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Refugiados ucranianos encontram abrigo em castelo na República Tcheca

29.mar.22 - Olga Shandyba em frente ao castelo Becov nad Teplou, onde refugiados ucranianos encontraram um abrigo - Michal Cizek/AFP
29.mar.22 - Olga Shandyba em frente ao castelo Becov nad Teplou, onde refugiados ucranianos encontraram um abrigo Imagem: Michal Cizek/AFP

31/03/2022 09h40Atualizada em 31/03/2022 10h36

Olga Shandyba nunca havia vivido em um castelo até ser obrigada, pela guerra em curso, a fugir da Ucrânia. Ainda assim, ela trocaria este refúgio de conto de fadas tcheco para poder voltar à sua humilde moradia.

A costureira de 37 anos faz parte de um grupo de 22 refugiados ucranianos que habitam, no momento, o castelo de Becov nad Teplou, no oeste da República Tcheca, graças a uma inciativa do Instituto Nacional do Patrimônio.

"Nunca pensamos em viver em um castelo", disse Shandyba à AFP neste edifício que abriga o santuário de São Mauro, uma peça de arte romana do século XIII.

"Nossas filhas são como princesas, nós somos como princesas. Para elas, é uma aventura. E, de certo modo, é uma aventura para nós também", reconhece.

Becov acolhe 12 crianças refugiadas e dez mulheres de diferentes profissões: de uma florista a uma advogada, passando por uma pianista.

"Somos muito agradecidas pela tranquilidade, pelo aconchego, pela amabilidade", continua Shandyba, que escapou, de trem, dos fortes bombardeios em Ojtirka, no norte da Ucrânia.

A República Tcheca acolheu cerca de 300.000 dos quatro milhões de refugiados ucranianos que fugiram do conflito.

O Instituto do Patrimônio instalou 110 camas em 17 lugares históricos espalhados pelo território para acolher, gratuitamente, refugiados ucranianos.

"Registramos até agora 66 refugiados", declarou sua porta-voz, Klara Veberova.

Deste total, 22 deles estão em Becov nad Teplou, instalados em dois edifícios atrás da entrada do castelo e em um dormitório normalmente destinado aos guias.

"Este ano, contrataremos apenas guias locais que já tenham alojamento", afirmou o encarregado de Becov, Tomas Wizovsky.

Azul e amarelo

Nastya Bidkova, uma professora de canto de Dnipro (leste da Ucrânia), também agradece pela oportunidade "absolutamente inesperada" de dormir em um castelo do século XIV.

"Nos sentimos muito felizes quando chegamos à noite e vimos um bonito castelo com nossas bandeiras nas janelas. Foi realmente simpático", recorda.

De todos os castelos incluídos no projeto, Becov foi o que teve mais facilidade para instalar as bandeiras ucranianas, já que o azul e o amarelo eram as cores de seus antigos proprietários, a família Questenberg, relata Wizovsky.

"Já tínhamos no armazém e recuperamos as bandeiras quase no instante em que a decisão foi tomada para mostrar nossa solidariedade", acrescentou.

Com menos de 1.000 habitantes, o povoado de Becov nad Teplou experimentou um forte aumento da população com a chegada de mais de 60 refugiados ucranianos no último mês.

Além dos refugiados recebidos no castelo, alguns foram alojados em hotéis e em pensões, e outros, em casas de particulares. A prefeitura organizou uma reunião para dar as boas-vindas aos recém-chegados.

As crianças agora frequentam a escola local. A prefeitura cuida dos vistos e dos artigos de primeira necessidade, como sabonetes e toalhas. Também busca empregos, ainda difíceis de encontrar, para os novos habitantes.

Os refugiados também desfrutam de uma visita gratuita do castelo com todos os seus tesouros.

Trabalhar para não pensar

A invasão russa paira no ambiente, porém, embora as crianças tenham começado a desfrutar da nova situação e deixado seus medos para trás.

"Nos dois primeiros dias, não falavam. Estavam muito tímidos, muito silenciosos, depois de todo sofrimento e as viagens", relata Wizovsky. "Agora, são crianças como as outras", completa.

No caso das mães, porém, a preocupação permanece. Os sorrisos minguam, enquanto buscam pequenos trabalhos para se ocuparem e não terem tempo de pensar na situação em seu país.

"Sim, vivem em um castelo, mas não é gratificante", disse Wizovsky.

Nastya Nidkova é uma das que renunciariam, sem hesitar, a essa experiência no castelo para voltar para a Ucrânia, "reencontrar nossas famílias e nossos homens que lutam pela paz lá".

Olga Shandyba também quer voltar para sua casa, "se é que está de pé".