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Presidente da Câmara baixa dos EUA se reúne com líder de Taiwan, apesar de ameaças da China

O republicano Kevin McCarthy, presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, se reúne hoje com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. - TAIWAN PRESIDENTIAL OFFICE
O republicano Kevin McCarthy, presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, se reúne hoje com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. Imagem: TAIWAN PRESIDENTIAL OFFICE

05/04/2023 10h19

O republicano Kevin McCarthy, presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, recebeu, nesta quarta-feira (5), na Califórnia, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, um encontro simbólico que causa mal-estar junto à China.

"Não estamos isolados e não estamos sós", disse Tsai após a reunião. "Sua presença e apoio inabalável reafirmam ao povo de Taiwan que não estamos isolados e não estamos sós".

Tsai chegou a Los Angeles na terça-feira, depois de uma viagem diplomática a Belize e Guatemala. Ela foi recebida nesta quarta por McCarthy na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Simi Valley.

"Sou otimista de que seguiremos encontrando formas para que os povos de Estados Unidos e Taiwan trabalhem juntos para promover liberdade econômica, paz e estabilidade na Ásia", disse momentos antes McCarthy, enquanto posava para fotos ao lado da líder taiwanesa.

Com bandeiras e palavras de ordem, manifestantes pró-Pequim ou em defesa da posição de Taipé se aglomeraram em torno da Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Simi Valley, onde os dois políticos apertaram as mãos.

Um pequeno avião sobrevoou o local com um cartaz que dizia: "Uma só China! Taiwan faz parte da China!"

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse esta semana que Pequim "se opõe firmemente" à reunião com McCarthy - segunda autoridade na linha sucessória dos EUA - e alertou que seu país "defenderá firmemente sua soberania nacional e integridade territorial". 

A China considera a ilha de governo democrático e autônomo como uma província rebelde que faz parte de seu território e diz que está disposta a retomá-la até mesmo pela força, se necessário.

Sob o princípio de "uma só China", Pequim não permite que nenhum país tenha relações diplomáticas consigo e com Taiwan ao mesmo tempo. Apenas 13 países no mundo reconhecem Taiwan. 

Os Estados Unidos reconheceram Pequim em 1979, mas são um importante aliado de Taiwan e seu maior fornecedor de armas.

O apoio à ilha é um dos poucos consensos bipartidários no Congresso americano e, durante o mandato de Tsai, essa relação se fortaleceu.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, minimizou a importância da escala de Tsai na Califórnia e instou Pequim a não usar isso como "uma desculpa para avivar as tensões".

"Este trânsito de autoridades taiwanesas de alto nível não é uma novidade", afirmou ele a jornalistas em Bruxelas, onde se reuniu com líderes da Otan. "É algo privado e não oficial", acrescentou.

McCarthy planejou inicialmente seguir o exemplo de sua antecessora no cargo, a democrata Nancy Pelosi, que visitou Taiwan em agosto do ano passado. 

Essa viagem, no entanto, provocou a indignação da China, que respondeu com as maiores manobras militares de sua história ao redor da ilha. 

Por fim, McCarthy acabou optando por se encontrar com Tsai Ing-wen e vários representantes do Congresso na biblioteca do ex-presidente republicano, que fica em um subúrbio de Los Angeles.

No entanto, Xu Xueyuan, encarregada de negócios da embaixada chinesa nos Estados Unidos, disse à imprensa, na semana passada, que Washington corria o risco de um "confronto grave" se líderes americanos visitassem Taiwan ou vice-versa.  

- 'Relação de confiança' -

Para Bonnie Glaser, diretora do programa sobre a Ásia do grupo de especialistas German Marshall Fund, um 'think tank' sediado em Washington, é provável que a China sinta necessidade de continuar com a retórica anterior à visita.

"A China já fez algumas declarações bastante ameaçadoras, o que sugere que terão que responder de alguma forma. Caso contrário, Xi Jinping poderia parecer fraco", disse Glaser à AFP.

A escala de Tsai ocorre no momento em que a China está intensificando a pressão militar, econômica e diplomática sobre a democracia autônoma.

"Temos demonstrado uma firme vontade e decisão de nos defendermos, que somos capazes de administrar riscos com calma e compostura, e que temos a habilidade de manter a paz regional e a estabilidade", declarou Tsai em Nova York, antes de seguir para Los Angeles.

A América Latina tem sido um terreno disputado desde que Taiwan e China se separaram 'de facto' em 1949, ao final da guerra civil. Os comunistas tomaram o poder na China continental, enquanto os nacionalistas se estabeleceram em Taiwan. 

Apenas Belize e Guatemala permanecem aliados de Taipé na América Central, depois que Honduras passou a reconhecer formalmente Pequim no mês passado.

rfo-pr/ll/atm/aa/ic/mvv/rpr

© Agence France-Presse