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Presidente do Comitê de Assuntos Exteriores americano pede nova política com a Venezuela

Embaixada dos Estados Unidos em Caracas, na Venezuela - Federico Parra/AFP
Embaixada dos Estados Unidos em Caracas, na Venezuela Imagem: Federico Parra/AFP

05/01/2021 19h45

O novo presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Gregory Meeks, pediu nesta terça-feira (5) a revisão da política de Washington com a Venezuela, um enfoque mais multilateral sob o comando do futuro presidente Joe Biden.

Em entrevista à AFP, o legislador democrata Gregory Meeks também denunciou que o presidente em fim de mandato, Donald Trump, foi hipócrita no que diz respeito à Venezuela, já que também tenta reverter sua própria derrota eleitoral.

"Claramente, esta administração não está no caminho correto. De fato, acredito que muitas pessoas na Venezuela estão rindo porque, para mim, o que Trump está fazendo com esta eleição é muito similar com o que (Nicolás) Maduro tem feito na Venezuela", criticou Meeks.

"Precisamos de uma política diferente", afirmou o representante de Nova York sobre a Venezuela.

Meeks viajou várias vezes ao país sul-americano, onde se encontrou com o antecessor de Maduro, o falecido Hugo Chávez, e o ex-presidente Barack Obama enviou o congressista para representar os Estados Unidos no funeral do líder esquerdista em 2013.

Os Estados Unidos precisam "trabalhar coletivamente de maneira multilateral" com atores regionais e organizações internacionais, disse Meeks.

"Não podemos entrar e dizer que este é o seu presidente. Esse não é o nosso papel; esse é o papel do povo venezuelano", completou.

Meeks não chegou a dizer que Biden, que assumirá a presidência americana em 20 de janeiro, deve reverter o reconhecimento de Trump do líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, e pediu aos Estados Unidos que fomentem a unidade dentro da oposição venezuelana.

O congressista reconheceu as irregularidades eleitorais no governo Maduro e disse que qualquer solução para a crise deve centrar-se na reparação das instituições, incluindo a incorporação de membros da oposição no corpo eleitoral.

Mais de 50 países, incluindo a maioria das potências latino-americanas e europeias, reconhecem Guaidó como presidente interino, após relatos generalizados de irregularidades na reeleição de Maduro em 2018 e em meio a uma catástrofe econômica que levou milhões de venezuelanos a deixar o país. Segundo a ONU, 5,4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos.

Guaidó chefiou a Assembleia Nacional eleita em 2015, mas um novo parlamento emergiu das eleições legislativas organizadas pelo governo de Maduro no mês passado, que a oposição boicotou e os observadores internacionais não endossaram.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, afirmou em comunicado que os Estados Unidos continuam reconhecendo a legitimidade de Guaidó, apesar das novas eleições legislativas, que ele chamou de "farsa".

Apesar de uma forte campanha de pressão de Washington, que inclui uma bateria de sanções econômicas, Maduro se manteve no poder com o apoio dos militares venezuelanos, além da Rússia, China, Cuba e, recentemente, do Irã.

Meeks é o primeiro afro-americano a liderar o Comitê de Relações Exteriores da Câmara, sucedendo o democrata nova-iorquino Eliot Engel, que perdeu seu assento principal para um membro da ala progressista do partido.