Taiwan mantém o tom de desafio diante de ameaças da China por visita de Pelosi
Taiwan prosseguiu com o tom de desafio nesta quarta-feira (3) após as ameaças da China, que pretende organizar exercícios militares perto da ilha em represália pela visita da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.
A delegação de Pelosi deixou Taiwan nesta quarta-feira à noite (horário local) e seguiu para a Coreia do Sul, próxima escala em sua viagem pela Ásia.
A presidente da Câmara americana havia desembarcado em Taiwan na terça-feira, apesar das ameaças de Pequim, que considera a ilha parte de seu território e denunciou a visita como uma provocação.
Pequim afirmou que a viagem terá consequências.
"Isto é uma completa farsa. Estados Unidos violam a soberania da China sob o pretexto da chamada 'democracia'... aqueles que ofendem a China serão punidos", disse o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, à margem de uma reunião da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Phnom Penh.
O G7 das maiores economias avançadas criticou, nesta quarta-feira, a decisão da China de realizar exercícios militares perto de Taiwan.
"Não tem justificativa para usar esta visita como pretexto para uma atividade militar agressiva no Estreito de Taiwan", afirmaram os chefes da diplomacia do G7, grupo composto por Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos, em um comunicado.
As autoridades taiwanesas indicaram que durante o dia 27 aviões militares invadiram sua área de defesa aérea (maior que o espaço aéreo de um país).
Taipé, no entanto, mantém o tom desafiante diante do discurso de ameaças.
A presidente taiwanesa Tsai Ing-wen declarou que "ante as crescentes e deliberadas ameaças militares, Taiwan não recuará (...) Vamos manter a linha de defesa da democracia".
A China tenta isolar Taiwan do restante do mundo e não critica os países que mantêm uma relação oficial com a ilha.
Pelosi é a principal autoridade americana a visitar Taiwan em 25 anos.
"Nossa delegação chegou a Taiwan para deixar claro, de forma inequívoca, que não abandonaremos nosso compromisso com Taiwan e que estamos orgulhosos de nossa amizade duradoura", declarou Pelosi, de 82 anos, durante um evento com a presidente taiwanesa.
Antes de partir de Taiwan, Pelosi se reuniu com dissidentes chineses, entre eles Wu'er Kaixi, um dos líderes estudantis dos protestos pró-democracia da praça de Tiananmen em 1989, violentamente reprimidos.
Na terça-feira à noite, o ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador americano Nicholas Burns.
O vice-chanceler, Xie Feng, comunicou os "protestos veementes" de seu país e disse que "Taiwan é Taiwan da China", de acordo com a agência estatal Xinhua.
- Exercícios militares -
Ao mesmo tempo, o ministério chinês da Defesa prometeu "ações militares seletivas", com uma série de manobras militares ao redor da ilha que começarão na quinta-feira, incluindo "o disparo de munições reais de longo alcance" no Estreito de Taiwan, que separa a ilha da China continental.
Os exercícios militares representam "uma medida necessária e legítima para responder às graves provocações de alguns políticos americanos e dos independentistas taiwaneses", afirmou Hua Chunying, porta-voz da diplomacia chinesa.
Em relação à "visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são o provocador, a China é a vítima. A provocação conjunta de Estados Unidos e Taiwan aconteceu primeiro, a defesa justa da China veio depois", acrescentou.
Em alguns pontos, a zona de operações chinesas ficará a menos de 20 quilômetros da costa de Taiwan, segundo as coordenadas divulgadas pelo exército do país.
O ministério taiwanês da Defesa respondeu que os exercícios violam as águas territoriais da ilha.
"Esta é uma ação irracional que desafia a ordem internacional", afirmou o porta-voz do ministério, Sun Li-fang.
O Japão expressou preocupação com as manobras da China, que para Tóquio ultrapassam a zona de exclusão econômica.
- "Responsabilidade" -
O ministério do Comércio da China também anunciou sanções econômicas, incluindo a suspensão da exportação para Taiwan de areia natural, um componente chave para a produção de semicondutores, uma das principais exportações da ilha. E a administração alfandegária chinesa também cancelou a importação de frutas e alguns peixes de Taiwan.
China e Taiwan estão separadas de fato desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-Tung derrotaram os nacionalistas, que se refugiaram na ilha.
Washington reconheceu em 1979 o governo de Pequim como representante da China, mas prosseguiu com o apoio militar a Taiwan.
A "reunificação" da China é uma meta prioritária para o presidente chinês, Xi Jinping, que, na semana passada, disse formalmente ao presidente americano Joe Biden por telefone que evitasse "brincar com fogo".
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© Agence France-Presse
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