Ucrânia reivindica avanços em Kherson, onde a Rússia iniciou a retirada de suas tropas
A Ucrânia reivindicou, nesta quinta-feira (10), a recuperação de mais de 40 localidades no sul do país, onde as tropas russas iniciaram uma retirada da província de Kherson, considerada um novo revés para o presidente Vladimir Putin.
"Hoje temos boas notícias do sul", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, durante o seu pronunciamento vespertino diário. O presidente assinalou que 41 localidades foram "libertadas" da ocupação russa.
Além disso, os Estados Unidos anunciaram um novo pacote de ajuda de 400 milhões de dólares para Kiev, que incluirá sistemas de defesa e mísseis terra-ar. O objetivo é fortalecer a segurança da Ucrânia após os últimos ataques aéreos russos contra infraestruturas-chave.
O exército russo anunciou nesta quinta que começava a se retirar da província de Kherson. O Ministério da Defesa indicou em comunicado que suas unidades estavam se transferindo "para posições estabelecidas na margem esquerda [no leste] do rio Dnieper, conforme o plano aprovado" na véspera.
A retirada inclui a cidade de Kherson, a única capital regional tomada pela Rússia desde o início de sua ofensiva na Ucrânia no final de fevereiro.
Moscou pretende consolidar suas posições estabelecendo uma linha de defesa atrás do rio Dnieper, um obstáculo natural.
A Ucrânia recebeu o anúncio de Moscou com ceticismo. Zelensky, sugeriu que esta poderia ser uma manobra estratégica da Rússia.
"O inimigo não nos dá nenhum presente, não mostra nenhum 'gesto de boa vontade'", declarou Zelensky, afirmando que seu país reagirá com "extrema cautela".
- Silêncio no Kremlin -
"Não podemos confirmar, nem desmentir a informação sobre uma suposta retirada das tropas russas de Kherson", disse à imprensa o general Oleksiy Hromov, representante do Estado-Maior ucraniano.
Mas ele acrescentou que, de costas para o Dnieper, os russos "não tiveram escolha a não ser fugir".
Desde setembro, as tropas russas enfrentam uma grande contraofensiva de Kiev na região.
Kherson tem importância estratégica por fazer fronteira com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e era até agora o maior troféu de campanha dos russos na ofensiva iniciada em 24 de fevereiro.
Em Mykolaiv, uma grande cidade do sul da Ucrânia, localizada cerca de 100 quilômetros a noroeste de Kherson, os habitantes também expressam cautela.
"Não podemos confiar, ninguém vai nos devolver nada assim", disse Svitlana Kyrychenko, que trabalha como vendedora, à AFP.
O Kremlin não comentou o assunto e cancelou a entrevista coletiva diária de seu porta-voz nesta quinta-feira.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cujo envio de armas para a Ucrânia foi crucial, disse que a retirada da Rússia é prova de que Moscou tem "problemas reais" no campo de batalha.
A retirada das forças russas de Kherson constitui "outra vitória" para a Ucrânia, concordou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Se confirmada, a retirada seria um novo revés para Moscou, que já foi forçada a deixar a região de Kharkiv (nordeste) em setembro.
Se a Rússia perder Kherson, a Ucrânia recupera um importante ponto de acesso ao Mar de Azov e Vladimir Putin perde uma de suas maiores vitórias desde o início da ofensiva.
A retirada também expõe o restante das tropas russas na região de Kherson e levanta questões sobre a capacidade de Moscou de controlar o território, que é uma das quatro áreas ucranianas que a Rússia anunciou ter anexado em setembro.
- Conversas de paz? -
Na região de Donbass, no leste da Ucrânia, a Rússia tenta há várias semanas conquistar Bakhmut, cidade que tinha 70 mil habitantes antes da invasão.
"Nos últimos três dias [a situação] se complicou", disse Vitaly, um soldado ucraniano de 26 anos, à AFP. "Os russos estão avançando cada vez mais, embora nossos homens permaneçam em suas posições", disse ele.
Na província vizinha de Luhansk, no entanto, as tropas de Kiev avançaram "até 2 quilômetros no último dia", disse o general Hromov, representante do Estado-Maior ucraniano.
Os êxitos de Kiev revivem as especulações sobre a retomada das negociações de paz. Alguns meios de comunicação até afirmam que o Ocidente está pressionando a Ucrânia para aceitá-los.
Durante o seu pronunciamento na noite desta quinta, Zelensky insinuou que não descartava voltar à mesa de negociações se a Ucrânia recuperar todo o seu território.
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© Agence France-Presse
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