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Afegãos exilados denunciam atrocidades cometidas pelo Talibã

Afegãos exilados denunciam atrocidades cometidas pelo Talibã desde que o grupo tomou o poder na região - Ali Khara/Reuters
Afegãos exilados denunciam atrocidades cometidas pelo Talibã desde que o grupo tomou o poder na região Imagem: Ali Khara/Reuters

20/12/2021 12h36Atualizada em 20/12/2021 13h09

Há dois meses, Usman enfrentou seus piores momentos desde que recebeu asilo na França. Seu pai foi sequestrado por três dias pelos talibãs, em mais um dos abusos cometidos desde que os radicais islâmicos reconquistaram o poder.

"Eles bateram na porta de nossa casa no meio da noite e ordenaram que ele os seguisse. Eles o trancaram em uma pequena sala escura, onde o espancaram", disse este ex-oficial de alto escalão, que falou sob anonimato.

Usman, evacuado com sua esposa e filhos após a tomada de Cabul, também pede que o nome de sua província não seja divulgado, para não colocar seu pai e outros parentes em ainda mais perigo.

Os sequestradores eram talibãs, diz ele. "Disseram a meu pai que ele era um 'kafir' (infiel em árabe), que eu havia ajudado os americanos, então eles iriam confiscar nossas terras."

Durante três dias, os homens da família de Usman, defenderam os desaparecidos perante as novas autoridades, afirma. O esforço valeu a pena. O idoso foi libertado na periferia da cidade.

"Eles queriam matá-lo. Foi um milagre", suspira Usman, culpado por ter abandonado seus familiares.

Como o poder do Talibã ainda não foi estruturado em uma única autoridade, "eles nos disseram que um de seus grupos foi convencido a libertar meu pai. Mas que outros grupos poderiam fazer isso (sequestrá-lo) novamente", explica Omar (também pseudônimo), irmão de Usman, que mora na França desde 2020.

"Rumores"

No Afeganistão, esses sequestros, um verdadeiro flagelo do antigo regime, diminuíram com o Talibã, mas o número de desaparecimentos forçados, muitas vezes fatais, aumentou, observa Mirwais Afghan, diretor do site Khabarial.com, com sede no Reino Unido.

Eles também são acusados por ajustes de contas fatais, muitas vezes por engano, já que alguns se aproveitam da mudança de regime para resolver disputas não políticas com sangue.

A ONU acusou os islâmicos de terem executado pelo menos 72 ex-membros das forças afegãs e outros com ligações com o governo anterior desde agosto. O Talibã descreveu a acusação como "rumores infundados".

O Khabarial.com, um site de "propaganda" hostil segundo o Talibã, noticia assassinatos cometidos por islâmicos quase que diariamente.

Somente entre 10 e 15 de dezembro, o Khabarial.com divulgou a morte de quatro ex-forças de segurança, uma mulher e duas crianças em seis episódios em quatro províncias diferentes.