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Ex-guerrilheira e líder estudantil são declarados culpados de conspiração na Nicarágua

07.out.19 - Líder estudantil Lesther Aleman chega ao Aeroporto Internacional Augusto C. Sandino após passar um ano no exílio - OSWALDO RIVAS/REUTERS
07.out.19 - Líder estudantil Lesther Aleman chega ao Aeroporto Internacional Augusto C. Sandino após passar um ano no exílio Imagem: OSWALDO RIVAS/REUTERS

04/02/2022 00h02Atualizada em 04/02/2022 07h10

A justiça nicaraguense declarou nesta quinta-feira (3) culpado de conspiração a ex-guerrilheira sandinista Dora María Téllez e o líder estudantil Lesther Alemán, símbolo dos protestos de 2018 contra o governo de Daniel Ortega, informaram organizações de apoio aos direitos humanos.

O julgamento foi celebrado na prisão da Direção de Auxílio Judicial (DAJ), da polícia de Manágua, conhecida como El Chipote, onde está a maioria dos 46 opositores que foram detidos no ano passado antes das eleições vencidas por Ortega pela quarta vez consecutiva.

Com Téllez, comandante guerrilheira e ex-companheira de armas do atual presidente, Alemán, somam cinco os sentenciados deste grupo, embora suas sentenças ainda não tenham sido informadas.

"Foram declarados culpados pelos crimes de conspiração para cometer depreciação da integridade nacional", destacou o independente Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) em suas redes sociais.

As audiências judiciais contra Téllez, de 66 anos, e Alemán, de 24 anos, foram celebradas a portas fechadas com a presença de um familiar para cada um.

"Estes julgamentos são nulos porque violam as garantias constitucionais que estabelecem que os julgamentos devem ser públicos, com acesso à imprensa. Deixar entrar apenas um familiar não preenche os requisitos de publicidade" exigidos pela lei, informou o Cenidh.

Uma fonte da opositora Unidade Nacional Azul e Branco (UNAB) disse à AFP que o Ministério Público pediu 15 anos de prisão para Téllez, uma conhecida ex-guerrilheira, historiadora e uma das fundadoras do antigo Movimento de Renovação Sandinista (MRS, centro-esquerda), agora conhecido como União Democrática Renovadora (UNAMOS).

A dissidência sandinista surgiu em 1995 por desavenças com a liderança política de Ortega, chefe da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, esquerda), que governou durante a revolução nos anos 1980 e voltou ao poder em 2007.

Téllez lutou ao lado de Ortega contra a ditadura de Anastasio Somoza nos anos 1970.

Alemán, por sua vez, é um líder estudantil que desafiou Ortega a renunciar à presidência, durante o diálogo que a Igreja católica promoveu entre o governo e grupos sociais que participaram dos protestos de 2018.

"Seu único crime foi ter falado por todos em 2018, encarando Ortega por seus crimes e pedir sua saída do poder", denunciou no Twitter o jornalista Carlos Fernando Chamorro, que se exilou no ano passado na Costa Rica, após a detenção de seus dois irmãos, os opositores Pedro e Cristiana Chamorro.

Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ao menos 355 pessoas morreram em 2018 por causa da repressão.

A MP afirma que os opositores presos são criminosos, que pretendiam desestabilizar o país com o apoio de Washington.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) e diversos organismos internacionais exigem a imediata libertação dos opositores por considerarem ilegal sua detenção.