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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Órfãos fogem de conflitos em Kiev e encontram refúgio no extremo oeste da Ucrânia

05.mar.22 - Crianças ucranianas, que viajaram com o transporte humanitário de orfanatos após a invasão russa, sentam em um colchão no Hotel Ossa, perto de Rawa Mazowiecka, Polônia - KACPER PEMPEL/REUTERS
05.mar.22 - Crianças ucranianas, que viajaram com o transporte humanitário de orfanatos após a invasão russa, sentam em um colchão no Hotel Ossa, perto de Rawa Mazowiecka, Polônia Imagem: KACPER PEMPEL/REUTERS

Do UOL, em São Paulo

09/03/2022 06h15Atualizada em 09/03/2022 07h12

Uma escola vazia e isolada no tranquilo e extremo oeste da Ucrânia virou um refúgio seguro para 93 crianças órfãs retiradas de trem na semana passada de Kiev.

"Nos sentimos seguros aqui, é tranquilo", declarou Mykola Topolov, de 17 anos, integrante do grupo que chegou ao orfanato improvisado na localidade de Perekhrestya, a 800 km da capital.

As crianças moravam na área da linha de frente na região de Donetsk, mas estavam no acampamento infantil de Artek, perto de Kiev, quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.

"As crianças estavam dando uma pausa da tensão em Donetsk quando a guerra começou", disse Galyna Ivazenko, 57 anos, diretora do acampamento que acompanhou as crianças.

"Nós havíamos acabado de chegar quando ouvimos duas explosões de bombas e soubemos que os russos haviam atacado", disse Mykola, que é do norte da região de Donetsk.

"Foi assustador. Alguns dias depois, quando fomos colocados em um trem, ele ficou parado na estação de Kiev por oito horas", recorda o menor de idade.

O trem finalmente cruzou a cordilheira dos Cárpatos até a região da Transcarpátia, antes de chegar a Perekhrestya,perto da fronteira com a Hungria, na sexta-feira passada.

Ilha de paz

Isolada do resto do país pelas montanas, a Transcarpátia tem fronteiras com Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia, países membros da União Europeia (UE) e da Otan, uma das poucas regiões ucranianas que não foi atacada pela Rússia.

"É uma ilha de paz, um lugar seguro, por isto as autoridades decidiram trazer as crianças para cá", declarou à AFP Mykhailo Glynka, diretor do complexo.

O local, que já foi um internato para crianças doentes, ficou um ano fechado antes de o governo regional ordenar a reabertura, afirmou Glynka.

Autoridades municipais, organizações de ajuda e moradores ajudaram a preparar o edifício para os novos hóspedes e entregar suprimentos, incluindo brinquedos para as crianças.

Enquanto as crianças tentam se divertir, os voluntários preparavam sola e salada.

Mykhailo, que disse que seus pais biológicos o abandonaram no nascimento, contou à AFP que depois da guerra pretende retomar um curso de programação que começou em Kramatorsk, perto de Donetsk.

"Depois que a Ucrânia vencer a guerra, quero voltar para casa e ajudar a reconstruir o país", disse.

Ivazenko, com medo por seus pais em Mykolaiv, onde aconteceram combates violentos, espera o fim da guerra para retornar para casa.

"Eu perdi contato com eles, não sei onde estão ou como estão", declarou, tentando conter as lágrimas.

Ajuda dos países vizinhos

"Fazemos o possível para ajudar", afirmou Jozsef Sipos, pastor de uma igreja protestante em Perekhrestya, que tem 800 habitantes, em sua maioria de origem húngara.

Mais de 180.000 refugiados atravessaram a fronteira com a Hungria desde 24 de fevereiro, 10% do total que fugiram da Ucrânia.

"Quando a guerra começou, nós corremos para a fronteira para entregar alimentos e bebida", lembra Sipos, de 47 anos, que dirige uma fundação de ajuda à infância chamada "Kegyes" ("Piedoso" em húngaro).

"Soube dos órfãos que estavam chegando e comecei a organizar e entregar ajuda para eles também", disse à AFP, depois de retirar de um veículo remédios, alimentos, roupas e materiais de higiene enviados da Hungria.

"É o mínimo que podemos fazer por eles", completou.