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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Rússia pressiona leste da Ucrânia e enfrenta novas sanções ocidentais

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, participa de uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) após suas conversas em Moscou em 24 de março de 2022 - Kirill Kudryavtsev/AFP
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, participa de uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) após suas conversas em Moscou em 24 de março de 2022 Imagem: Kirill Kudryavtsev/AFP

19/04/2022 19h15

A Rússia lançou dezenas de ataques na madrugada desta terça-feira (19) no leste da Ucrânia, horas depois que Kiev anunciou o início da grande "batalha pelo Donbass", região na qual Moscou concentra seus esforços após quase dois meses de guerra.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou uma "nova fase" da ofensiva e disse que será "um momento importante para esta operação especial", usando os termos com os quais Moscou se refere à invasão da Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro.

"Estamos implementando gradualmente nosso plano para libertar as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk", os territórios separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, disse o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, que acusou os países ocidentais de "prolongarem" o conflito entregando armas para Kiev.

Mais cedo, seu Ministério anunciou que o Exército havia neutralizado 13 posições ucranianas no Donbass, incluindo a cidade-chave de Sloviansk, e bombardeado "outros 60 alvos militares".

Ao todo, 1.260 alvos militares foram atingidos por mísseis e artilharia nas últimas horas, durante as quais as forças russas também destruíram dois depósitos de mísseis e abateram um caça ucraniano nas regiões do leste do país, acrescentou.

Além disso, o Ministério lançou um aviso "aos militares do Exército ucraniano": "Não testem a sorte, tomem a decisão certa, a de encerrar as operações militares e depor as armas".

Mas as autoridades ucranianas, que começaram a receber na segunda-feira (18) os últimos US$ 800 milhões em ajuda militar aprovada pelos Estados Unidos, não parecem dispostos a atender às exigências de Moscou.

"Não importa quantos soldados russos sejam trazidos para cá. Nós vamos lutar. Vamos nos defender", alertou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, considerou que o "assassinato de milhares de civis" desde o início da invasão da Ucrânia "é um crime de guerra sobre o qual o presidente russo (Vladimir Putin) carrega a responsabilidade".

Scholz participou de uma videoconferência do G7 (Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Canadá e Japão) e os líderes da Romênia e Polônia, além dos principais dirigentes da União Europeia (UE).

Durante a reunião, Estados Unidos e a UE alcançaram um "amplo consenso" para impor "novas sanções" à Rússia e "aumentar o isolamento internacional de Moscou", segundo o governo italiano.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou uma "concentração intensa de forças e fogo" que torna esta batalha inevitavelmente mais violenta, sangrenta e destrutiva" e pediu uma "pausa humanitária" de quatro dias durante a Páscoa ortodoxa.

O conflito levou quase cinco milhões de pessoas a se refugiarem em outros países além dos sete milhões de deslocados internos, segundo a ONU.

O 'obstáculo' de Mariupol

A conquista de Donbass, uma região de mineração parcialmente controlada por separatistas pró-russos, daria a Moscou uma faixa de terra da costa sul da Ucrânia até a península da Crimeia. Esta última foi anexada pela Rússia em 2014.

O grande obstáculo nessa ambição continua sendo a cidade portuária de Mariupol, sitiada há semanas. Nela, as últimas forças ucranianas resistem entrincheiradas no vasto complexo industrial de Azovstal.

Horas depois de exigir sua rendição, o Exército russo afirmou ter aberto um corredor humanitário nesta terça para retirar os soldados ucranianos presentes em Azovstal.

"As forças russas abriram um corredor para permitir a saída de militares do Exército ucraniano e dos combatentes de formações nacionalistas que depuserem as armas voluntariamente", anunciou o Ministério russo da Defesa, acrescentando que este dispositivo começou às 14h locais (8h em Brasília).

Mas os combates continuaram em algumas regiões da cidade, "não apenas com armas, mas também com tanques", declarou Pavlo Kirilenko, governador da região de Donetsk.

Em Mariupol, além dos combatentes, o conselho municipal informou que "pelo menos mil civis, a maioria mulheres, crianças e idosos" estariam em refúgios subterrâneos.

"Vão embora!"

"Vão embora!", declarou o governador da região de Lugansk, Sergii Gaidai, nesta terça-feira.

No dia anterior, ele havia relatado a ocorrência de combates "incessantes" em várias localidades e a perda da pequena cidade de Kreminna. Situada a cerca de 50 km de Kramatorsk, trata-se da capital "de facto" do Donbass ainda sob controle de Kiev.

"Milhares de habitantes de Kreminna não tiveram tempo de fugir e agora são reféns dos russos", denunciou Gaidai, cujas afirmações sobre a queda desta cidade foram desmentidas por um assessor da Presidência ucraniana.

Na região vizinha de Donetsk, também no Donbass, os russos bombardeiam "na direção de Marinka, Ocheretyne e Avdivka", disse seu governador, Pavlo Kirilenko, observando que a situação "é difícil, mas está sob controle".

Putin afirmou que lançou a chamada operação militar na Ucrânia em 24 de fevereiro para salvar os falantes de russo na Ucrânia de um "genocídio" cometido por um regime "neonazista".

No entanto, os organizadores da comemoração da libertação do campo de concentração nazista de Mauthausen, na Áustria, anunciaram nesta terça-feira que pediram aos embaixadores da Rússia e Belarus -aliado de Moscou- que não participem do evento, já que sua presença seria "incompatível com o juramento" dos "prisioneiros sobreviventes e seu desejo de paz e liberdade".

Combates em todas as frentes

Embora o foco esteja no Donbass, a Rússia também atacou outras partes do país. Na segunda-feira, bombardeios foram registrados em Cracóvia (nordeste), a segunda maior cidade do país, deixando três mortos e 21 feridos. O exército russo também lançou uma série de mísseis no sul da Ucrânia, outra linha de frente.

"A situação está tensa", declarou Natalia Gumeniuk, porta-voz do comando sul das Forças Armadas ucranianas. Moscou, que já controla a cidade de Kherson, "concentra suas forças" e "deseja avançar" em direção à região de Mykolaiv, mais ao oeste, onde os bombardeios se intensificaram, acrescentou.

Em Leópolis, a grande cidade do oeste que virou refúgio para os deslocados, ataques "potentes" deixaram pelo menos sete mortos na segunda-feira, informaram as autoridades locais.

Kiev informou nesta terça-feira que 76 ucranianos foram liberados em uma nova troca de prisioneiros com a Rússia, sem especificar quantas pessoas foram entregues às autoridades russas. Este é o quinto intercâmbio deste tipo desde o início da invasão.

Impacto econômico mundial

O FMI, que publica suas previsões atualizadas antes de suas reuniões da primavera boreal, espera um crescimento da economia mundial de 3,6% este ano frente ao 4,4% esperados em janeiro, antes da invasão russa.

A guerra na Ucrânia tem efeitos similares a "ondas sísmicas que emanam do epicentro de um terremoto" e obscurece as perspectivas da economia mundial, advertiu o novo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas.