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Partido que levou presidente do Peru ao poder passa à oposição

Pedro Castillo, presidente do Peru, saindo do Congresso peruano em Lima - Angela Ponce/Reuters
Pedro Castillo, presidente do Peru, saindo do Congresso peruano em Lima Imagem: Angela Ponce/Reuters

30/06/2022 23h45

O partido marxista-leninista Peru Livre, que levou Pedro Castillo à presidência, será agora de oposição, anunciou nesta quinta-feira (30) o líder de sua bancada parlamentar, o que aumenta o isolamento do governante.

Castillo, por sua vez, renunciou à sua militância no Peru Livre, algo que a cúpula partidária havia pedido há dois dias, sob a ameaça de expulsá-lo.

"Definitivamente, não somos uma bancada governista", disse o parlamentar Waldemar Cerrón, líder da bancada e irmão do líder do partido, Vladimir Cerrón. Como expressão dessa nova posição, o parlamentar antecipou que a bancada votará hoje a favor da censura ao ministro do Interior, Dimitri Senmache.

Com 78 votos a favor, 29 contra e 8 abstenções, o Congresso aprovou a moção de censura contra Senmache, que o obriga a deixar o cargo. O Peru Livre contribuiu com 11 votos (dos 16 que tem) para destituir o ministro.

Cerrón argumentou que o Peru Livre atuará como uma "oposição propositiva", ao contrário da "oposição obstrucionista" dos partidos de direita que dominam o Congresso. "Não seremos uma bancada que estará se opondo por se opor", disse.

As diferenças entre o Peru Livre e Castillo se aprofundaram na última terça-feira, depois que o partido lhe pediu que renunciasse "irrevogavelmente" à sua militância, um passo que o presidente finalmente deu nesta quinta.

"Apresentei ao Tribunal Eleitoral Nacional [JNE, na sigla em espanhol] minha renúncia irrevogável de filiação ao partido político Peru Livre. Tal decisão se deve à minha responsabilidade como presidente de 33 milhões de peruanos", escreveu Castillo em suas redes sociais.

"Sinto respeito pelo partido e por suas bases construídas na campanha" eleitoral de 2021, acrescentou.

O Peru Livre acusa Castillo de não ter colocado em prática o programa do partido, nem cumprido suas promessas eleitorais, e fazer justamente o contrário, "implementar o programa neoliberal perdedor".

Vladimir Cerrón, um médico formado em Cuba, tuitou que a decisão era um "acordo unânime de Partido, Comissão Política e Bancada".

O conflito entre Peru Livre e Castillo ocorre no momento em que uma comissão do Congresso que investiga o presidente por corrupção irá recomendar uma acusação constitucional contra ele, o que pode acarretar um pedido de destituição do cargo, que ocupa há 11 meses.

O Peru Livre acusa Castillo de minar a "unidade e a disciplina" partidárias, após a divisão da bancada governista em três blocos. O partido conta agora com apenas 16 dos 37 parlamentares que obteve nas eleições de 2021, e se tornou a principal minoria em um Congresso onde nenhum partido tem a maioria.

Castillo, um professor rural de 52 anos, foi candidato presidencial pelo Peru Livre, partido ao qual chegou como "candidato convidado" em setembro de 2020.