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Daniel Ortega é proclamado candidato a um quarto mandato sucessivo na Nicarágua

Congresso da governista Frente Sandinista da Nicarágua aprovou por unanimidade a candidatura à reeleição de Daniel Ortega a um quarto mandato sucessivo na Presidência nas eleições de novembro - Rodrigo Arangua/AFP
Congresso da governista Frente Sandinista da Nicarágua aprovou por unanimidade a candidatura à reeleição de Daniel Ortega a um quarto mandato sucessivo na Presidência nas eleições de novembro Imagem: Rodrigo Arangua/AFP

02/08/2021 18h18Atualizada em 02/08/2021 19h16

O congresso da governista Frente Sandinista (FSLN, esquerda) da Nicarágua aprovou nesta segunda-feira (2) por unanimidade a candidatura à reeleição de Daniel Ortega a um quarto mandato sucessivo na Presidência nas eleições de novembro, ao lado da esposa, a vice-presidente Rosario Murillo.

"Temos nossa chapa, nossos candidatos eleitos neste congresso por unanimidade", Ortega e Murillo, anunciou o militante sandinista Gustavo Porras, durante o congresso da FSLN.

O casal presidencial foi ratificado pelos 2.932 membros presentes no congresso sandinista, órgão máximo de consultas da FSLN, em sessão virtual celebrada em Manágua, a poucas horas do vencimento do prazo para a inscrição de candidatos perante o Conselho Supremo Eleitoral (CSE).

Ortega, de 75 anos, que governa a Nicarágua desde 2007 após duas reeleições sucessivas que a oposição considerou "fraudulentas", tentará permanecer no poder até 2027, ao lado de Murillo, de 70 anos, que o acompanha na vice-presidência desde 2017.

Ortega e Murillo vão enfrentar nas eleições um ex-líder da desaparecida contrarrevolução, Oscar Sobalvarro, de 68 anos, e uma ex-miss, Berenice Quezada, de 27 anos, que foram inscritos como chapa presidencial do bloco opositor, Aliança Cidadãos pela Liberdade (CxL, direita).

A candidatura à reeleição de Ortega e Murillo foi lançada depois que a polícia deteve sete possíveis candidatos da oposição à Presidência, entre eles Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) e que era favorita nas pesquisas para derrotar Ortega.

"Oferecemos a continuidade de um modelo transformador", afirmou a um canal oficial de televisão o presidente do Parlamento, o governista Gustavo Porras, próximo do casal presidencial.

Ortega quer permanecer no poder por mais cinco anos ao lado de Murillo.

O congresso sandinista também validou a nomeação dos 92 deputados titulares e suplentes da FSLN para a Assembleia Nacional e 20 para o Parlamento Centro-americano.

As inscrições de candidatos no Conselho Supremo Eleitoral (CSE) se encerraram nesta segunda-feira em um clima de tensão, devido à conflituosa situação política existente entre Ortega e a oposição, assim como novas sanções internacionais adotadas contra o governo.

A União Europeia (UE) sancionou nesta segunda-feira com restrições migratórias e financeiras Murillo, seu filho Juan Carlos e outros seis funcionários do governo por sua responsabilidade nas "graves violações dos direitos humanos" na Nicarágua.

A medida se soma a outras adotadas pelos Estados Unidos e pelo Canadá contra funcionários do governo Ortega, em protesto contra a repressão que mantém contra seus opositores desde a explosão das manifestações antigovernamentais de 2018.

Sem oposição forte

O partido sandinista planeja disputar as eleições de novembro sem uma forte oposição, depois que a polícia deteve, entre junho e julho, sete candidatos à Presidência.

Os opositores são acusados na maioria de "traição" à pátria, segundo uma polêmica lei aprovada em dezembro passado a pedido do governo, que pune com a prisão (de 10 a 15 anos) quem promover ingerência estrangeira e apoiar sanções internacionais.

A maioria dos candidatos detidos tinha concordado em se submeter à seleção de um candidato único da oposição sob a bandeira da Aliança Cidadãos pela Liberdade (CxL, direita), mas as acusações contra eles os inibiram de participar.

Ortega acusou os opositores presos de "terroristas" e "mercenários" a serviço dos Estados Unidos.

Com seus adversários na prisão, o partido sandinista se dispõe a enfrentar uma direita dividida principalmente em dois blocos: a aliança CxL, enfraquecida pela detenção de quase todos os seus pré-candidatos, e o Partido Liberal Constitucionalista (PLC), segunda força parlamentar, acusada de colaborar com o governo.

Polêmica chapa da oposição

Com seus pré-candidatos presos, a CxL optou por eleger como sua chapa presidencial um casal polêmico formado pelo ex-guerrilheiro dos denominados "Contra" Oscar Sobalvarro, de 68 anos, e a ex-miss Berenice Quezada, de 27 anos.

Os dois foram os primeiros a se inscrever no CSE nesta segunda-feira.

"Esperamos que o assédio e a repressão cessem" contra os opositores para que a campanha eleitoral transcorra de forma tranquila, pediu Sobalvarro ao deixar a sede do CSE.

Conhecido como "comandante Rubén", Sobalvarro foi um dos líderes da desaparecida contrarrevolução que os Estados Unidos financiaram contra a Revolução Sandinista nos anos 80. É também vice-presidente da CxL.

Quezada, uma ex-modelo sem carreira política, que venceu o concurso Miss Nicarágua em 2017, defendeu a libertação dos "presos políticos" do governo.

A chapa aspira a conquistar o voto antissandinista, mas alguns cidadãos se dizem aliados do governo nas redes sociais porque não foram detidos como o restante dos opositores.

"Deixaram que se inscrevessem porque pertencem ao (círculo) de Daniel (Ortega)", criticou nas redes Oswaldo Romero. Outro, Leonardo Sandoval, os chamou de "cúmplices".`

À tarde espera-se a inscrição dos candidatos da FSLN e do PLC.

A Nicarágua, com 6,5 milhões de habitantes, elegerá em novembro presidente, vice-presidente, 92 deputados federais e 20 deputados do Parlamento Centro-americano.