Maia diz que não aceitará ataques do Executivo contra Legislativo
Após ter rompido publicamente com o líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO), por críticas que teriam sido feitas por ele ao Congresso, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não irá mais aceitar um tratamento desrespeitoso por parte de representantes do governo em relação ao Legislativo.
Maia evitou responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro pelo comportamento, mas disse que ele dá "sinais trocados".
Sobre o episódio com o líder do governo, Maia afirmou não ter ficado "zangado com ninguém", mas voltou a dizer que uma charge compartilhada por Vitor Hugo há cerca de dois meses no grupo de Whatsapp do PSL, atacou a Câmara institucionalmente e foi "desrespeitosa".
A mensagem associava a negociação do governo com o Congresso a sacos de dinheiro. Maia teve acesso à sátira.
"A publicação é desrespeitosa, mas não foi só ele. Tem secretários de alguns ministérios que também postaram e nós não vamos aceitar esse tipo de tratamento de alguns membros do poder Executivo e seus representantes em relação ao poder Legislativo", disse.
Vitor Hugo, porém, afirmou que a intenção da charge não era ser um ataque ao Parlamento, mas sim, uma forma de chamar atenção sobre a percepção que a sociedade tem do deputados e senadores.
"A minha exortação no grupo do PSL era para que a gente conseguisse mudar a percepção da sociedade em torno de nós parlamentares. Parte da população brasileira só acredita que há diálogo com emendas ou dinheiro envolvido. A existência da charge expressa o que uma parte da população pensa sobre o Congresso", explicou.
Maia, porém, afirmou não estar preocupado com o líder do governo e nem com o governo. "Estamos preocupados com o povo brasileiro", disse. Ele ressaltou que a Câmara dará demonstração de responsabilidade quando aprovar a reforma da Previdência em junho ou julho.
"Conheço a pauta da Câmara, tenho diálogo com todos os líderes. Quem escolhe o líder do governo é o presidente, não estou aqui para discutir líder do governo", disse.
O presidente da Câmara disse ainda nunca ter tido uma relação com Vitor Hugo, mas ressaltou que ele poderá continuar indo às reuniões de líderes realizadas tanto na Câmara quanto na residência oficial.
"Continuei sem ter [relação com Vitor Hugo] a partir de março depois que eu vi qual é a opinião que um deputado tem do próprio Parlamento. Mas ele participa das reuniões de líderes aqui, quando tiver reuniões maiores na minha residência, ele pode participar, já participou de reuniões que eu não convidei e eu nunca expulsei ninguém, não tem problema nenhum", disse.
Vitor Hugo, por outro lado, afirmou que sempre buscou estabelecer pontes com o presidente da Casa, mas sempre sentiu um certo distanciamento. O deputado disse também que as críticas foram feitas à forma como Maia estava conduzindo as decisões sobre a pauta da Casa, em reuniões com um pequeno grupo de líderes apenas.
Apesar de Maia ter dito que não haveria mais diálogo com ele, Vitor Hugo acredita que o rompimento não é completo.
"Acho que só foi evidenciado o que já acontecia. Não é bom para ninguém que o presidente da Câmara e o líder do governo não compartilhem ideias, não cheguem a um meio termo que seja ideal para a pauta da Câmara", disse e completou afirmando que irá "esperar a poeira baixar" para procurar Maia para uma conversa.
Ataques. Questionado sobre se os ataques partiam de Bolsonaro ou se eram endossadas por ele, Maia afirmou que o presidente dá sinais trocados em relação ao Congresso. O deputado, no entanto, afirmou ser positivo quando o presidente apoia publicamente a reforma da Previdência.
Sem citar episódios específicos, ele disse também que a reforma da Previdência só vai garantir investimentos do setor privado se "vivermos em uma democracia". "Se não estivermos vivendo em uma democracia, vai acontecer como na Venezuela, em que os empresários foram embora", disse.
Manifestação. Sobre as manifestações convocadas para o próximo domingo em favor do governo e de Bolsonaro, Maia afirmou que manifestações e críticas "são sempre muito bem-vindas quando respeitam o Estado Democrático de Direito".
"Quando elas passam desse tom, não estou dizendo que essas vão passar, aí passa a ser uma manifestação com um objetivo ruim para a democracia brasileira e a relação entre os Poderes", disse. "Manifestações podem criticar o Parlamento sem nenhum problema, contanto que respeite o estado democrático de Direito, nossas instituições para que o Brasil continue sendo uma democracia", completou.
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