Jejum extremo de seita no Quênia deixa 89 mortos
O balanço macabro de vítimas continua aumentando na floresta de Shakahola, no leste do Quênia, onde foram encontrados nesta terça-feira (25) mais 16 corpos de membros de uma seita que promovia o jejum extremo, o que eleva o total a 89 mortos.
O número, que inclui crianças, é provisório. Os investigadores trabalham em uma floresta de 325 hectares, que fica próxima da cidade costeira de Malindi, em busca de valas comuns.
A terrível descoberta provocou uma onda de indignação no país e o presidente William Ruto prometeu medidas contundentes contra aqueles que "utilizam a religião para promover seus atos atrozes".
Durante uma visita ao local de buscas, o ministro do Interior, Kithure Kindiki, alertou que o número de vítimas pode aumentar. "Não sabemos quantas valas comuns, quantos corpos encontraremos", disse.
Ele acrescentou que 34 pessoas foram encontradas vivas na floresta. Kindini citou a possibilidade de indiciar por "terrorismo" Paul Mackenzie Nthenge, o "pastor" da chamada Igreja Internacional das Boas Novas (Good News International Church), que promovia o jejum entre seus seguidores para "conhecer Jesus".
- Necrotério lotado -
"A maioria dos corpos exumados é de crianças", afirmou à AFP um legista que pediu anonimato
A fonte disse ainda que foram encontradas valas com até seis pessoas.
Diante da chegada em larga escala de corpos, o necrotério do hospital local está lotado, disse à AFP Said Ali, diretor do estabelecimento. Ele informou que os funcionários pediram à Cruz Vermelha que envie contêineres refrigerados.
As equipes continuam procurando sobreviventes, em uma luta contra o tempo.
"A cada dia que passa, há uma chance muito grande de que outras pessoas morram", disse Hussein Khalid, diretor executivo da ONG Haki África, que alertou a polícia sobre as ações do líder do grupo.
"O horror que vimos nos últimos quatro dias é traumático. Nada te prepara para ver covas rasas com crianças dentro", acrescentou.
De acordo com a Cruz Vermelha queniana, 212 pessoas foram registradas como desaparecidas.
Muitos quenianos acusam as autoridades policiais e judiciárias de não terem atuado antes. Paul Mackenzie Nthenge já havia sido detido em duas ocasiões, a última delas em março deste ano, após um caso em que duas crianças morreram de fome.
Mas ele foi liberado depois de pagar uma fiança de 700 dólares.
O taxista que virou "pastor" em 2003 se entregou à polícia em 14 de abril e comparecerá a uma audiência com um juiz no dia 2 de maio.
A tragédia reacendeu um debate sobre o controle do culto religioso no Quênia, um país predominantemente cristão, onde os "pastores", as "igrejas" e outros movimentos religiosos marginais estão frequentemente nos noticiários.
Para o ministro do Interior, este massacre deve conduzir "não apenas a uma punição mais severa para o autor ou autores de atrocidades (...) mas também a uma regulamentação mais rigorosa de cada igreja, mesquita, templo ou sinagoga no futuro".
bur-sva/emd/meb/zm/fp
© Agence France-Presse
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