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Primeiro-ministro britânico enfrenta voto de confiança do próprio partido

Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson passa por crise desde que participou de festas em meio ao lockdown - REUTERS/Hannah McKay
Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson passa por crise desde que participou de festas em meio ao lockdown Imagem: REUTERS/Hannah McKay

06/06/2022 09h35

Londres, 6 Jun 2022 (AFP) - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, abalado pelo escândalo das festas em Downing Street durante os confinamentos da pandemia, enfrentará nesta segunda-feira (6) um voto de confiança do Partido Conservador, o que pode afastá-lo do poder ou garantir sua permanência no cargo, mais ou menos enfraquecido.

Para concretizar a votação eram necessários pedidos por carta de pelo menos 15% dos 359 deputados da maioria conservadora, ou seja 54, o que foi alcançado no domingo, anunciou nesta segunda-feira Graham Brady, presidente do comitê que administra a bancada parlamentar conservadora.

Alguns parlamentares, explicou Brady, decidiram adiar o envio de seus pedidos até a conclusão do "jubileu de platina", os quatro dias de celebrações na Grã-Bretanha para marcar os 70 anos de reinado de Elizabeth II.

Johnson foi informado na noite de domingo. Ele e Graham concordaram que "seguindo as regras estabelecidas, a votação deve acontecer o mais rápido possível. O procedimento acontecerá entre 18H00 e 20H00 locais (14H00 e 16H00 de Brasília), com a apuração dos votos imediatamente em seguida.

Para vencer o voto de confiança é necessária maioria absoluta - 180 ou mais - e Johnson, que acredita em seu famoso talento para o escapismo político, discursará para os deputados conservadores durante a tarde.

Um porta-voz do primeiro-ministro afirmou que a votação é uma oportunidade de "colocar um ponto final e seguir adiante". Ele "agradece a oportunidade de expor seu caso aos parlamentares e vai recordá-los que, quando estamos unidos e concentrados nas causas que importam aos nossos eleitores, não há uma força política mais formidável" que o Partido Conservador.

E como exemplo do relevante trabalho do primeiro-ministro, sua assessoria de imprensa divulgou um longo comunicado sobre uma conversa telefônica nesta segunda-feira com o presidente ucraniano, Volodymr Zelensky, sobre a guerra com a Rússia.

Em caso de derrota do primeiro-ministro, o partido terá que organizar nas próximas semanas uma eleição interna para designar um novo líder, que será automaticamente o novo primeiro-ministro do Reino Unido.

Se Johnson vencer, ele não poderá ser objeto de outra votação de confiança durante um ano.

- "O início do fim" -O Partido Conservador tem um histórico implacável com seus líderes que deixaram de ter apelo eleitoral - incluindo Margaret Thatcher - e Johnson, que chegou ao poder de modo triunfal em 2019 quando a enfraquecida Theresa May se viu forçada a renunciar apesar de ter superado um voto de confiança, sabe bem disso.

"Não estamos oferecendo a integridade, a competência e visão necessárias aos britânicos e porque não temos mais a confiança do eleitorado (...) vamos perder as próximas eleições gerais", previstas para 2024, disse o ex-ministro Jeremy Hunt, que perdeu para Johnson a eleição pela liderança conservadora de 2019 e, desde então, aguarda este momento para concorrer novamente.

Um relatório interno sobre o "partygate" - o escândalo das festas organizadas durante os confinamentos decretados na pandemia - publicado em 25

Johnson, que apenas recebeu uma multa por ter participado em uma festa por seu aniversário de 56 anos em 19 de junho de 2020 na sala do conselho de ministros, pediu perdão e disse que "não percebeu" que o breve encontro "poderia constituir uma infração das normas".

Ele assumiu "plena responsabilidade", mas defendeu sua atuação e se negou a renunciar, alegando que tinha a responsabilidade de seguir adiante com "prioridades" como a guerra da Ucrânia e a crise pelo custo de vida, que impõe sacrifícios a muitos britânicos e afeta a popularidade do governo.

O discurso, no entanto, não convenceu muitas pessoas nem dentro de seu partido, como John Penrose, seu "czar anticorrupção", que renunciou ao cargo nesta segunda-feira por considerar "bastante claro que (Johnson) infringiu" o código de conduta oficial e também deveria renunciar.

Embora o primeiro-ministro possa sobreviver com metade mais um dos votos, ele ficaria muito enfraquecido em caso de vitória por margem estreita.

"A história nos diz que este é o início do fim", afirmou o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, à rádio LBC. "Se observarmos os exemplos anteriores de votos de confiança, mesmo quando os primeiros-ministros conservadores sobreviveram (...) o dano já está feito e normalmente caem de maneira razoavelmente rápida", ressaltou, ao recordar os casos de Thatcher e May.

acc/mar/fp