cúpula da 'solidariedade'
Os países do Golfo assinaram hoje um acordo "de solidariedade e estabilidade" no início de uma cúpula destinada a diminuir as tensões entre Qatar e vários de seus vizinhos, incluindo a Arábia Saudita.
"Os esforços (do Kuait e dos Estados Unidos) nos ajudaram a chegar a um acordo (...) em que afirmamos a solidariedade e a estabilidade do Golfo e dos países árabes e muçulmanos", anunciou o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, ao abrir esta cúpula realizada em Al-Ula (noroeste da Arábia Saudita).
Os seis países do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo) assinaram este pacto - chamado "Declaração de Al-Ula" e cujo conteúdo não foi divulgado - na presença de Jared Kushner, genro e assessor do presidente dos EUA, Donald Trump.
A reunião começou com grandes esperanças, depois que o Kuait, mediador do Golfo, anunciou na noite de ontem que a Arábia Saudita reabriu seu espaço aéreo e todas as suas fronteiras com o Qatar, após três anos e meio de boicote e mensagens hostis.
Em junho de 2017, a Arábia Saudita e três países aliados (Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito) romperam os laços com Doha, acusando-a de apoiar grupos islâmicos, de manter boas relações com seus adversários iranianos e turcos e de semear desordem na região.
Sempre negando todas as acusações, os qatarianos dizem ser vítimas de um "bloqueio" e de um ataque à sua soberania.
O CCG nasceu há 40 anos com a ambição de aproximar seus membros política, econômica e militarmente. Fazem parte do grupo Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Omã e Kuait.
Símbolo da reaproximação atual, o emir do Qatar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani, chegou hoje a Al Ula, no noroeste da Arábia Saudita, para participar de sua primeira cúpula do CCG desde 2017.
"Amigos como antes"
Os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre os países do Golfo para alcançar uma reconciliação, com o objetivo de isolar cada vez mais o Irã, dentro de sua estratégia de pressão máxima contra Teerã.
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, afirmou que o objetivo da cúpula é criar uma frente comum diante dos "desafios", especialmente "o programa nuclear iraniano, seu programa de mísseis balísticos e seus projetos de sabotagem".
Hoje, o emir do Qatar foi recebido na pista do aeroporto com um sorriso e um abraço pelo príncipe Bin Salman. Um gesto que seria impensável algumas semanas atrás.
As respectivas mídias da Arábia Saudita e Qatar, normalmente muito hostis com o lado oposto, mudaram radicalmente de tom.
"Veremos todos os sauditas aqui e, também, todos os catarianos irão à Arábia Saudita. Seremos amigos como antes e ainda mais", disse à AFP Hisham Al-Hashmi, um catariano vestido com uma túnica branca tradicional.
A ruptura com o Qatar foi acompanhada de medidas de represália: fechamento das fronteiras e do espaço aéreo aos vizinhos do Qatar e restrição aos deslocamentos de qatarianos, o que provocou a separação de famílias mistas.
"Negociações difíceis"
O quarteto havia formulado 13 condições para a retomada das relações com Doha, em particular o fechamento da rede de televisão Al-Jazeera, desprezada por muitos regimes árabes, e compromissos de pôr fim ao financiamento de grupos extremistas, ou ainda o fechamento de uma base militar turca no Qatar.
Doha não cedeu a nenhum desses pedidos.
Diplomatas, observadores e alguns artigos na imprensa sugeriram que nenhum desses temas de controvérsia será abordado durante a cúpula, o que parece afastar, por enquanto, a perspectiva de uma resolução geral da disputa.
"Alguns podem minimizar esses avanços, mas retomar uma comunicação diretamente aberta e evitar os ataques verbais é, depois de tudo, um avanço", declarou à AFP Bader Al-Saif, professor adjunto de história na Universidade do Kuait, falando de "primeiros passos para a reconciliação".
"Os outros Estados (...) seguirão o exemplo e tomarão medidas de conciliação parecidas", destacou.
No entanto, "como qualquer reconciliação, terá obstáculos e poderá dar lugar a um ponto morto e tensões", acrescentou o especialista, que espera "negociações difíceis" entre países com "interesses considerados antagônicos".
Apesar das declarações excepcionalmente positivas nas últimas semanas, os outros países não parecem tão dispostos como os sauditas a fazer concessões ao Qatar.
Emirados Árabes Unidos continua hostil a Doha, devido à sua proximidade com a irmandade islâmica dos Irmãos Muçulmanos.
Seu ministro de Estado para as Relações Exteriores, Anuar Gargash, tuitou, entretanto, que a cúpula de Al-Ula abriu "uma nova página promissora".
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