Primeiro réu a depor em juízo justifica ataques em Paris
Paris, 11 Jan 2022 (AFP) - O primeiro réu a depor no processo dos atentados que deixaram 130 mortos em novembro de 2015 em Paris justificou os ataques jihadistas como uma "resposta" à violência ocidental.
Depois de mais de duas semanas de pausa, prolongada pelo estado de saúde do principal réu, Salah Abdeslam, seu amigo de infância Mohamed Abrini foi o primeiro acusado ouvido pelo tribunal nesta terça-feira (11).
"Escutem, aqueles que se explodem [em ataques suicidas] agem em resposta aos bombardeios. Se não temos um soldado para matar no local, atacamos", disse Abrini.
Quatro meses após o julgamento do ataque mais sangrento sofrido pela capital francesa desde a Segunda Guerra Mundial os acusados começam a depor, depois de ouvidos os sobreviventes e os investigadores.
Após duas tentativas na semana passada, a retomada pôde ser realizada após um segundo laudo médico declarar Abdeslam "apto" a comparecer.
Salah Abdeslam, o único membro vivo dos comandos que atacaram o Stade de France, no norte de Paris, bares e restaurantes da capital e a casa de shows Bataclan, contraiu covid-19 na prisão no final de dezembro.
O presidente do tribunal onde ele está sendo julgando, Jean-Louis Périès, declarou nesta terça que um segundo laudo médico solicitado na semana passada indica que Abdeslam está "curado" desde 3 de janeiro.
O relatório também afirma que ele pode comparecer às audiências, uma vez que "[não está] contagioso", mesmo que teste positivo. Abdeslam, que não comparecia a uma audiência desde 25 de novembro, esteve presente hoje.
Já o réu sueco Osama Krayem se recusou a comparecer. Sua advogada, Margaux Durand-Poincloux, disse que, na quinta-feira (6), seu cliente tomou a decisão de não falar mais até o final do julgamento.
"No início, eu queria me expressar no tribunal", mas "ninguém está procurando a verdade", diz uma carta lida por sua advogada na semana passada. Seu interrogatório está marcado para a próxima semana.
O interrogatório de Salah Abdeslam está marcado para 20 e 21 de janeiro. Nesta primeira fase, os réus devem apenas responder sobre os acontecimentos ocorridos até ao verão boreal de 2015 (inverno no Brasil).
Mohamed Abrini, de 37 anos e acusado também na Bélgica pelos ataques de março de 2016 em Bruxelas, está sendo julgado por acompanhar o comando jihadista à região de Paris na véspera do ataque.
Na França, ele também é acusado de cumplicidade no aluguel de carros e apartamentos usados pelos jihadistas.
"Não sou capaz [de atacar], sempre disse isso", garantiu.
Durante o interrogatório, o homem considerou que "o Islã ensinado pelo profeta não é compatível com a democracia" e não negou as atrocidades do grupo Estado Islâmico (EI).
"Eu admito tudo, assim como vocês reconhecem toda a história da França com suas páginas claras e escuras", disse ele depois de lembrar que um rei foi guilhotinado durante a revolução.
Questionado se tinha algo a dizer às vítimas, Abrini disse após um longo silêncio: "O que aconteceu com eles é muito triste. São vítimas da política externa francesa e do Estado Islâmico".
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