Moradores tiveram de abandonar casas; sirene de alerta não tocou, segundo relatos
As ruas de Brumadinho --a pequena cidade ao lado de Belo Horizonte, mais conhecida por abrigar o Instituto Inhotim-- foram tomadas pelo desespero. Parte dos moradores teve de deixar suas casas por causa do avanço da lama, vinda do rompimento da barragem da Vale; outros corriam atrás de notícias sobre parentes e amigos desaparecidos, em meio a boatos de todos os tipos. Uma pousada foi destruída pela onda de lama, segundo os bombeiros. E relatos indicam que as sirenes de alerta da mina não funcionaram na hora do acidente.
"Foi tudo muito rápido. Momento de pânico, pessoas assustadas. Parecia cena de filme. Se pudesse já teria ido embora daqui. Isso vai ser um inferno", disse Maria Aparecida dos Santos, emocionada.
"Há poucos meses, técnicos estiveram aqui na cidade para passar instruções da sirene. Falaram que, em caso de emergência, iria tocar. Mas não foi bem assim." Presidente da Vale, Fabio Schvartsman disse à imprensa no Rio que não sabia "se sirene funcionou".
No centro da cidade, a mineradora montou um gabinete de crise, que tinha filas por informações. "Estamos agoniados", contou a dona de casa Márcia Oliveira, que esperava ontem à tarde informações sobre o irmão e sobrinhos. "Disseram para gente vir para cá, mas não falam nada." Equipes recolhiam nomes de desaparecidos.
O município ficou inteiramente mobilizado. Gerilda Dalabrida, de 60 anos, cedeu espaço do seu restaurante para desabrigados. "A cidade está um pandemônio", disse. "Estamos seguros porque não estamos perto do rio." A lama não chegou ao centro - a área mais atingida foi o povoado da Vila Ferteco.
Segundo o tenente Pedro Aihara, dos Bombeiros, uma pousada com 38 pessoas - entre hóspedes e funcionários - desapareceu sob a lama. "A área da pousada, que costumava receber muitos hóspedes, incluindo famosos, foi varrida pela força dos rejeitos." Ontem, a família não sabia o paradeiro doe Márcio Mascarenhas, dono do local. "Estamos em busca de informações do meu tio, mas ainda não há pistas. Um pesadelo", disse o sobrinho Plínio.
Nas redes sociais, se espalhavam publicações sobre desaparecidos - principalmente os cerca de 300 funcionários, que estavam na mina e no refeitório da Vale na hora da tragédia. Em Brumadinho, havia relatos de dificuldade de comunicação. "Estamos aflitas. Escuto o rádio e não sabemos da minha irmã", disse ao Estado ontem à noite a jovem Pâmela Silva.
A prefeitura pediu aos moradores que evitassem o leito do Paraopeba, rio que passa pela região e ameaçado pelo fluxo de lama. Até o início da noite de ontem, os Bombeiros não confirmavam que os rejeitos tivessem atingido o curso de água.
A seis km do local, o campo de futebol de uma faculdade foi usado por helicópteros dos Bombeiros e da polícia. Em um galpão ao lado, foi montada estrutura para atendimento médico de emergência. "No local (do acidente) teremos só uma estrutura emergencial, já que lá falta água, energia e o acesso é complicado", diz o major Santiago, da PM.
Imagens da TV mostraram resgatados com vida, cobertos de lama. Cinco feridos foram para o Hospital João XXIII, unidade de referência da capital e mais oito hospitais da Grande BH foram acionadas em caráter de emergência. Na quadra onde estavam as famílias será montado um abrigo temporário.
Na cidade vizinha, Mário Campos, PMs orientaram moradores de três bairros a deixarem suas casas, pela proximidade com o Paraopeba. Ao menos outros quatro municípios - Juatuba, Betim, Pará de Minas e São Joaquim de Bicas - estão em alerta. A Companhia de Saneamento de Minas (Copasa) assegurou que o abastecimento de água na Grande Belo Horizonte não será prejudicado. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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