Vila no Brooklin afunda após obras em São Paulo
Em São Paulo
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Clayton de Souza/Estadão Conteúdo
Parede rachada em casa localizada na rua Doutor Armando Poci, no Brooklin, zona sul de São Paulo
Cercada por cinco torres construídas a menos de 50 metros de distância, uma vila dos anos 1960 no Brooklin, na zona sul de São Paulo, afundou. São 17 casas com rachaduras nas paredes, trincas nos muros e moradores desesperados.
Eles culpam a Brookfield, responsável por erguer dois prédios de 26 andares cada e dois andares de garagens no subsolo, ao lado dos imóveis danificados. A empresa nega.
Moradores contam que, com o afundamento, o esgoto das casas retorna pelos ralos quase todos os dias. Portas fecham sozinhas e é visível o desnível entre o piso da sala e o chão do quintal em algumas casas. O asfalto da rua está repleto de crateras.
Perícia feita por uma empresa de engenharia, contratada pelos donos das casas danificadas, aponta que o condomínio vizinho Brooklin Park, da Brookfield, inaugurado em agosto de 2010, rebaixou o lençol freático e, por isso, causou o solapamento da vila da Rua Doutor Armando Poci, uma travessa da movimentada Rua Arizona, ao lado da Marginal do Pinheiros.
Outras casas na rua Conceição de Monte Alegre também estão com rachaduras. "O laudo aponta que a Brookfield faz a drenagem do lençol freático para evitar umidade nas garagens. Isso já rebaixou o lençol em 7,5 metros, o que abalou a estrutura das casas", afirma o engenheiro Cristiano Ribeiro da Luz, proprietário de um sobrado da vila. O imóvel está vazio e com muros prestes a desabar. "Ninguém quer alugar uma casa nessa situação", conta Luz.
O drama dos moradores se arrasta desde 2008, quando começou a construção Brooklin Park. Durante parte da obra dos prédios, a Brookfield alugou casas para os moradores da vila. A promessa da incorporadora era entregar todos os imóveis reformados e sem danos, com a estrutura reforçada.
"Era para ficarmos só quatro meses nas casas alugadas. Ficamos quase um ano e meio. Na volta, as casas estavam reformadas, com novas fundações, conforme combinado. Só que, seis meses depois, as rachaduras voltaram a aparecer", relata Bojena Roszczewski, de 66 anos.
Nova obra
Quando as rachaduras voltaram a aparecer nos sobrados recém-reformados, em dezembro, um outro condomínio já estava com as fundações sendo erguidas a 15 metros dali. Os moradores acionaram a Subprefeitura de Pinheiros, mas o efeito foi reverso: os fiscais interditaram quatro casas com a estrutura abalada. Não houve nenhuma autuação na nova obra vizinha, mantida pela construtora Paula Eduardo, ou no condomínio Brooklin Park.
Os proprietários entraram na Justiça. No dia 11 de março, a 6.ª Vara Cível, a pedido do morador Afonso José do Nascimento, de 70 anos, funcionário da Prefeitura, embargou a obra da Paula Eduardo. Oito dias depois, a incorporadora conseguiu reverter a decisão judicial e retomar a construção.
Nascimento também buscou o Ministério Público Estadual contra a nova obra, mas um parecer do órgão afirma que a Paula Eduardo não pode ser responsabilizada porque "as rachaduras e outros problemas relacionados ao rebaixamento do lençol freático são preexistentes à execução das fundações do edifício da construtora."
"Nós fotografamos todas as casas antes do início da obra, e todas já estavam com rachaduras. Independentemente disso, mandei fazer alguns pequenos reparos nas casas, depois que moradores nos procuraram. Mas isso nem era nossa responsabilidade", afirma o empresário Edmundo de Paula Eduardo, um dos sócios da construtora.
A Brookfield informou que "todos os reparos necessários nas residências vizinhas ao empreendimento foram realizados na época de sua construção, assim que as demandas foram identificadas." A empresa afirma "não ter feito rebaixamento do lençol freático", como acusa a perícia contratada pelos vizinhos.
A incorporadora também diz não ter recebidos reclamações recentes dos moradores. "Todas as ocorrências sobre o empreendimento datam do período anterior à sua entrega", informa, por meio de nota, a assessoria de imprensa da Brookfield.
A empresa diz que atualmente mantém o aluguel de apenas um dos moradores de uma casa danificada. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".