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Estado Islâmico é uma organização, não depende de um líder, diz professor

Do UOL, em São Paulo

03/02/2022 14h10Atualizada em 03/02/2022 14h23

Para Reginaldo Nasser, professor da Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a morte do líder do EI (Estado Islâmico), Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi, "dá muitas manchetes", mas não afeta o grupo "significativamente".

"Depois do assassinato do Osama bin Laden, a Al-Qaeda continuou. Tivemos também o assassinato do primeiro líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, em 2019 — e a organização está aí ainda, de pé", disse o professor ao UOL News - Tarde, programa do Canal UOL.

A morte de qualquer líder para os seus combatentes é um impacto claro, sem dúvida nenhuma. Mas isso não afeta a organização. Uma organização como é o Estado Islâmico não depende de um líder. Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais

Nasser também lembrou que, no auge do grupo, o Estado Islâmico chegou a dominar um território do tamanho da Jordânia — cerca de 89,4 mil km², pouco menor que o tamanho de Santa Catarina (95,4 mil km²) — e a governar 6 milhões de pessoas.

"Há uma face do EI além terrorismo e das decapitações: eles têm capacidade de administrar e gerir populações e territórios", pontuou. "Todo mundo é contra o EI: os EUA, a Rússia, o governo da Síria, a Turquia — e eles continuam lá, dando trabalho", disse.

"Isso significa que eles têm apoio de parte da população", destacou, acrescentando que a popularidade do grupo no Oriente Médio se deriva das vulnerabilidades socioeconômicas e da repulsa da população aos governos da região, apontados como corruptos.

"O nacionalismo árabe antigo não existe mais, e as forças de esquerda do Oriente Médio acabaram faz tempo. Tivemos um ímpeto com a Primavera Árabe, mas foi uma contrarrevolução. Não há organizações que acolham as demandas da população", disse.

Operação dos EUA

A morte de Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi após uma ação militar dos Estados Unidos foi anunciada hoje pelo presidente do país norte-americano, Joe Biden. O fato ocorreu na Síria.

Segundo Joe Biden, o líder do grupo fundamentalista islâmico "escolheu se explodir" ao ver a aproximação das forças militares dos Estados Unidos.

No ato, ainda de acordo com o presidente dos EUA, pessoas da família de Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi — incluindo crianças — também morrerem. Nenhum militar norte-americano ficou ferido.

"As forças militares dos EUA no noroeste da Síria realizaram com sucesso uma operação de contraterrorismo para proteger o povo americano e nossos aliados e tornar o mundo um lugar mais seguro", disse Biden em discurso.

Ao UOL News - Tarde, Reginaldo Nasser lembrou que a operação norte-americana que levou o líder do EI à morte veio em um momento em que Biden enfrenta baixa popularidade nos EUA.

"E todo presidente dos Estados Unidos, seja democrata ou republicano, gosta de alardear isso e dizer que está protegendo o povo americano", pontuou.

Além do mais, no contexto da crise na Ucrânia, que envolve temores de uma guerra opondo o governo local, os EUA e países europeus aliados contra a Rússia, Biden também está sendo acusado de não agir com firmeza contra o líder russo, Vladimir Putin.

"O 11 de setembro não acabou", disse Nasser. "A ideia de contraterrorismo que os EUA têm, entrando democrata ou republicano, é a mesma. E aí, traz, inclusive, a morte de civis e crianças, o que é lamentável", acrescentou.

Durante a operação que resultou na morte do líder fundamentalista islâmico, 13 pessoas morreram, segundo o OSDH (Observatório Sírio para os Direitos Humanos). Entre elas, três crianças e quatro mulheres.

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