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Arábia Saudita e Qatar se aproximam em cúpula da 'solidariedade'

5.jan.2021 - Imagem divulgada pelo Palácio Real Saudita mostra autoridades posando para fotos antes da sessão de abertura da 41ª cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) na cidade saudita de al-Ula - AFP PHOTO / SAUDI ROYAL PALACE / BANDAR AL-JALOUD
5.jan.2021 - Imagem divulgada pelo Palácio Real Saudita mostra autoridades posando para fotos antes da sessão de abertura da 41ª cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) na cidade saudita de al-Ula Imagem: AFP PHOTO / SAUDI ROYAL PALACE / BANDAR AL-JALOUD

Na Arábia Saudita

05/01/2021 13h21

Os países do Golfo assinaram hoje um acordo "de solidariedade e estabilidade" no início de uma cúpula destinada a diminuir as tensões entre Qatar e vários de seus vizinhos, incluindo a Arábia Saudita.

"Os esforços (do Kuait e dos Estados Unidos) nos ajudaram a chegar a um acordo (...) em que afirmamos a solidariedade e a estabilidade do Golfo e dos países árabes e muçulmanos", anunciou o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, ao abrir esta cúpula realizada em Al-Ula (noroeste da Arábia Saudita).

Os seis países do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo) assinaram este pacto - chamado "Declaração de Al-Ula" e cujo conteúdo não foi divulgado - na presença de Jared Kushner, genro e assessor do presidente dos EUA, Donald Trump.

A reunião começou com grandes esperanças, depois que o Kuait, mediador do Golfo, anunciou na noite de ontem que a Arábia Saudita reabriu seu espaço aéreo e todas as suas fronteiras com o Qatar, após três anos e meio de boicote e mensagens hostis.

Em junho de 2017, a Arábia Saudita e três países aliados (Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito) romperam os laços com Doha, acusando-a de apoiar grupos islâmicos, de manter boas relações com seus adversários iranianos e turcos e de semear desordem na região.

Sempre negando todas as acusações, os qatarianos dizem ser vítimas de um "bloqueio" e de um ataque à sua soberania.

O CCG nasceu há 40 anos com a ambição de aproximar seus membros política, econômica e militarmente. Fazem parte do grupo Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Omã e Kuait.

Símbolo da reaproximação atual, o emir do Qatar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani, chegou hoje a Al Ula, no noroeste da Arábia Saudita, para participar de sua primeira cúpula do CCG desde 2017.

"Amigos como antes"

Os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre os países do Golfo para alcançar uma reconciliação, com o objetivo de isolar cada vez mais o Irã, dentro de sua estratégia de pressão máxima contra Teerã.

O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, afirmou que o objetivo da cúpula é criar uma frente comum diante dos "desafios", especialmente "o programa nuclear iraniano, seu programa de mísseis balísticos e seus projetos de sabotagem".

Hoje, o emir do Qatar foi recebido na pista do aeroporto com um sorriso e um abraço pelo príncipe Bin Salman. Um gesto que seria impensável algumas semanas atrás.

As respectivas mídias da Arábia Saudita e Qatar, normalmente muito hostis com o lado oposto, mudaram radicalmente de tom.

"Veremos todos os sauditas aqui e, também, todos os catarianos irão à Arábia Saudita. Seremos amigos como antes e ainda mais", disse à AFP Hisham Al-Hashmi, um catariano vestido com uma túnica branca tradicional.

A ruptura com o Qatar foi acompanhada de medidas de represália: fechamento das fronteiras e do espaço aéreo aos vizinhos do Qatar e restrição aos deslocamentos de qatarianos, o que provocou a separação de famílias mistas.

"Negociações difíceis"

O quarteto havia formulado 13 condições para a retomada das relações com Doha, em particular o fechamento da rede de televisão Al-Jazeera, desprezada por muitos regimes árabes, e compromissos de pôr fim ao financiamento de grupos extremistas, ou ainda o fechamento de uma base militar turca no Qatar.

Doha não cedeu a nenhum desses pedidos.

Diplomatas, observadores e alguns artigos na imprensa sugeriram que nenhum desses temas de controvérsia será abordado durante a cúpula, o que parece afastar, por enquanto, a perspectiva de uma resolução geral da disputa.

"Alguns podem minimizar esses avanços, mas retomar uma comunicação diretamente aberta e evitar os ataques verbais é, depois de tudo, um avanço", declarou à AFP Bader Al-Saif, professor adjunto de história na Universidade do Kuait, falando de "primeiros passos para a reconciliação".

"Os outros Estados (...) seguirão o exemplo e tomarão medidas de conciliação parecidas", destacou.

No entanto, "como qualquer reconciliação, terá obstáculos e poderá dar lugar a um ponto morto e tensões", acrescentou o especialista, que espera "negociações difíceis" entre países com "interesses considerados antagônicos".

Apesar das declarações excepcionalmente positivas nas últimas semanas, os outros países não parecem tão dispostos como os sauditas a fazer concessões ao Qatar.

Emirados Árabes Unidos continua hostil a Doha, devido à sua proximidade com a irmandade islâmica dos Irmãos Muçulmanos.

Seu ministro de Estado para as Relações Exteriores, Anuar Gargash, tuitou, entretanto, que a cúpula de Al-Ula abriu "uma nova página promissora".