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'Conto com você para trazer Rússia à razão', diz Macron a Xi em Pequim

6.abr.2023 - Emmanuel Macron e Xi Jinping em encontro bilateral em Pequim para tratar de negócios entre a China e a França - LUDOVIC MARIN/AFP
6.abr.2023 - Emmanuel Macron e Xi Jinping em encontro bilateral em Pequim para tratar de negócios entre a China e a França Imagem: LUDOVIC MARIN/AFP

06/04/2023 09h29Atualizada em 06/04/2023 14h22

O presidente francês Emmanuel Macron pediu nesta quinta-feira (6) em Pequim o apoio do homólogo chinês Xi Jinping para "trazer a Rússia à razão" a respeito do conflito na Ucrânia, ao mesmo tempo que os dois pediram negociações de paz "o mais rápido possível".

Macron chegou na quarta-feira a Pequim para uma visita de três dias e afirmou de maneira clara que seu objetivo é dissuadir a China de apoiar a invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

"Sei que posso contar com você para trazer Rússia à razão e levar todos de volta à mesa de negociações", afirmou o chefe de Estado francês durante uma reunião bilateral com Xi.

Em uma declaração conjunta à imprensa após o encontro, que aconteceu a portas fechadas, os dois líderes reafirmaram o apelo por negociações de paz entre Kiev e Moscou "o mais rápido possível".

Ambos também reafirmaram a oposição ao uso de armas nucleares no conflito.

"Não podem usar armas nucleares", disse o presidente chinês, que condenou os ataques a civis e qualquer "uso de armas biológicas e químicas".

Moscou descarta mediação

O Kremlin, no entanto, rapidamente esfriou a situação ao descartar a possibilidade de mediação chinesa, apesar da relação estratégica entre as duas potências.

"Claro que a China dispõe de um potencial formidável e eficaz para serviços de mediação", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em Moscou.

"Mas a situação com a Ucrânia é complexa e, no momento, não há perspectiva de uma solução política", por isso "não temos outra solução que seguir com a operação especial", acrescentou, utilizando a expressão que as autoridades russas empregam para descrever a ofensiva na Ucrânia.

Após as declarações à imprensa, Macron e Xi iniciaram uma reunião trilateral com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

"Contamos com a China para não entregar equipamentos militares à Rússia, direta ou indiretamente, porque sabemos que armar o agressor seria contrário às leis internacionais e prejudicaria consideravelmente nossa relação", afirmou a chefe do Executivo da União Europeia.

Von der Leyen considera que a postura chinesa sobre a guerra será um "fator determinante" para o futuro da relação do país com a UE.

Macron também pediu a Xi que "não entregue nada à Rússia que possa ser utilizado em sua guerra contra a Ucrânia", afirmou um diplomata francês que acompanho a reunião.

A pressão internacional aumentou nas últimas semanas para que a China, aliada estratégica da Rússia, se envolva na resolução do conflito.

Embora Pequim se declare oficialmente neutro, o governo chinês não condenou a invasão russa da Ucrânia e Xi Jinping não conversou com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

O presidente chinês declarou que isto vai acontecer quando chegar o momento, segundo o diplomata francês.

Xi visitou Moscou em março para uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin, a quem apresentou um documento para uma solução política em 12 pontos elaborada por Pequim.

Contexto regional tenso

"Do lado chinês, o que temos no momento são declarações absolutamente clássicas", declarou à AFP o analista Antoine Bondaz, da Fundação Francesa para a Pesquisa Estratégica.

"Está claro que a China não se movimentou. O objetivo é que a China faça o que diz, o que não é o caso no momento", acrescentou.

A visita de Macron e Von der Leyen coincide com um novo período de tensão na área de Taiwan após o encontro na Califórnia entre a presidente da ilha, Tsai Ing-wen, e o presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy.

Pequim prometeu "medidas firmes" após a reunião. A ilha de governo autônomo anunciou a detecção de três navios de guerra e um helicóptero antissubmarino chinês perto de seu território.

A China considera Taiwan parte de seu território e está disposta a retomar o controle, inclusive pela força. As autoridades de Pequim rejeitam qualquer contato entre as autoridades da ilha e outros países.