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'Vi a morte na minha frente', diz sobrevivente de chacina

15/08/2015 08h45

São Paulo - "Estou vivo por um milagre de Deus." A reação é de um sobrevivente do ataque na Rua Professor Sud Menucci, em Helena Maria, em Osasco. Apenas ele e a vítima, o adolescente Rodrigo Lima da Silva, de 16 anos, estavam no local, uma lanchonete, no momento do crime.

Testemunhas relatam que, por volta das 20h50, um veículo prata parou ao lado da calçada. Um homem, com o rosto coberto por um capuz, desceu. Outro criminoso ficou a postos no volante para garantir a fuga. Nessa hora, o comércio estava quase vazio. Rodrigo estava em uma cadeira, de frente para a rua.

Dentro da lanchonete, o sobrevivente viu tudo. "O homem olhou para ele de cima a baixo, com a mão escondida na cintura. Como quem diz 'esse aqui vai', só puxou a arma e atirou", conta. Dois disparos acertariam Silva: um no olho, o outro na boca. A ação foi rápida. Nenhuma palavra foi dita antes dos tiros. O corpo da vítima ficou esparramado de bruços até a manhã do dia seguinte.

Tomado pelo susto, a reação do sobrevivente foi levantar as mãos e virar de costas. Um sinal de que não queria identificar o assassino. Por causa da adrenalina, restaram na memória apenas flashes do ocorrido. Uma das cenas, lembra, foi quando o criminoso apontou a arma na sua direção, com o braço ligeiramente envergado, como quem vai atirar. O dedo, diz, encostou no gatilho, mas o disparo não veio. "Eu vi a morte na minha frente."

A vítima era o caçula de seis irmãos e costumava frequentar a lanchonete, onde, segundo familiares, jogava fliperama e tomava sorvete. "Ele nunca deu problema com a polícia, gostava de ficar em casa com a mulher, que está grávida de três meses", afirma a empregada doméstica Viviane de Lima, de 27 anos, irmã de Rodrigo.

Rodrigo morava em uma rua próxima e costumava se locomover de bicicleta. No dia em que foi morto, esperava passar um caminhão pela rua para pegar uma carona. Quando o corpo foi recolhido pelo serviço funerário, a mãe dele passou mal e precisou ser levada para um hospital.

A menos de dois quilômetros dali, aconteceria o maior dos ataques registrados em série. Em um bar localizado na Rua Antônio Benedito Ferreira, em Munhoz Junior, já no limite com Barueri, as pessoas foram surpreendidas por dois carros e uma motocicleta. Ao menos três criminosos desceram do veículo, também encapuzados, e balearam dez pessoas. Apenas duas sobreviveram.

Oito mortos

Ainda em choque, um morador da região conta que, por muito pouco, também não se tornou uma das vítimas. "Eu estava no bar pouco antes de tudo acontecer. Estavam todos bebendo e jogando", diz. Segundo testemunhas, funcionavam máquinas caça-níquel no estabelecimento.

Minutos antes de o local ser invadido, ele resolveu beber em um bar ao lado, que estava vazio. Pouco depois, só ouviria o barulho dos disparos. "Foram vários tiros, com certeza mais de 30", disse.

Em meio aos disparos no bar vizinho, ele e o dono do estabelecimento correram para a entrada para descer o portão de ferro. Depois, os dois se esconderam atrás de caixas de cerveja, deitados no chão.

Segundo conta, a ação dos bandidos durou cerca de dez minutos. "A gente só abriu o portão porque ouviu pessoas que chegavam e começavam a chorar e a gritar. Já estavam todos mortos no bar. Pegaram gente lá no fundo, queriam limpar mesmo", conta. "Nunca aconteceu isso aqui."

Outro morador também escapou por pouco. "Eu estava com vontade de tomar um lanche, então fui até o bar", diz. No local, comprou pão e refrigerante, depois seguiu para casa.

Ele estava a menos de 15 metros do estabelecimento quando criminosos pararam o carro. "Foi tudo muito rápido, questões de segundos." Ao perceber que os bandidos estavam atirando, o morador largou as sacolas na calçada e saiu correndo. Entre as vítimas, estava um tio dele, que, bêbado, dormia na mesa do bar ao ser baleado. Ele ainda está no hospital. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Vingança por morte de policiais é principal linha de investigação