Mianmar indulta e liberta jornalista dos EUA: 'Fui preso sem qualquer razão'
Após ser libertado da prisão, indultado e expulso de Mianmar ontem, o jornalista americano Danny Fenster disse, ao desembarcar no Catar, que lutou para manter a sanidade e temeu que a situação não acabasse nunca.
"Fui preso e mantido em cativeiro sem qualquer razão (...) mas fisicamente estava são. Não passei fome, nem fui agredido", declarou o repórter, em sua chegada ao Doha, capital do Catar.
"Quanto mais tempo ficava, mais eu temia que isto não acabasse nunca, então minha principal preocupação era permanecer são", acrescentou.
Fenster foi indultado antes de ser solto por "razões humanitárias", após negociações com o ex-diplomata americano Bill Richardson e com dois enviados japoneses, declarou a junta militar birmanesa em um comunicado.
Sua libertação foi obtida por meio de "negociações cara a cara" entre o chefe da junta, Min Aung Hlaing, e Richardson, disse a assessoria do ex-diplomata americano, em uma nota.
Agora, ambos seguem para os Estados Unidos, "via Catar, por um dia e meio", acrescentou.
Seus pais, Buddy e Rose, e seu irmão, Bryan, disseram "estar muito contentes que Danny foi solto e está a caminho de casa".
"Estamos muito felizes que Danny tenha sido libertado e esteja a caminho de casa. Estamos ansiosos para tê-lo em nossos braços", afirmaram seus familiares em um comunicado.
"Somos imensamente gratos a todas as pessoas que ajudaram a garantir sua libertação, especialmente ao embaixador Richardson, assim como aos nossos amigos e ao público que expressou seu apoio e esteve ao nosso lado, enquanto suportamos estes longos e difíceis meses", acrescentou o texto.
O Departamento de Estado americano também saudou sua libertação.
Uma foto publicada na Internet por Richardson mostra Fenster de bermuda e chinelo na frente de um pequeno avião, na pista do aeroporto de Naipyidaw, capital de Mianmar, ao lado deste ex-governador do Novo México que se tornou negociador de reféns.
Fenster, de 37 anos, é o primeiro jornalista ocidental a ser detido em muitos anos em Mianmar. Os militares tomaram o poder em fevereiro deste ano, derrubando o governo civil de facto liderado por Aung San Suu Kyi.
O repórter do veículo Frontier Myanmar foi condenado a 11 anos de prisão, na sexta-feira (12), por incitação à dissidência, associação ilegal e violação da lei de vistos.
O jornalista trabalhava para a Frontier Myanmar desde meados de 2020. Cobriu o golpe militar e a posterior repressão à dissidência. No momento de sua prisão, no Aeroporto Internacional de Yangon, em 24 de maio, Fenster se preparava para pegar um avião para deixar o país.
"Não fez nada de errado"
"É uma notícia maravilhosa para todos, tanto amigos quanto familiares", disse à AFP Andrew Nachemson, um de seus colegas no Frontier Myanmar.
"Mas, é claro, ele nunca deveria ter tido de passar seis meses na prisão (...), e todos os jornalistas locais que permanecerem na prisão também deveriam ser libertados imediatamente", acrescentou.
Richardson chegou no início do mês a Naipyidaw, como parte de uma "missão humanitária" privada, declarando que o Departamento de Estado americano pediu a ele que não abordasse o caso de Fenster durante sua visita.
Fenster ficou preso durante 176 dias e contraiu covid-19 durante sua detenção, relataram familiares em uma teleconferência com jornalistas americanos em agosto passado.
"Esta é uma notícia fantástica para Danny e sua família", disse à AFP Richard Horsey, especialista em Mianmar da ONG International Crisis Group.
"Ele não fez nada de errado e não teria que passar por esse inferno", frisou.
"É importante, neste momento, também lembrar dos jornalistas birmaneses que se encontram detidos injustamente e que devem ser libertados", completou.
Mianmar foi mergulhada no caos em 1º de fevereiro, com um golpe de Estado que pôs fim a um hiato democrático de uma década.
O regime mantém uma repressão sangrenta contra a oposição, com um balanço de mais de 1.200 civis mortos e 7.000 detidos, segundo a AAPP (Associação de Assistência a Presos Políticos). Esta ONG local denunciou casos de tortura, estupro e execuções extrajudiciais cometidos pelas forças da ordem.
Mais de 100 jornalistas foram presos desde o golpe, de acordo com a Reporting ASEAN, uma associação de defesa da liberdade de imprensa. Segundo esta ONG, 31 deles continuam detidos.
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