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Junta militar de Mianmar confirma ataque aéreo mortal contra vilarejo

15.fev.2021 - Soldados de Mianmar se movimentam durante manifestação, em Yangun, Mianmar - REUTERS
15.fev.2021 - Soldados de Mianmar se movimentam durante manifestação, em Yangun, Mianmar Imagem: REUTERS

11/04/2023 10h01

A junta militar de Mianmar confirmou ter realizado na terça-feira (11) um ataque aéreo contra uma aldeia no centro do país, que provocou dezenas de mortes e muitas críticas internacionais.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou que está "horrorizado" com a ação, que matou menores de idade e outros civis. 

O balaço do ataque, que aconteceu na manhã de terça-feira no distrito remoto de Kanbalu, na região de Sagaing, ainda é incerto.

O serviço birmanês BBC, The Irrawaddy e Radio Free Asia relataram pelo menos 50 mortos e dezenas de feridos neste ataque contra o vilarejo de Pazi Gyi.

Uma fonte vinculada às milícias antigolpe Força de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês) declarou à AFP que o número de mortos pode superar 100, incluindo mulheres e crianças.

A junta militar confirmou o ataque, mas não divulgou o balanço de mortes.

O porta-voz do governo, Zaw Min Tun, afirmou que a ação aconteceu durante a abertura de um escritório das PDF, grupos que lutam contra a junta militar desde o golpe militar de 2021.

Ele disse que alguns mortos podem ser combatentes antigolpe fardados, mas admitiu que "pode haver algumas pessoas em trajes civis".

"De acordo com as informações do terreno que temos, pessoas morreram não apenas por nosso ataque. Houve algumas minas plantadas pelas PDF na área", disse Zaw Min Tun, acrescentando que a ação militar atingiu uma área de armazenamento de pólvora e minas.

Uma fonte das forças de segurança afirmou à AFP que um caça e um helicóptero de combate foram mobilizados para o ataque.

Mianmar é cenário de um conflito violento entre a junta militar e seus opositores desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro de 2021, que derrubou a governante civil Aung San Suu Kyi.

- Clima de medo -

O ataque, um dos mais violentos executados pela junta, aconteceu pouco antes das celebrações do Thingyan, o Ano Novo birmanês, que duram vários dias. 

"Isto reforça o clima de medo. Haverá mais relutância em organizar grandes eventos devido ao risco de bombardeios", declarou Phil Robertson, vice-diretor da Human Rights Watch para a Ásia.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou o ataque e "reiterou seu apelo ao Exército para encerrar a campanha de violência contra a população birmanesa", afirmou em um comunicado de seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

Os Estados Unidos também se declararam "profundamente preocupados" com o ataque, que "ressalta ainda mais o desprezo do regime pela vida humana e sua responsabilidade pela terrível crise política e humanitária em Mianmar", disse o porta-voz da diplomacia americana, Vedant Patel.

Os vídeos supostamente filmados no local do ataque - cuja autenticidade não foi possível comprovar - mostram corpos em um terreno devastado, no qual restava apenas a estrutura de um prédio destruído pela explosão.

No momento do ataque, dezenas de pessoas estavam no local para a inauguração de uma unidade das forças de defesa locais.

O Governo de Unidade Nacional de Mianmar, um Executivo paralelo formado por ex-parlamentares do partido da líder civil destituída Aung San Suu Kyi, condenou o que chamou de "ato de ódio".

O comandante da junta militar, Min Aung Hlaing, condicionou a realização das eleições que prometeu desde que tomou posse ao restabelecimento da "paz e estabilidade" no país. Em fevereiro, a junta reconheceu que um terço do país está fora de seu controle.

Uma organização local de defesa dos direitos humanos calcula em mais 3.200 o número de vítimas fatais da repressão da junta militar desde o golpe, enquanto o exército ofereceu um saldo de mais de 5.000, cujas mortes atribui a seus oponentes.

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© Agence France-Presse