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Presidente dos Correios ignora demissão e diz que só sai após ordem oficial

General Juarez Cunha, presidente dos Correios -  Romério Cunha/VPR
General Juarez Cunha, presidente dos Correios Imagem: Romério Cunha/VPR

Anne Warth, Luci Ribeiro e Vianey Bentes, especial para a AE

Brasília

18/06/2019 11h40

Virtualmente demitido pelo presidente Jair Bolsonaro na sexta (14), num café da manhã com jornalistas, o presidente dos Correios, general da reserva Juarez Aparecido de Paula Cunha, foi trabalhar normalmente na segunda, e, em vez de limpar as gavetas, avisou para um auditório lotado que não sai até a formalização da demissão

Só vou sair daqui a hora que chegar oficialmente. Aí eu saio, senão, não saio, não
Juarez Aparecido de Paula Cunha, presidente dos Correios

Terminou a palestra aplaudido e vestindo boné de carteiro. O evento, fechado à imprensa, mas ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, foi justamente sobre o tema que causou a ira do presidente e sua decisão de demitir o general: a privatização da estatal.

Aos jornalistas Bolsonaro havia dito que tinha anunciado a venda da empresa e Cunha tinha falado o oposto no Congresso, agindo como "sindicalista".

Na véspera do anúncio da demissão, o general havia sido presenteado pela Superintendência dos Correios do Amazonas com um selo personalizado, que ostenta sua fotografia.

Na imagem, Cunha aparece junto a um prédio da estatal e do Teatro Amazonas, principal cartão-postal da capital Manaus. Foram impressos 12 desses selos. Os Correios dizem que outros funcionários e personalidades já foram homenageados da mesma forma. Exemplo: o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. Não consta que Bolsonaro tenha o seu.

Selo com a imagem do general Juarez Cunha, presidente dos Correios - Reprodução/Estadão Conteúdo - Reprodução/Estadão Conteúdo
Selo com a imagem do general Juarez Cunha, presidente dos Correios
Imagem: Reprodução/Estadão Conteúdo

O evento em que o general disse que só sai depois da formalização da demissão ocorreu na tarde de ontem. Horas depois, à noite, o porta-voz da Presidência, o também general Otávio do Rêgo Barros, afirmou que o presidente ainda não decidiu quando vai efetivar a demissão nem nomear o substituto do general.

Na apresentação desta segunda, o general insistiu no tema privatização. Disse que a decisão sobre a venda do controle da empresa é uma promessa de campanha de Bolsonaro e "ele tem que cumprir", mas acrescentou que esse será um processo muito longo, que pode durar anos.

O general afirmou que havia se comprometido a lutar contra a privatização, mas "até um certo limite".

"No momento em que há uma decisão, esse assunto é de responsabilidade do governo." "Já que há uma decisão para que esse processo aconteça", segundo o general, o melhor que os funcionários podem fazer é receber bem os responsáveis pelos estudos da privatização, de forma a fazer um "controle de danos" e "procurar contribuir, acompanhar e defender nossos interesses".

'Serenos'

Cunha foi ovacionado ao levantar o moral dos servidores: "Os Correios não vão acabar, ninguém vai acabar com a empresa e mandar todos os funcionários embora". "Vamos ficar serenos, encarar com naturalidade, sem ninguém se estressar."

Ele disse que a equipe econômica está preocupada com a preservação dos direitos dos funcionários e com o futuro da própria empresa. "Não querem que, lá no futuro, a coisa venha a se deteriorar novamente."

Segundo o general, o modelo a ser adotado na privatização ainda não foi definido. "Uma parte da empresa poderá fazer abertura de capital. Nada disso está definido: como fazer, o tipo de privatização, se é que vai acontecer. Vejam, existem muitos passos aí pela frente, muitos passos", afirmou.

E novamente insistiu. "Sobre o tempo que isso leva? Não sei, eu também não sei. É um caminho muito longo", reconheceu, ressaltando que "não é hora de se estressar e perder noites de sono". "Por isso não temos que nos preocupar com grande antecedência. Não se desgastem com isso."

O general encerrou recomendando aos empregados que continuem buscando bons resultados para tentar influenciar na decisão do governo. "Temos que mostrar que somos uma empresa sólida, que não precisamos do orçamento do governo, tudo isso será considerado quando do processo de privatização", afirmou. "Temos que trabalhar de perto e contribuir para a defesa dos nossos empregados, buscando influenciar nesse aspecto."

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.