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Após uma semana, Forças Armadas desmontam cerco e deixam a Rocinha

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

29/09/2017 06h17Atualizada em 29/09/2017 11h36

As Forças Armadas deixaram nesta sexta-feira (29) a favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, que tem sido palco de uma disputa entre traficantes rivais pelo controle do tráfico de drogas. Segundo o CML (Comando Militar do Leste), a retirada das tropas que atuaram no cerco à comunidade começou ainda durante a madrugada, por volta das 4h, e foi concluída às 8h.

Em apoio à Polícia Militar, os militares estavam na Rocinha desde a última sexta-feira (22). O cerco montado na região foi uma resposta do Estado aos tiroteios diários que, na semana passada, deixaram ao menos quatro mortos.

Com a saída das tropas federais, a função de estabelecer a ordem e a segurança na Rocinha caberá às polícias Militar e Civil. Já nesta manhã, homens da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) realizam uma operação na favela a fim de localizar e prender criminosos, além de apreender armas e drogas. Ainda não há balanços parciais da ação.

"A polícia reassumiu todo o seu papel. Há uma situação de normalidade no policiamento", afirmou o coronel Roberto Itamar, porta-voz do Comando Militar do Leste.

Apesar do discurso oficial de que a situação na comunidade teria sido estabilizada, houve novo tiroteio na noite de quinta-feira (28). De acordo com a PM, militares do Batalhão de Choque trocaram tiros com seis homens "fortemente armados". Um suspeito foi atingido e encaminhada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento da Localidade), mas acabou morrendo. No mesmo dia, dois adolescentes de 16 anos foram torturados por traficantes em um dos becos da Rocinha por suspeitarem que eles pertencessem a um grupo rival, segundo a polícia.

Ainda na quinta-feira, o ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS-PE), anunciou a retirada das Forças Armadas. Na visão dele, os militares cumpriram a missão designada e não havia mais necessidade de permanência na região. "Os bandidos que lá estavam conseguiram passar para outras comunidades próximas, então não fazia sentido permanecer com todo esse efetivo, mas sim deslocar o efetivo para outras comunidades, outros lugares onde eles possam ser devidamente capturados."

"Mas montamos um esquema pelo qual em duas horas, se houver algum problema na Rocinha e formos acionados, poderemos voltar", disse.

No total, quase mil homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica atuaram na operação de cerco à comunidade, que conta com aproximadamente 80 mil moradores.

Disputa entre traficantes

Os confrontos na Rocinha se intensificaram depois de uma tentativa de invasão, em 17 de setembro, quando criminosos leais ao ex-chefe do tráfico Antônio Bonfim Lopes, o Nem, atacaram o bando de Rogério Avelino da Silva, o Rogério Avelino da Silva, que passou a ditar as ordens na favela após a prisão do antecessor, em 2011.

O objetivo de Nem, que cumpre pena em Porto Velho (RO), é retomar o controle das bocas de fumo. Mesmo detido e fora do Estado, ele continua a dar ordens na quadrilha. Já o ex-aliado e agora rival, Rogério 157, está foragido e é procurado pela polícia. Na quinta-feira (28), forças especiais da PM fizeram uma operação no Complexo da Maré, conjunto de favelas da zona norte da cidade, após denúncias de que o traficante poderia estar escondido nas favelas Nova Holanda e Parque União. Ele não foi encontrado.

Até a noite de quinta, as forças de segurança prenderam 24 suspeitos durante as ações na Rocinha. Também foram apreendidos 25 fuzis, 14 granadas e sete bombas de fabricação caseira, segundo informou a Secretaria de Estado de Segurança Pública. Três suspeitos foram mortos durante confrontos entre policiais e criminosos.

Em uma semana de cerco, segundo o órgão estadual, a delegacia da Rocinha (11ª DP) conseguiu identificar 59 suspeitos de participação na tentativa de invasão à comunidade. (Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

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