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Coaf relata movimentação atípica de ex-assessor de Flávio Bolsonaro

7.out.2018 - Flavio e Jair Bolsonaro durante votação  no Rio - Fernando Souza/AFP
7.out.2018 - Flavio e Jair Bolsonaro durante votação no Rio Imagem: Fernando Souza/AFP

Fabio Serapião e Constança Rezende

Brasília

06/12/2018 13h00

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de um ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) - filho mais velho do presidente eleito Jair Bolsonaro - entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

O documento, destaca o jornal O Estado de S. Paulo, foi anexado pelo Ministério Público Federal à investigação que deu origem à Operação Furna da Onça, realizada no mês passado e que levou à prisão dez deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Fabrício José Carlos de Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 15 de outubro deste ano. Registrado como assessor parlamentar, Queiroz é também policial militar e, além de motorista, atuava como segurança do deputado.

O Coaf informou que foi comunicado das movimentações de Queiroz pelo banco porque elas são "incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira" do ex-assessor parlamentar.

O relatório também cita que foram encontradas na conta transações envolvendo dinheiro em espécie, embora Queiroz exercesse uma atividade cuja "característica é a utilização de outros instrumentos de transferência de recurso".

O nome de Queiroz consta da folha de pagamento da Alerj de setembro com salário de R$ 8.517. Ele era lotado com cargo em comissão de Assessor Parlamentar III, símbolo CCDAL- 3, no gabinete de Flávio Bolsonaro. Conforme o relatório do Coaf, ele ainda acumulava rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar.

Funcionários

Nem Flávio Bolsonaro nem o seu ex-motorista foram alvo da operação que prendeu dez deputados fluminenses, deflagrada no dia 8 de novembro. O Ministério Público Federal investiga o envolvimento dos parlamentares estaduais em um esquema de pagamento de "mensalinho" na Assembleia.

Queiroz foi citado na investigação porque o Coaf mapeou, a pedido dos procuradores da República, todos os funcionários e ex-servidores da Alerj citados em comunicados sobre transações financeiras suspeitas.

Para traçar um padrão entre as movimentações financeiras, em parte utilizadas para pedir a prisão de funcionários da Alerj, o Coaf organizou os dados em uma lista com 22 nomes. O motorista de Bolsonaro é o 20.º no documento de 422 páginas que reúne informações sobre R$ 200 milhões em transações realizadas em contas de funcionários da Alerj. Na conta em nome de Queiroz, o Coaf identificou a movimentação de R$ 1,2 milhão no período de 12 meses.

O Coaf é a unidade responsável por monitorar e receber todas as informações dos bancos sobre transações suspeitas ou atípicas. Pela lei, os bancos devem informar qualquer transação que não siga o padrão do cliente. Quando a transação é em dinheiro, o banco informa sempre que o valor for igual ou superior a R$ 50 mil.

Michelle Bolsonaro

Uma das transações na conta de Queiroz citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A compensação do cheque em favor da mulher do presidente eleito, Jair Bolsonaro, aparece na lista sobre valores pagos pelo PM.

"Dentre eles constam como favorecidos a ex-secretária parlamentar e atual esposa de pessoa com foro por prerrogativa de função - Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil", diz o documento do Coaf.

Ao longo de um ano, o órgão também encontrou cerca de R$ 320 mil em saque na conta mantida pelo motorista do filho de Bolsonaro. Desse total, R$ 159 mil foi sacado numa agência bancária no prédio da Alerj, no centro do Rio. Também chamou a atenção dos investigadores as transações realizadas entre Queiroz e outros funcionários da Assembleia. O documento lista todas as movimentações e seus destinatários ou remetentes.

Os técnicos do órgão também receberam informações sobre transações consideradas pelo órgão como suspeitas após janeiro de 2017. Segundo o Coaf, entre fevereiro e abril do ano passado, o banco comunicou sobre dez transações "fracionadas" no valor total de R$ 49 mil que poderia configurar uma "possível tentativa de burla aos controles".

"A conta teria apresentado aparente fracionamento nos saques em espécie, cujos valores estão diluídos abaixo do limite diário. Foi considerado fator essencial para a comunicação pela possibilidade de ocultação de origem/destino dos portadores", afirma o relatório do Coaf.

Defesas

Procurado para se manifestar sobre o relatório do Coaf, o policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz respondeu que não sabe "nada sobre o assunto".

A chefia de gabinete de Flávio Bolsonaro afirmou que Queiroz trabalhou por mais de dez anos como segurança e motorista do deputado, "com quem construiu uma relação de amizade e confiança".

A assessoria afirmou ainda que o filho mais velho do presidente eleito, Jair Bolsonaro, não tem "informação de qualquer fato que desabone" a conduta do ex-assessor parlamentar.

"No dia 16 de outubro de 2018, a pedido, ele foi exonerado do gabinete para tratar de sua passagem para a inatividade", informou o gabinete, por meio de nota.

Além de motorista e segurança, Queiroz era um dos principais assessores do deputado estadual e agora senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL). Ele chegou a acompanhar o parlamentar em agendas de campanha do pai do deputado, o então presidenciável Jair Bolsonaro.

Reserva

Fabrício de Queiroz era vinculado ao gabinete parlamentar de Flávio Bolsonaro com cargo em comissão de Assessor Parlamentar III, símbolo CCDAL - 3.

Após a exoneração de Queiroz da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), foi publicada, no último dia 21 de novembro, a transferência do ex-assessor para a reserva remunerada da Polícia Militar, como subtenente, após 35 anos de serviços prestados.

Procurada pela reportagem, a assessoria de Jair Bolsonaro não respondeu sobre o assunto, nem sobre o cheque no valor de R$ 24 mil que teria sido destinado a Michelle Bolsonaro. A futura primeira-dama não foi localizada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.