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Rio tem 5.900 sem aula; polícia age em morro para onde traficantes da Rocinha teriam fugido

25.set.2017 - No 4º dia de cerco à Rocinha, militares das Forças Armadas seguem patrulhando acessos - Gabriel Paiva/Agência O Globo
25.set.2017 - No 4º dia de cerco à Rocinha, militares das Forças Armadas seguem patrulhando acessos Imagem: Gabriel Paiva/Agência O Globo

Constança Rezende

Rio

25/09/2017 10h18Atualizada em 25/09/2017 13h34

O Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) está no Morro do Turano, no Rio Comprido, zona norte do Rio de Janeiro, desde o início da manhã desta segunda-feira (25). O morro dá acesso para a mata da Floresta da Tijuca, onde a polícia suspeita que os criminosos envolvidos nos confrontos na Rocinha, zona sul, tenham utilizado como rota de fuga.

Em decorrência das operações policiais na capital fluminense, unidades escolares na Rocinha, Vila Canoas (São Conrado), Vidigal, Gávea, Turano e Morro do Urubu não estão funcionando nesta segunda, segundo a Secretaria Municipal de Educação. Ao todo, são ao menos 5.923 alunos sem aula --dez escolas, dez creches e três EDIs (Espaços de Desenvolvimento Infantil). No Jacarezinho, as escolas estão funcionando.

O Batalhão de Choque da Polícia Militar realiza operação na Rocinha e equipes das Forças Armadas continuam no local. Durante a manhã, não foram registrados tiroteios na favela.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS-PE), afirmou hoje que a Rocinha vive momento de "estabilidade" depois das operações militares e do cerco iniciado na tarde de sexta-feira (22). "Há uma estabilização de ontem para cá [domingo para segunda-feira] dentro da comunidade da Rocinha. Os tiroteios que foram reportados anteriormente não eram entre facções, e sim entre polícia e bandidos", disse em entrevista à rádio "CBN".

Na comunidade de Vila Vintém, há policiais do 14º Batalhão de Polícia (Bangu). O morro é dominado pela facção Amigo dos Amigos (ADA), a mesma que comanda a Rocinha. De acordo com a polícia, criminosos da região participaram dos confrontos na Rocinha, no último dia 17.

Depois de quase uma semana de tiroteios no Rio, as Forças Armadas foram chamadas na última sexta para cercar a Rocinha --a mais conhecida comunidade da capital fluminense--, diante do reconhecimento de que o Estado perdeu o controle no confronto entre grupos de traficantes rivais.

Ao todo, 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão mobilizados, além de dezenas de blindados e helicópteros. Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3.000 homens, estão prontos, caso a situação se agrave.

Disputa de traficantes

A atual onda de intensos tiroteios na Rocinha começou no domingo, dia 17, quando o chefe do tráfico de drogas no morro, Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157, se desentendeu com o seu antecessor, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso desde 2011.

Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério 157 e teria tentado expulsar o seu grupo da favela, por meio de ordens dadas de dentro da prisão. A relação pode ter piorado depois da união da ADA com a facção paulista PCC. Já Rogério teria matado aliados de seu antecessor e mandado expulsar Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, do morro.

Em represália, Nem teria incitado criminosos da ADA de outros morros, como Vila Vintém, Morro dos Macacos e São Carlos a tentar retomar a favela. A tentativa, porém, foi frustrada, e Rogério continua no alto do morro, segundo informações da polícia. Danúbia, que é foragida e ostenta em redes sociais alto poder aquisitivo, também estaria no local. Os dois corpos carbonizados encontrados pela polícia seriam do grupo de Rogério.

Na segunda-feira passada (18), o porta-voz da Polícia Militar do Rio, major Ivan Blaz, e o delegado-titular da 11ª DP (Rocinha), Antônio Ricardo, admitiram que sabiam que poderia haver confronto entre traficantes na Rocinha no dia anterior. Blaz afirmou que a Polícia Militar não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores. Já Ricardo acrescentou que não sabia que o confronto, que durou cinco horas, "seria desta proporção".

Na quarta-feira (20), o governador do Rio afirmou que soube na madrugada do domingo que haveria confronto entre traficantes e pediu que a polícia não interviesse, o que causou polêmica.